O presidente da República afirmou que, doravante, os
governadores que "fecharem seus estados" é que devem bancar o
auxílio emergencial, não tendo anunciado os detalhes como essa medida seria
feita.
O presidente fez referência aos governadores que
adotam medidas mais restritivas com a finalidade de conter o avanço da pandemia
da Covid-19, por meio da implantação do toque de recolher e da proibição total
de atividades não essenciais.
A afirmação do presidente foi bastante clara, no
sentido de que "A pandemia nos atrapalhou bastante, mas nós venceremos
este mal, pode ter certeza. Agora, o que o povo mais pede, e eu tenho
visto em especial no Ceará, é para trabalhar. Essa politicalha do 'fica em
casa, a economia a gente vê depois' não deu certo e não vai dar certo. Não
podemos dissociar a questão do vírus e do desemprego. São dois problemas
que devemos tratar de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. E o povo
assim o quer. O auxílio emergencial vem por mais alguns meses e, daqui para
frente, o governador que fechar seu estado, o governador que destrói emprego,
ele é quem deve bancar o auxílio emergencial. Não pode continuar fazendo
política e jogar para o colo do Presidente da República essa responsabilidade.
Esses que fecham tudo e destroem empregos estão na contramão daquilo que seu
povo quer. Não me critiquem, vão para o meio do povo mesmo depois das eleições.".
O presidente já havia anunciado que o governo estuda
pagar quatro parcelas, do valor de R$ 250 cada, na nova rodada do auxílio
emergencial, a partir de março.
O discurso do presidente em Caucaia/CE foi feito em momento
em que governadores e prefeitos adotam medidas mais rígidas para conter o
avanço da Covid-19, em várias partes do país, cuja doença vem batendo recordes
de mortes diárias, como no último dia 25, que foram registrados 1.582 óbitos, e
diversos estados entraram em colapso, no que se refere ao atendimento
médico-hospitalar, em razão da falta de leitos de UTI para atender aos doentes
que só aumentam.
O
presidente do país fez visita ao Ceará, no exato momento em que o estado
enfrenta aumento de casos do coronavírus, tendo sido duramente criticado, por isso,
pelo governador daquele estado, que não compareceu ao evento, que, como já era
esperado, transcorreu em clima de notória aglomeração, sob risco da disseminação
da Covid-19, mas, mesmo assim, o presidente, como de costume, não fez uso de máscara.
Diante da realidade, no
momento, os números da contaminação da Covid-19 vêm inspirando
cuidados e atenção redobrados, em todos os estados, o que somente aconselha a permanência
do isolamento social, como única política pública mais segura, eficiente
e indispensável no combate à disseminação do vírus, evidentemente depois da vacina,
que não vem sendo assegurada pelo governo, na quantidade necessária.
Chega a ser risível a afirmação do presidente de
que “nós venceremos este mal “, como se o governo, em algum momento
tivesse demonstrado alguma preocupação com a existência da doença e, por conta disso,
tivesse se empenhado ao máximo, de maneira prioritária, para combatê-la com o
emprego de todos os recursos possíveis e imagináveis.
Somente para comprovar que tudo não passa de
falácia do presidente, sem adentrar-se em maiores detalhes, ressalte-se que o
mais importante órgão do governo, incumbido de cuidar das medidas essenciais à proteção
da saúde e da vida dos brasileiros se encontra acéfalo, apenas tendo como titular
general especialista em almoxarifado, quando a relevância da situação dramática
da pandemia exige, necessária e prioritariamente, o comando da pasta por pessoa
com especialização, no mínimo, em sanitarismo, como demonstração de sensibilidade
e interesse na proteção da vida humana, para quem é preciso a dedicação de
efetivas e verdadeiras ações e não de afirmações vazias, porque os fatos falam
por si sós.
Para tanto, basta o exemplo do vexame patente com a
imunização, cujo fracasso é cristalino, tendo sim a quem se responsabilizar, se
realmente o governo tivesse minimamente interesse em mostrar competência,
porque o planejamento sobre a vacinação somente veio a acontecer praticamente
quando muitos países conscientes sobre a importância da vida humana já tinham
começado a imunização e o resultado do descaso no combate à pandemia do
coronavírus se evidencia na situação caótica que se encontra a saúde pública,
com a terrível estatística de mais de 250 mil óbitos, que poderiam não ter
chegado a tanto, caso realmente a vida dos brasileiros tivesse algum valor.
Sim, o povo pede trabalho, conforme alega o
presidente, e não é somente na pandemia, porque ninguém vive sem emprego, mas é
preciso que o governante se conscientize e tenha o mínimo de sensibilidade que,
no momento em que os hospitais estão abarrotados de gente doente pela Covid-19,
não se pode pensar em outra medida senão na proteção das pessoas, que é a mais
primária possível, por meio do isolamento social, ante a inexistência de
vacina, de incumbência do governo, que tem demonstrado dificuldade em atender
às demandas da população.
A crítica que se faz aos governadores por tentar
minimizar a situação dramática dos hospitais, que não conseguem mais suportar a
capacidade de atendimento, tanto em termos de profissionais especializados e
leitos de UTI, é de extrema irracionalidade e desumanidade, no simplista entendimento
de que não seja feito mais nada, para que as atividades prossigam na
normalidade, mesmo com os hospitais superlotados de doentes, porque a economia
tem prioridade sobre a vida humana, o que só demonstra o elevadíssimo grau de
insensibilidade quanto à compressão sobre o valor da vida dos brasileiros.
Não e verdade que não se possa “dissociar a
questão do vírus e do desemprego”, conforme declarou o presidente do país, uma
vez que o tratamento a ser conferido ao vírus é eminentemente de saúde pública,
que diz respeito à integridade da vida humana, que tem ascendência sobre os
demais bens materiais, para a qual os verdadeiros estadistas com o mínimo de
sentimento humano jamais imaginaria fazer afirmação tão despropositada, em
momento em que é preciso entender que a prioridade é sim tratar do vírus e depois
do emprego se houver impossibilidade de que ambos sejam cuidados simultaneamente,
de modo que se possa adotar medidas apropriadas em cada caso, diferentemente do
que vem sendo adotado, presentemente, com relação ao vírus e ao desemprego,
porque nada vem sendo feito para estudar e normatizar as necessárias medidas na
equalização e no saneamento das questões que somente se acentuam em ambos os
casos.
Por fim, parece que faltam boa vontade e
compreensão sobre a gravidade da incidência da Covid-19, que se intensificou com
muita voracidade no momento, exigindo que os governadores adotem as necessárias
medidas da sua alçada, diante da incapacidade do atendimento dos doentes, um vez
que os hospitais, em termos de pessoal e material, já chegaram ao limite operacional,
de modo a se evitar o colapso absoluto em comprometimento da vida humana.
A ameaça do presidente, exatamente no momento de
extrema dificuldade da saúde pública, só contribui para potencializar o caos, além
de não resolver absolutamente nada, em termos econômicos, mas sim de aumentar a
crise, que já está complicadíssima.
A demonstração de desespero do presidente da República
só transparece a urgente necessidade do entendimento em torno do combate
conjunto da pandemia, em que os governos federal, estaduais e municipais possam
expor os problemas localizados e colocarem em discussão as melhores medidas
capazes de contribuir para a solução que seja apropriada para o atendimento do
interesse público, no âmbito do entendimento, da racionalidade, da competência
e da responsabilidade públicos, em que haja o verdadeiro sentimento voltado exclusivamente
para a convergência em torna da causa dos brasileiros, no seu todo, sem necessidade
de estadualização ou municipalização, mas sim da federalização.
Brasília, em 27 de fevereiro de 2021
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