sábado, 17 de setembro de 2011

Tudo pelo poder

Não deixa de ser curioso o fato de os políticos se envergonharem da indicação de também político para exercer cargo no alto escalão do governo, conforme foi verificado nas manifestações proferidas por ocasião da posse do ministro do Turismo, em que a presidente da República se apressou em defender com veemência as escolhas políticas para cargos públicos, assim: "Escolhas políticas não desmerecem nenhum governo. É com políticos e partidos políticos, com técnicos e especialistas, que se governa um país complexo como o Brasil. A política bem exercida é uma atividade nobre e imprescindível". Por seu turno, o presidente do Senado Federal rechaçou com maior fervor que o novo ministro não é seu afilhado político, tendo negado que seja da sua cota a indicação do deputado para o cargo, porquanto é a presidente da República quem "indica, nomeia e demite" ministro, tendo concluído que a responsabilidade por qualquer ministro é dela: "Como eu disse a vocês, o problema de nomeação de ministro é de exclusiva competência da presidente da República. Ela sabe o que faz e assim ela faz as suas escolhas". Embora, na cerimônia de posse, o ministro tenha agradecido à família do presidente do Senado e ao ministro das Minas e Energia. Devido, possivelmente, aos deslizes protagonizados por alguns políticos no atual governo, os “caciques” estão escaldados quanto à sua indicação, chegando ao ponto de negá-la, ainda que o próprio afilhado faça questão de reconhecer e agradecer pela escolha do seu nome para o cargo. Por sua vez, impende notar que jamais a escolha política será capaz de deslustrar qualquer governo, quanto mais se ela recair sobre alguém com reconhecida capacidade técnico-profissional, com indispensáveis competência, qualificação e experiência para exercício do cargo. Na verdade, o que desmerece e envergonha a nação é o descabido loteamento entre partidos políticos de órgãos públicos sem critério algum, motivado apenas por conveniência fisiológica, com vistas a manter a coalizão firmada para a sustentação política do governo no Congresso Nacional, ficando o partido como se fosse o seu dono, tendo plena autonomia para indicar o político para dirigi-lo, que normalmente é um afilhado sem o preparo à altura da importância dos objetivos programáticos do órgão. No caso do novo ministro, parece que ele tem alguma competência, porquanto consta do seu histórico político que, por sua iniciativa, foi aprovada emenda no Orçamento de 2011, alocada no Ministério do Turismo, destinando recursos para o seu feudo eleitoral, em compensação aos votos conquistados em quatro cidades onde ele foi o líder disparado nas urnas, embora elas não tenham qualquer vocação turística, mas o resultado eleitora teve influência na destinação da verba, conforme assegurou o próprio político. Em contramão da modernidade por que passa o mundo, com a evolução em todos os campos do conhecimento, cujo desenvolvimento tem como mira beneficiar a humanidade, o sistema político brasileiro, a par de demonstrar interesse em não acompanhar esse avanço, tira proveito da situação para aperfeiçoar as técnicas e os procedimentos contrários ao progresso para o fortalecimento dos partidos, visando a perpetuação no poder, mediante coalizão questionável, em evidente prejuízo dos interesses públicos. Cabe à sociedade brasileira inverter o curso dessa política de negação evolutiva, exigindo urgente reforma desse arcaico sistema que somente beneficia os grupos políticos, de modo a ensejar a implantação de novos conceitos de política moderna, que se destine exclusivamente à defesa das causas da nacionalidade. Acorda, Brasil!


ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 16 de setembro de 2011


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