Hoje,
o presidente da República deve ser só sorriso de alto a baixo, com as vitórias
de seus candidatos às presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,
segundo a imprensa, à custa do esforço do Palácio do Planalto, que se empenhou
ao máximo com o oferecimento de cargos e emendas parlamentares para os
congressistas.
Sem
muita demora, o Centrão, que faz parte da aliança com o governo, já se
antecipou, tendo apresentado a fatura, com a cobrança ao presidente, por ter ajudado
a eleger os candidatos apoiados pelo Palácio do Planalto, dos cargos prometidos.
Já
se sabe que a principal promessa do presidente ao Centrão foi a passagem da
chave do Ministério da Cidadania ao Republicanos, partido da base do
presidente da Câmara, que já tem até nome favorito para o posto e espera assumi-lo,
o quanto antes.
Há
notícia de que os partidos integrantes do Centrão estão querendo, além da
Cidadania, que já foi definido, os Ministérios da Saúde e Indústria, sendo que este
precisa ser recriado, além do Ministério da Educação.
Em que pesem as
cobranças por ministérios, o presidente estuda, na tentativa de minimizar o desgaste
junto à sua base mais radical, sob possíveis acusações de que ele teria cedido ao
indigno e vergonhoso "toma lá, dá cá", o que é completamente
inevitável, promover mudanças, para o atendimento das exigências do Centrão, de
maneira espaçadas, mediante a distribuição dos ministérios, como se diz no
popular, de conta-gotas, para que a desmoralização do seu governo não seja tão
flagrante e vergonhosa.
A
entrega de ministérios ao Centrão, grupo político duramente criticado pelo
candidato à Presidência da República, que o considerava a antipolítica brasileira,
é algo extremamente ridículo e patético, por mostrar a total perda de caráter
do homem público, por se dignar a mudar de ideia diante de situação que pode
resultar em prejuízo aos seus interesses políticos, no caso de iminente
impeachment.
Ou
seja, o Centrão participa em coalizão com o governo exatamente porque ele pode
garantir a permanência do presidente no cargo, que vem sendo ameaçado de
impeachment, que poderia ser factível sem o acordo espúrio com esse grupo que
defende o fisiologismo como princípio e que os governos sem moralidade terminam
se submetendo às exigências dele, o que, na prática, a instituição da fraqueza
moral no governo, por contar, nas suas estruturas com políticos declaradamente
avessos aos princípios da ética e da moralidade.
A
propósito, convém ser trazido à lume, com o fito apenas de refrescamento da memória,
mensagem pronunciada pelo candidato, quando ainda defendia a dignidade na administração
pública, em demonstração de repugnância aos abutres que se aproveitavam de
recursos públicos, nestes termos: “Nenhum presidente é maior do quer
o seu ministério. O segredo para bem administrar o Brasil é você botar as pessoas
certas nos ministérios certos. O que vem sendo feito ao longo dos últimos anos?
O presidente indica os seus ministros de acordo com interesses político-partidários.
Tem tudo para não dar certo. Qual é a nossa proposta: é indicar as pessoas certas
para os ministérios certos. Por isso, não integramos o Centrão. Tampouco estamos
na esquerda de sempre. Vamos escalar as pessoas certas, porque assim você
poderá, de verdade, ter saúde, educação e segurança.”.
As
palavras bastantes claras do então candidato à Presidência da República mostram
o pensamento de muita lucidez de homem público que sabia perfeitamente distinguir
o certo do errado na administração do Brasil, quando ele tinha a precisa
consciência de que era errada a indicação de ministros apenas por interesse
político-partidário, possivelmente diante do entendimento de que os ministérios
entregues aos cuidados dos partidos levariam a sua gestão para a exclusiva orientação
dessas agremiações, que passam a imprimir a sua política de interesse
partidário, sem a menor vinculação mais com as orientações do governo,
exatamente como eram no passado, em que somente as regiões de maior influência
do titular da pasta merecem a execução dos melhores projetos, em termos de
melhoramento com recursos públicos.
A
verdade é que a entrega de ministérios aos partidos políticos termina com a integridade
de comando e orientação do presidente do país, porque ele não pode mais
interferir nos ministérios partilhados, como espécie de capitania hereditária,
em que o domínio do órgão passa para o partido, que tem total autonomia sobre as
atividades de incumbência dele.
Essa
forma de distribuição de ministério, conforme disse o candidato, no auge da
campanha eleitoral, realmente não pode dar certo, exatamente porque o principal
reflexo surge com a prestação dos serviços de incumbência dele, que passará a
ser de péssima qualidade, porque o partido aquinhoado não tem nenhum compromisso
com a população, senão com os próprios interesses, o que é bem diferente quando
o presidente indica o ministro da sua confiança.
É
bem de se ver que os titulares dos ministérios não são mais “as pessoas certas
para os ministérios certos”, porque, com o Centrão tendo a chave dos
ministérios, os ministros passam a ser indicados pelo aloprado grupo, que vai
indicar pessoas da sua preferência, normalmente político despreparado e sem nenhum
compromisso com o interesse público, fato este extremamente recriminável, porque
isso só demonstra extrema irresponsabilidade da gestão pública, que abandona a
responsabilidade de zelar pela coisa pública.
À
toda evidência, é extremamente vergonhosa a espúria aliança do governo com o abominável
Centrão, por evidenciar a degeneração da moralidade da administração pública, ainda
mais agora, que o presidente acaba de entregar a alma ao diabo, com os esforços
para a eleição dos presidentes das Casas do Congresso Nacional, quando se
obrigou a partilhar entre partidos os principais órgãos do Executivo, em
consentimento da desorganização e da esculhambação dos serviços públicos,
diante da certeza da péssima prestação dos serviços de incumbência do Estado,
que já eram precários e a tendência agora é de simples piora.
É
bem possível que os fiéis seguidores do presidente do país possam alegar que,
sem a imoral e indigna aliança com o Centrão, não é possível governar o Brasil,
porque falta apoio no Congresso, o que não é verdade, porque as instituições são
independentes, em termos de competência e finalidade, tendo o dever de cada qual
cumprir a sua obrigação institucional.
O
que o governo precisa, sobretudo, são de competência e eficiência no exato
cumprimento das suas funções institucionais, ao executar rigorosamente as atribuições
inerentes à agenda presidencial e mandando para o Congresso os projetos que
possam satisfazer o interesse público, ficando a cargo do Legislativo o dever aprová-los
ou não, conforme as suas conveniências, sem necessidade de ninguém ficar
brigando como ratos e gatos, na medida em que cada poder da República se
encarregue de observar e cumprir as suas obrigações constituições e legais.
No
caso de algum poder deixar de cumprir com o seu dever institucional, o outro poder
tem todo direito de informar aos brasileiros que tal projeto não pôde ser
executado porque ele não foi apreciado nem aprovado por quem de direito e
pronto, ficando este último com a responsabilidade de assumir o ônus por deixar
de satisfazer o interesse público, sem necessidade alguma de agressões e
desavenças entre autoridades da República, cujo resultado normalmente terminava
em prejuízo para a população.
Enfim,
urge que os brasileiros conscientes da integral degeneração dos princípios republicanos
da legalidade e da moralidade, repudiem, com veemência, a estranha aliança firmada
entre o Executivo e o Centrão, por haver evidente prejuízo ao interesse público,
diante da notória índole fisiológica desse grupo, que é suspeito de aproveitamento
indevido de recursos públicos.
Brasília, em 2 de fevereiro de 2021
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