sábado, 24 de setembro de 2011

Fertilidade da corrupção

Segundo a Corregedoria Geral da União, nos exercícios de 2008 e 2009, o Ministério do Turismo repassou para o Instituto Educar e Crescer o montante de R$ 8,8 milhões, tendo por objetivo a promoção de eventos relacionados com micaretas, rodeios e festivais de músicas, no Estado de Goiás e Distrito Federal. É curioso que, do total transferido, aquele instituto apenas prestou contas, pasmem, de apenas o importe de R$ 280 mil. Nenhum centavo do restante foi devolvido aos cofres públicos e ninguém foi responsabilizado nem punido por coisa nenhum e sequer houve explicação para tamanha condescendência sobre o real destino do dinheiro público. Como se pode perceber, há total flexibilização e relaxamento por parte do governo diante desses fatos irregulares, dada a demência e a tolerância dos órgãos de controle e fiscalização, que não demonstraram iniciativa visando combatê-los, como é do seu dever constitucional, como forma de defender o patrimônio público e impedir que a ladroagem não tenha solução de continuidade e muito menos seja incomodada na sua traquinagem costumeira. Esse desleixo oficial pode encontrar respaldo e justificativa pelo fato de que os partidos aliados da base de sustentação governamental não gostaram das medidas saneadoras ensaiadas pelo Planalto, exatamente por contrariarem seus interesses, que ficaram expostos à opinião pública como sendo os verdadeiros aproveitadores dos recursos públicos. O certo é que, ante as pressões e as chantagens ostensivas, o governo se rendeu à realidade dos fatos políticos e recuou quanto ao propósito da assepsia da administração pública e, de quebra, decidiu liberar imediatamente as verbas inerentes às emendas dos parlamentares, com grande possibilidade de fomentar a rapinagem com o dinheiro dos contribuintes. Os fatos mostram que somente a sociedade tem real condição de salvar a pátria, quanto à moralização e legalidade com a aplicação dos recursos públicos, mas ela precisa se conscientizar de que essa cultura de desmazelo com o patrimônio público tem sido fator prejudicial às causas nacionais, uma vez que a atual mentalidade do gestor público tem como foco a exclusiva defesa de seus interesses pessoais e partidários, detrimento das finalidades públicas. A evidência dos acontecimentos é clara no sentido de que deixar de ser refém da corrupção não é mais tarefa exclusiva do governo, que já jogou a toalha para a bandidagem protagonizada pela politicagem, competindo à sociedade se organizar para a consecução e efetividade de reformas sérias e abrangentes, contemplando todos os segmentos de interesse social, em especial político, tributário e econômico. Acorda, Brasil! 

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 24 de setembro de 2011

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