sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lingerie sob controle

O Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária – Conar abriu processo, a pedido da Secretaria de Políticas para Mulheres, órgãos do governo federal, objetivando avaliar denúncias recebidas contra a campanha publicitária de roupa íntima, em que uma famosa modelo brasileira aparece de lingerie e mostra a "melhor maneira" de dar má notícia ao marido. Segundo o Conar, após análise preliminar do caso, foi verificada a existência de fundamento, no código brasileiro de autorregulamentação publicitária, para a aceitação da denúncia. Na peça publicitária, a modelo, usando roupas normais - não bem apropriadas para o caso -, fala para o marido que bateu o carro, quando a forma correta é dizer a mesma coisa usando apenas lingerie e conclui: "Você é brasileira, use seu charme". As pessoas insatisfeitas consideraram que a campanha é desrespeitosa à condição feminina, enquanto o governo entende que: "a propaganda promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas". O governo não devia se intrometer em comercial de roupa íntima, não por ser procedimento ridículo, mas por vislumbrar que ele não tem algo expressivo para se preocupar do que ficar tentando censurar publicidade comercial em nome do respeito à diversidade. É evidente que essa atitude não se coaduna com a evolução e a modernidade dos novos tempos, porquanto, de sã consciência, é inconcebível que um órgão com a importância da sua finalidade e do nome que ostenta certamente deveria se ocupar com algo que representasse ganho substancial para a mulher brasileira, em termos de produtivo, como forma de justificar a sua existência. Nessas circunstâncias, cabe à sociedade fazer julgamento pertinente, mediante a sua preferência à marca de roupa que desejar. Não obstante, a censura em causa mostra profunda carga autoritária política, que não faz sentido nos dias atuais órgão público se debruçar em discussão sobre algo de somenos importância, deixando de dar a devida atenção às situações relevantes a legitimar os altos custos de sua criação e manutenção, para o atingimento de resultados dignificantes para a mulher. Intervenções desse jaez conduzem inevitavelmente ao natural questionamento sobre a real necessidade desse órgão e de outros igualmente que nada produzem, mas estão contribuindo, com o seu funcionamento, para sobrecarregar o custo nada modesto da administração pública, abarrotada de ineficiência e improdutividade, mas feliz da vida por ter na sua estrutura uma secretaria para cuidar dos assuntos ligados à mulher, que, na verdade, merece ser contemplada com medidas substanciais capazes de melhorar as suas condições de vida. Acorda, Brasil!  

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 30 de setembro de 2011

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