sexta-feira, 4 de maio de 2012

Por que a mídia?

O ilustre desconhecido relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito declarou que "Se houve cooptação e corrupção de alguns atores da mídia, isso deve ser investigado" e ainda que "não há tema proibido" nos trabalhos da comissão. Ele disse que irá analisar os inquéritos da Polícia Federal antes de tomar posição "sobre a participação de qualquer pessoa, não só da mídia" na suposta organização criminosa objeto das apurações, que "é preciso individualizar condutas" e que a CPI deverá apurar suspeitas que recaem sobre "membros da imprensa, membros do empresariado brasileiro, membros do Congresso Nacional, agentes de governos municipais e estaduais e agentes do governo federal". Quanto à convocação de governadores suspeitos para depor em maio, o relator disse não haver indícios suficientes para justificar a medida. "Se ficar evidenciado cooptação e corrupção, este tema dos governadores deve ser tratado por nós [da CPI]". Toda essa armação teatral da criação de comissão parlamentar, constituída por elementos sabidamente manipuláveis pelo Planalto, para cumprir rigorosamente o script oficial, não passa de despiste destinado ao desvio da atenção da mídia de situações de maior gravidade que afeta o governo, em especial o rumoroso caso do mensalão, que vinha sofrendo forte pressão da imprensa e da sociedade para ser finalmente julgado pelo Supremo Tribunal Federal, cujo procedimento há de escancarar o esquema criminoso e deprimente concebido e mantido pelo Partido dos Trabalhadores, para a compra de votos de parlamentares no Congresso Nacional, com a finalidade de aprovação dos projetos palacianos. Naturalmente que, não sendo o STF cobrado para exercer o quanto antes a sua competência constitucional de julgar o mensalão, há enorme possiblidade de prescrição dos crimes pertinentes e é exatamente isso que o governo quer, aliado ao fato de que este ano tem eleições para o cargo de prefeito, cujo processo não pode ser prejudicado pela exposição prolongada das sujeiras desse escândalo. Agora, essa ideia de apurar a atuação da imprensa não passa de ridícula e sórdida forma de ameaça, com a finalidade de impedir que os fatos irregulares e corruptos dos políticos sejam denunciados e publicados, para conhecimento da sociedade. Na verdade, não fossem a existência da liberdade de imprensa e a possibilidade de investigação independente, certamente que seriam inviáveis as denúncias dos malfeitos e das roubalheiras dos recursos públicos pelos maus políticos e o poder destruidor das quadrilhas ganhariam maior abrangência e jamais seriam apurados e punidos os atos de rapinagem. Por sua vez, não deixa de ser odiosa a tentativa da blindagem de autoridades, no caso, os governadores, sob a alegação de que ainda não há indícios sobre a sua participação nos procedimentos denunciados, bem assim de censurar a imprensa, principalmente quando ela se torna competente em apontar as falcatruas dos políticos ou do governo. A sociedade seria enormemente prejudicada se não houvesse atuação livre e transparente da imprensa, com poder impar de mostrar os fatos desonestos dessa classe desajustada e interessada em dilapidar o erário. A imprensa somente é verdadeira se houver liberdade plena para falar, dizer e escrever os fatos que estão acontecendo num país e sua credibilidade se conquista e se fortalece com a exposição da verdade e da dignidade de informar e, para tanto, não pode haver qualquer espécie de ameaça ou coação. A sociedade anseia por que a CPMI tenha as indispensáveis sabedoria, competência e discernimento para investigar profundamente os fatos criminosos objeto da sua criação, não importando as pessoas, autoridades e empresas envolvidas nem as circunstâncias, tendo por finalidade a depuração das denúncias e a possibilidade de punições severas aos culpados, como modelo para se evitar a reincidência de fatos semelhantes, sem embargo do fortalecimento da atividade da imprensa sempre livre para continuar prestando valioso serviço de denunciar os fatos delituosos, mesmo que eles sejam praticados pelas más pessoas públicas. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 04 de maio de 2012

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