O
ilustre desconhecido relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
declarou que "Se houve cooptação e
corrupção de alguns atores da mídia, isso deve ser investigado" e
ainda que "não há tema proibido"
nos trabalhos da comissão. Ele disse que irá analisar os inquéritos da Polícia
Federal antes de tomar posição "sobre
a participação de qualquer pessoa, não só da mídia" na suposta
organização criminosa objeto das apurações, que "é preciso individualizar condutas" e que a CPI deverá apurar
suspeitas que recaem sobre "membros
da imprensa, membros do empresariado brasileiro, membros do Congresso Nacional,
agentes de governos municipais e estaduais e agentes do governo federal".
Quanto à convocação de governadores suspeitos para depor em maio, o relator disse
não haver indícios suficientes para justificar a medida. "Se ficar evidenciado cooptação e corrupção,
este tema dos governadores deve ser tratado por nós [da CPI]". Toda
essa armação teatral da criação de comissão parlamentar, constituída por
elementos sabidamente manipuláveis pelo Planalto, para cumprir rigorosamente o
script oficial, não passa de despiste destinado ao desvio da atenção da mídia
de situações de maior gravidade que afeta o governo, em especial o rumoroso
caso do mensalão, que vinha sofrendo forte pressão da imprensa e da sociedade
para ser finalmente julgado pelo Supremo Tribunal Federal, cujo procedimento há
de escancarar o esquema criminoso e deprimente concebido e mantido pelo Partido
dos Trabalhadores, para a compra de votos de parlamentares no Congresso
Nacional, com a finalidade de aprovação dos projetos palacianos. Naturalmente
que, não sendo o STF cobrado para exercer o quanto antes a sua competência
constitucional de julgar o mensalão, há enorme possiblidade de prescrição dos
crimes pertinentes e é exatamente isso que o governo quer, aliado ao fato de que
este ano tem eleições para o cargo de prefeito, cujo processo não pode ser
prejudicado pela exposição prolongada das sujeiras desse escândalo. Agora, essa
ideia de apurar a atuação da imprensa não passa de ridícula e sórdida forma de
ameaça, com a finalidade de impedir que os fatos irregulares e corruptos dos
políticos sejam denunciados e publicados, para conhecimento da sociedade. Na
verdade, não fossem a existência da liberdade de imprensa e a possibilidade de
investigação independente, certamente que seriam inviáveis as denúncias dos
malfeitos e das roubalheiras dos recursos públicos pelos maus políticos e o
poder destruidor das quadrilhas ganhariam maior abrangência e jamais seriam
apurados e punidos os atos de rapinagem. Por sua vez, não deixa de ser odiosa a
tentativa da blindagem de autoridades, no caso, os governadores, sob a alegação
de que ainda não há indícios sobre a sua participação nos procedimentos
denunciados, bem assim de censurar a imprensa, principalmente quando ela se
torna competente em apontar as falcatruas dos políticos ou do governo. A
sociedade seria enormemente prejudicada se não houvesse atuação livre e transparente
da imprensa, com poder impar de mostrar os fatos desonestos dessa classe
desajustada e interessada em dilapidar o erário. A imprensa somente é
verdadeira se houver liberdade plena para falar, dizer e escrever os fatos que
estão acontecendo num país e sua credibilidade se conquista e se fortalece com
a exposição da verdade e da dignidade de informar e, para tanto, não pode haver
qualquer espécie de ameaça ou coação. A sociedade anseia por que a CPMI tenha
as indispensáveis sabedoria, competência e discernimento para investigar
profundamente os fatos criminosos objeto da sua criação, não importando as
pessoas, autoridades e empresas envolvidas nem as circunstâncias, tendo por
finalidade a depuração das denúncias e a possibilidade de punições severas aos
culpados, como modelo para se evitar a reincidência de fatos semelhantes, sem
embargo do fortalecimento da atividade da imprensa sempre livre para continuar
prestando valioso serviço de denunciar os fatos delituosos, mesmo que eles
sejam praticados pelas más pessoas públicas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 04 de maio de 2012
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