A comissão que apura o affaire Cachoeira acaba de
mostrar a sua verdadeira disposição para dar início aos seus trabalhos,
deixando de aprovar a convocação para depor de importantes autoridades lembradas
nessa sujeira do submundo das negociatas respaldadas por esquemas da corrupção.
Nesse contexto, ficaram de fora dos palcos mediáticos das investigações os três
governadores que se destacaram com possível envolvimento com o pivô do
escândalo em causa, que não precisam explicar suas relações suspeitas com as
falcatruas arquitetadas pelo bicheiro goiano e seus asseclas. A aludida
comissão apenas decidiu quebrar os sigilos da empresa Delta, com relação às
suas operações na região Centro-Oeste, embora haja suspeita de atividades irregulares
em todo país, com enfoque, principalmente, na execução de obras do famigerado
Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, filho mais famoso da presidente da
República. Na ocasião, foram quebrados os sigilos de pessoas sem foro
privilegiado que assessoravam o bicheiro e já foram investigadas pela Polícia
Federal. Como não poderia fugir à regra, o PT e o PMDB comandaram os trabalhos
da CPI, que estabeleceram as normas que resultaram em decisões satisfatórias
aos seus interesses, tendo alguns deputados petistas declarados que "Nós não vamos fazer devassa" e
"A generalização cheira a devassa".
Os participantes da reunião tiveram a indelicadeza de fazer acordão,
principalmente entre caciques do PT, PMDB e PSDB, para blindar os governadores de
Goiás, do Rio de Janeiro e do Distrito Federal, além de preservar a Delta
nacionalmente, que é contratada pelo governo federal. Confirmando essa
assertiva, veja-se o texto transmitido por um deputado do PT ao governador do
Rio de Janeiro: "A relação com o
PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu (sic)".
O certo é que essa comissão nem começou a apurar coisa nenhuma, mas já patenteia
triste rastro de incompetência e de inoperância, deixando de convocar os
suspeitos de peso e mirando seus trabalhos em pessoas de pequena importância,
dando a entender que ela segue a cartilha dos principais partidos e tomam as
decisões ao sabor e à orientação políticos que interessam a essas agremiações,
em absoluto detrimento da finalidade precípua da sua institucionalização. Não
deixa de ser vergonhoso que os políticos se esquivem, embora tendo excelente
oportunidade, de apurar denúncias tão graves que envolvem os meandros de
governos corruptos e desonestos. Ora, não deixa de ser um contrassenso o
Planalto pretender revelar a verdade do passado, com relação aos crimes que
violaram direitos humanos, quando, agora, se acovarda em abdicar da apuração do
rombo causado por essa enorme cachoeira, dando a entender que a criação dessa “famosa”
comissão tem servido notadamente para desviar as atenções da opinião pública e
da mídia de assuntos polêmicos, como o caso do julgamento do escândalo do
mensalão e da própria verdade sobre o vergonhoso caso Cachoeira, como forma de
consagrar o já arraigado princípio da impunidade aos corruptos, instituído com
sucesso por esse governo. A sociedade deve repugnar as atitudes desrespeitosas
à dignidade e honorabilidade que se exigem de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito, que tem como princípio o dever constitucional da investigação dos
fatos denunciados, com vistas às medidas necessárias ao saneamento das impropriedades
apontadas e às penalidades cabíveis aos culpados, independentemente ao foro privilegiado
das autoridades envolvidas, como forma de moralização deste país. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 17 de maio de 2012
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