quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Quadro fiel da saúde

Toda vez que vai ao ar reportagem da mídia sobre o diagnóstico do sistema de Saúde Pública brasileiro é revelada fantástica “obra de arte” pintada sem retoques, mostrando a sua falência operacional, cujo quadro composto por matizes definindo com nítidas cores e abundância de detalhes técnicos toda criatividade não somente de um único artista, como é comum em trabalhos normais, mas de vários colaboradores, todos considerados “gênios” e “especializados”, contribuindo para que não faltasse a observância aos rigores e da magia das cores em obras de singularidade talvez idealizada e reproduzida a fio com exclusividade nas terras tupiniquins, fazendo com que, por qualquer ângulo de visão, a saúde pública permaneça fiel à sua originalidade de decadência, precariedade e ineficiência. Pequeníssima amostra bastante representativa da mazela da saúde pública brasileira acaba de ser vista com as pinceladas da distribuição de ambulâncias para alguns Estados, sem prévia avaliação quanto à real necessidade do seu uso, passando pelo seu recebimento e a sua camuflagem em depósitos clandestinos, onde se encontram sem uso por longo período. Os lastimáveis borrões e as lambuzadas maquiavélicas trapaças descritas nessa lamentável obra ficam por conta das esfarrapadas explicações dadas por envolvidos, na tentativa infrutífera de encobrir do sol a tela da verdadeira incapacidade de dá assistência digna e de qualidade à população. Nada pode justificar a notória falta de funcionamento de equipamentos médico-hospitalares, ante aos lautos e evidentes casos de carência a exigirem maior atenção das autoridades responsáveis, nos diversos níveis de envolvimento, cuja perspicuidade se volta com ferocidade para amealhar mais e mais dinheiro, para bancar a incapacidade gerencial do programa de saúde pública, em que pese a extrema relevância social, mas incapaz de alçar patamar mínimo de satisfação, em virtude do despreparo e da desqualificação profissional das pessoas envolvidas, aliados à gritante falta de controle dos gastos pertinentes pelos órgãos de fiscalização, que não conseguem evitar a enxurrada dos recursos públicos para injustificados sorvedouros, ou seja, o carreamento para os ralos apropriados, contrariando os princípios salutares da administração pública, em especial quanto à eficiência e eficácia da sua aplicação, passando ao largo os comezinhos procedimentos de responsabilização e penalização dos culpados, na forma da lei. Não obstante, os “famosos” e “inteligentes” artistas, temerosos da possível escassez da matéria-prima para a feitura das suas “belas obras”, em face do gigantismo aumento dos participantes do clube do atelier da saúde, estão sôfregos, com feroz insistência, mãos habilidosas e garras afinadíssimas defendendo nova fonte de recursos, para que não sofram solução de continuidade as suas criações, imaginações e maquinações artísticas, sem interromper o ciclo de maldade e incompetência representado pelo sistema de Saúde Pública do país, porque, se houvesse interesse, vontade política e o mínimo de sentimento humanitário, essa vexatória, triste e vergonhosa questão já tinha sido saneada há bastante tempo. Graças às perscrutadoras lentes da imprensa, a sociedade tem o desprazer de ver mais uma parcela realidade enfeixada num deslustrado quadro de horror, infelizmente pintado sem cores e destituído de saúde e de vida, custeado a preço de ouro com o seu dinheiro, que, ao contrário, poderia ter pleno aproveitamento na sua finalidade precípua se, para tanto, houvesse na sua gestão planejamento, coordenação, gerenciamento de qualidade, entre outros atributos que permitissem aquilatar o custo-benefício dos gastos pertinentes. Infelizmente, a população brasileira paga alta carga tributária para merecer espetáculos artísticos de péssima qualidade e ainda é obrigada a passar pelo dissabor de aturar as explicações pífias e nada convincentes sobre a má aplicação dos seus recursos, que, além do seu notório desperdício, ainda são considerados insuficientes para o financiamento das piores assistências médico-hospitalares da face da terra. Acorda, Brasil!             

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 28 de setembro de 2011

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