O
símbolo da campanha eleitoral e da trajetória do presidente da Repúblicas é o
posicionamento dos dedos polegares e indicadores direcionados para cima, em simulação
a arma de fogo, fazendo lembrar a meteórica tragédia causada pela Covid-19.
Há
exatamente um ano, em 25 de fevereiro de 2020, morria, no Brasil, a primeira
vítima da Covid-19 e as manchetes dos jornais destacavam como principal notícia:
“Brasil tem 1º caso de coronavírus”.
O
homem objeto dessa notícia tinha 61 anos, que regressara da Itália, país considerado
epicentro da doença.
Ele
também foi o primeiro caso confirmado na América Latina.
Se
passou um ano e o Brasil registra 10 milhões de habitantes contaminados pela
Covid-19, em curva ascendente e acelerada da doença, desde o fim de 2020.
Convém se registrar,
como fato extremamente lamentável, que, na véspera do aniversário
da primeira vítima fatal da doença, o Brasil enterrava, com intensos pesar e
dor no coração, a sua 250.000ª vítima da Covid-19.
Mal
comparando, é como se as cidades de Cajazeiras, Patos e Souza, na Paraíba,
fossem condenadas, juntas, à perda da sua população, em apenas um ano, sob a condenação
da sua supressão do mapa e ficassem sem ninguém.
Convém
que esse terrível registro fique guardado na memória das gerações de brasileiros,
para que esse triste episódio nunca seja esquecido, de modo que, no futuro, se
mantenha nos museus, em homenagem e memória às vítimas da Covid-19, as fotos,
os nomes, as imagens e as frases ditas pelas pessoas incumbidas direta e
indiretamente por essa monstruosidade.
Certamente
ela não seria tão alarmante se tivessem havido sensibilidade e compreensão, no
que diz ao sentimento humano, sobre a real gravidade da mortífera pandemia.
Não
se pode esquecer que a pandemia foi indevida e perigosamente relativizada, desde
seu início até o presente momento, mesmo sendo preocupantes os sintomas da
grande tragédia, ante à constatação do seu diagnóstico.
Não
obstante, havia quem vaticinasse, no âmbito da infinita sabedoria do Palácio do
Planalto, “apostando” que, no Brasil, haveria
de morrer bem menos gente por coronavírus do que por gripe comum, cujo
prognóstico apenas evidenciava o tamanho da má vontade para se cuidar de doença
indiscutivelmente destruidora, conforme mostram os resultados da atualidade.
Não
há negar que há pessoa do governo que prefere creditar à divulgação dos
estragos da doença e dos riscos de contaminação a mera conspiração para
derrubar ou prejudicar o presidente brasileiro.
Na
atualidade, qualquer notícia que não seja do agrado do governo, no que se
refere à pandemia, funciona como algo para sacanear e prejudicar a reeleição do
presidente, que não pensa em mais nada senão nela, o que não passa de idiotice
levada pela supressão da inteligência.
A
verdade é que a história e a memória hão de contar e lembrar a tragédia que vem
acontecendo, dia após dia, na forma da experiência tenebrosa estampada em cada internação,
cada ferida, cada trauma e cada corpo, que apenas faz parte de drama humano que
tem sido verdadeiro e não se sabe quando será o seu fim.
É
preciso lembrar sim que o presidente da República, próximo da confirmação do
primeiro caso de morte de brasileiro, disse, ipsis litteris: “No meu
entender, está superdimensionado o poder destruidor desse vírus. Então talvez
esteja sendo potencializado até por questão econômica, mas acredito que o
Brasil, não é que vai dar certo, já deu certo.”.
Não
conformado somente com o sentimento de pessoa forte, corajosa e valente no
enfrentamento da Covid-19, diferentemente dos fracos que não resistiram à ação letal
da doença, o presidente brasileiro já teve oportunidade de declarar muitas
pérolas sobre a pandemia, que certamente hão de passar para a história da
República, conforme as que foram selecionadas e transcritas a seguir:
“No meu entender, há
muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande
mídia propala ou propaga pelo mundo todo”.
“Não podemos entrar
numa neurose como se fosse o fim do mundo”.
“Pode ter aproveitamento
político em cima disso, a gente não quer pensar nisso daí, mas tem que ter
calma. Vai passar. Desculpa aqui, é como uma gravidez, um dia vai nascer a
criança. E o vírus ia chegar aqui um dia, acabou chegando.”
“Depois da facada, não
vai ser uma gripezinha que vai me derrubar”. “O brasileiro precisa ser
estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando esgoto ali. Ele sai,
mergulha e não acontece nada com ele”. “Vem aí a cloroquina na área. Na região
norte, (a quantidade de infectados) tá pequena. Grande parte (da população) usa
(cloroquina) pra malária. Está vacinada (sic)”. “O coronavírus parece que está
começando a ir embora”. “Eu não sou coveiro”. “E daí? Lamento. Quer que eu faça
o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”. “Quem for de direita, toma
cloroquina; quem for de esquerda, toma tubaína”. “No meu entender, houve uma
propaganda muito forte em cima disso. Trouxe o pavor para o seio da família
brasileira”. “A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”.
A
essa lista de declarações absurdas somam-se outras estapafúrdias tiradas do
presidente do país, a respeito da vacinação, como, em especial, a repulsa ao distanciamento
social e ao uso de máscara, como medida de combate ao contágio da Covid-19.
O
presidente do país já insinuou que era preciso combater a pandemia “como
homens”, não como “bundões” ou “maricas”, o que bem demonstra
a insensibilidade humana para se cuidar de pandemia, onde se exige, no mínimo,
respeito à dignidade das pessoas.
Mesmo
diante de completa crise na saúde pública, por força da gravidade imposta pelo
coronavírus, dois ministros da Saúde foram dispensados pela porta da descarga,
sendo que, na atualidade, o Ministério da Saúde se encontra acéfalo, uma vez que
é comandado por general especialista em almoxarifados, fato este que bem
demonstra a completa insensibilidade e irresponsabilidade gerenciais, quando,
em situação de grave pandemia, a saúde dos brasileiros merecia ser tratada por pessoa
qualificada e entendida de sanitarismo.
Eram
dois médicos que, por certo, tinham melhores condições para cuidar da saúde dos
brasileiros, quando a crise ainda era passível de controle e nada mais sensato
do que o especialista em medicina ou sanitarismo para comandar o ministério incumbido
da execução das políticas pertinentes.
O
balanço que se tem nesse ano de convivência com muitas mortes causadas pela Covid-19,
em quantidade assustadora de 250 mil vítimas, viu-se muita incompetência, má fé
de governadores, prefeitos e autoridades, que levaram o tempo tentando
minimizar os efeitos da tragédia, desdenharam das mortes e claudicaram na adoção
das medidas necessárias à imunização da população, que é a única e segura maneira
de salvação de vidas humanas.
É
evidente que o país que tem governante capaz de demonstrar insensibilidade humana
diante do caos da saúde pública, representado por tantas mortes e ainda ter deixado
de priorizar a principal política de combate à Covid-19, por meio da imunização,
conforme a mais extraordinária desorganização jamais vista no país, precisa que
seu povo se conscientize quanto à real valorização dos princípios humanitários,
de modo que a vida humana mereça tratamento especial e de qualidade, porque ela
ascende em tudo, em termos de preferência da administração pública.
Brasília, em 25 de fevereiro de 2021
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