sexta-feira, 18 de maio de 2012

A farsa

A comissão que apura o affaire Cachoeira acaba de mostrar a sua verdadeira disposição para dar início aos seus trabalhos, deixando de aprovar a convocação para depor de importantes autoridades lembradas nessa sujeira do submundo das negociatas respaldadas por esquemas da corrupção. Nesse contexto, ficaram de fora dos palcos mediáticos das investigações os três governadores que se destacaram com possível envolvimento com o pivô do escândalo em causa, que não precisam explicar suas relações suspeitas com as falcatruas arquitetadas pelo bicheiro goiano e seus asseclas. A aludida comissão apenas decidiu quebrar os sigilos da empresa Delta, com relação às suas operações na região Centro-Oeste, embora haja suspeita de atividades irregulares em todo país, com enfoque, principalmente, na execução de obras do famigerado Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, filho mais famoso da presidente da República. Na ocasião, foram quebrados os sigilos de pessoas sem foro privilegiado que assessoravam o bicheiro e já foram investigadas pela Polícia Federal. Como não poderia fugir à regra, o PT e o PMDB comandaram os trabalhos da CPI, que estabeleceram as normas que resultaram em decisões satisfatórias aos seus interesses, tendo alguns deputados petistas declarados que "Nós não vamos fazer devassa" e "A generalização cheira a devassa". Os participantes da reunião tiveram a indelicadeza de fazer acordão, principalmente entre caciques do PT, PMDB e PSDB, para blindar os governadores de Goiás, do Rio de Janeiro e do Distrito Federal, além de preservar a Delta nacionalmente, que é contratada pelo governo federal. Confirmando essa assertiva, veja-se o texto transmitido por um deputado do PT ao governador do Rio de Janeiro: "A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu (sic)". O certo é que essa comissão nem começou a apurar coisa nenhuma, mas já patenteia triste rastro de incompetência e de inoperância, deixando de convocar os suspeitos de peso e mirando seus trabalhos em pessoas de pequena importância, dando a entender que ela segue a cartilha dos principais partidos e tomam as decisões ao sabor e à orientação políticos que interessam a essas agremiações, em absoluto detrimento da finalidade precípua da sua institucionalização. Não deixa de ser vergonhoso que os políticos se esquivem, embora tendo excelente oportunidade, de apurar denúncias tão graves que envolvem os meandros de governos corruptos e desonestos. Ora, não deixa de ser um contrassenso o Planalto pretender revelar a verdade do passado, com relação aos crimes que violaram direitos humanos, quando, agora, se acovarda em abdicar da apuração do rombo causado por essa enorme cachoeira, dando a entender que a criação dessa “famosa” comissão tem servido notadamente para desviar as atenções da opinião pública e da mídia de assuntos polêmicos, como o caso do julgamento do escândalo do mensalão e da própria verdade sobre o vergonhoso caso Cachoeira, como forma de consagrar o já arraigado princípio da impunidade aos corruptos, instituído com sucesso por esse governo. A sociedade deve repugnar as atitudes desrespeitosas à dignidade e honorabilidade que se exigem de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que tem como princípio o dever constitucional da investigação dos fatos denunciados, com vistas às medidas necessárias ao saneamento das impropriedades apontadas e às penalidades cabíveis aos culpados, independentemente ao foro privilegiado das autoridades envolvidas, como forma de moralização deste país. Acorda, Brasil! 

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 17 de maio de 2012

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