Em crônica recente, eu analisei a degeneração reinante
na gestão pública brasileira, tendo afirmando que, no caso de algum poder da
República deixar de cumprir com o seu dever institucional, o outro poder tem direito
de informar aos brasileiros que tal projeto não pôde ser executado porque ele
não foi apreciado nem aprovado por quem tem competência para tanto, ficando
este último poder com a responsabilidade de assumir o ônus por deixar de
satisfazer o interesse público, sem necessidade alguma de agressões e
desavenças entre autoridades da República, cujo resultado normalmente terminava
em prejuízo para a população.
E conclui dizendo que urge que os brasileiros
conscientes da integral degeneração dos princípios republicanos da legalidade e
da moralidade, repudiem a estranha e vergonhosa aliança firmada entre o
Executivo e o Centrão, por haver evidente prejuízo ao interesse público, diante
da notória índole fisiológica desse grupo, que é suspeito de aproveitamento de
recursos públicos.
Um atento conterrâneo, escreveu mensagem ponderando
o seguinte: “Caro cronista amigo, vc é um profundo conhecedor dos bastidores
de Brasília e sabe perfeitamente que o regime presidencialista parlamentarista,
ninguém consegue aprovar projeto nenhum, sem aprovação do congresso. O
presidente aprendeu isso a duras penas nesses 2 anos tenebrosos do Maia sentado
em cima e travando tudo, infelizmente essa e a regra suja do jogo, pode ser que
agora o Bolsonaro consiga cumprir com pelo menos parte do que ele tem em sua
agenda. Um forte abraço ilustre conterrâneo.”.
É evidente que a gestão eficiente precisa contar
com o entrosamento e a boa vontade entre os poderes da República, que são
autônomos e independentes e têm funções próprias e distintas, sendo de suma importância
que haja o sentimento de cooperação em tudo levando-se em conta a supremacia do
interesse público.
No caso enfocado na crônica, dei destaque especial para
a tristeza da degeneração moral da principal autoridade da República, que se associou
prazerosamente ao Centrão, considerado organização que trabalha visando à satisfação
de interesses próprios, em evidente detrimento das causas públicas, que são, em
princípio, a finalidade primordial do representante do povo.
Ou seja, é mais do que patente o fato de que o
presidente, ao participar como principal associado do grupo da pior fama de
fisiologismo no Congresso, por defender o condenável sistema “toma lá dá cá”,
não estava preocupado em governar coisa nenhuma nem muito menos aprovar
projeto, mas manter aliança com aproveitadores para se proteger de possível
processo de impeachment, ou será que ninguém percebe o que encontra estampado
como espelho da nação, visto que as evidências comprovam exonerável vergonha,
que os defensores do presidente preferem enxergar, ao contrário, como sendo, “inteligência”,
em forma de golpe de mestre do “estrategista” do Palácio do Planalto?
O
fato de um dos poderes ser contra a dinâmica do outro não justifica a
incompetência de ninguém, porque cada poder precisa cumprir, com competência e
eficiência, as suas atribuições constitucionais, independentemente do que o
poder omisso e desidioso deixa de fazer ou faz em sentido contrário.
O
poder competente tem como provar que esteve sempre produzindo e se não fez mais
foi exatamente porque o outro poder não aprovou os projetos enviados para ele.
Isso
só serve de desculpas esfarrapadas e ingênuas, à vista da competência
constitucional e legal de cada poder, ou seja, o poder Executivo precisa cuidar,
de forma diligente e competente, das suas obrigações institucionais, não
importando o que faz ou deixa de fazer o Legislativo, porque ambos são
autônomos e independentes e cada qual é responsável pelo bom ou ruim desempenho
e, de igual modo, cada um tem o dever de assumir os ônus e os bônus, sem essa
de ficar se justificando que um poder
conspira contra o outro.
Há
evidente demonstração de extrema incompetência o Executivo vir alegar que
deixou de executar algum projeto por culpa do Legislativo, quando ele deixou de
fazer algo por culpa exclusiva dele, até mesmo porque o seu projeto pode não
conter os elementos suficientes para o convencimento do outro poder ou algo que
deixou de justificar a sua plausibilidade para o atendimento do interesse
público.
O
governo competente trabalha tendo por base os elementos à sua disposição e,
caso alguma medida não seja possível de implementação, diga, com clareza, aos brasileiros,
que a sua parte foi providenciada a contento, conforme os fatos que ele precisa
apresentar como prova, o que vale dizer que a culpa é de quem se omitiu, que
deixou de cumprir o seu dever constitucional e legal.
Agora,
convenhamos, só porque um poder não cumpre o seu dever institucional, que não
tem nada a ver com a responsabilidade do Executivo, diante da autonomia dos
poderes, justificaria o presidente do país, que jurara ser o mais rigoroso a observar
os princípios da moralidade e da dignidade na administração pública, ao quebrar
as promessas e os juramentos, para se juntar aos membros do pior grupo de
aproveitadores do Congresso Nacional, que compra e vende até a alma do parlamentares?
O pior e deplorável exemplo de enlameamento republicano se deu agora, com as eleições dos presidentes da Câmara Federal e do Senado Federal, em que o presidente do país disponibilizou três bilhões de reais para a compra da consciências de congressistas, cujo resultado foi aflorado com a consagradora vitória dos candidatos integrantes do Centrão, que prometem a aprovação dos projetos do governo.
Em termos de seriedade, dignidade, moralidade e
outros princípios republicanos aplicáveis à administração pública, não há a
menor dúvida de que, em pleno século XXI, onde o homo sapiens já
experimentou extraordinária evolução, em termos de conhecimentos e
conscientização sobre o sentido do certo e do errado, é absolutamente inconcebível
que o governo brasileiro se digne à monstruosidade cooptação de parlamentares,
com recursos públicos, que devem se destinar, com exclusividade, para a nobre finalidade
de atender às necessidade da população, ou seja, o interesse público, para a aprovação
de projetos que, por sua natureza institucional, eles já são remunerados para
decidir sobre a matéria, quanto à sua aprovação ou não.
A aceitação dessa pouca-vergonha apenas confirma a
materialização de completas indignidade e imoralidade na gestão do dinheiro
público, tanto por parte do governo como dos próprios representantes do povo,
quando todos se rendem à indiscutível satisfação de interesses pessoais.
Os verdadeiros brasileiros precisam compreender que
essa vergonhosa “regra suja do jogo”, imposta por congressistas bandidos e aproveitadores
do dinheiro público, precisa ser definitivamente extirpada da política e dos costumes
brasileiros.
À toda evidência, infelizmente essa degradante
prática somente passível de eliminação com a colocação, no Palácio do Planalto,
de homem público de palavra, de caráter e sensível à causa pública, que tenha
sentimento nobre sobre o verdadeiro significado do que seja interesse público,
para o fim de compreender que o real representante político é exclusivamente escravo
do povo, sim aquele que teve a grandeza e a dignidade de colocá-lo no poder com
a exclusiva função de tudo fazer objetivando o bem-estar da população e o
desenvolvimento da nação.
Brasília, em 4 de janeiro de 2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário