quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A lição de indignidade

O ex-presidente da República, por ocasião de cerimônia realizada na Universidade Federal da Bahia, quando lhe foi entregue o título de doutor “honoris causa”, em meio a protestos de estudantes, disse ontem, em Salvador, que "Político tem que ter casco duro. Se o político tremer cada vez que alguém disser uma coisa errada sobre ele e não enfrentar a briga para dizer que está certo, acaba saindo mesmo", ao se referir aos casos que envolveram os ex-ministros dos Transportes, da Agricultura e do Turismo, que pediram exoneração porque não resistiram à pressão de suspeitas da prática de corrupção, dando a entender eles não deveriam ter saído dos seus cargos. Sobre o ex-ministro da Casa Civil, que também foi exonerado por suspeita de atos irregulares, ele não fez qualquer menção. Contrastando com o momento solene da concessão do título em apreço, a declaração do ex-mandatário do país dá a exata dimensão da falta de caráter de quem soube resistir, com a força e a “bravura” da desonestidade própria petista, ao envolvimento do seu nome no maior escândalo da história republicana brasileira, o “famoso” e famigerado mensalão, que, após ter saído ileso, ele conseguiu, de forma heroica se reeleger presidente da República. Essa ridícula lição de cafajestice mostra a verdadeira face da falta de compromisso do político brasileiro com a moralidade e a ética na administração pública, que tem sido sempre prejudicada pela comprovada incompetência da sua gerência, notadamente na gestão anterior, quando foi pródiga de atos irregulares, mas, sob o prisma superior, nada foi visto de errado, não houve qualquer apuração dos fatos denunciados e ninguém foi punido, ou seja, apesar do mar de lamas transferido para o atual governo, como herança maldita que induziu à exoneração de vários servidores de alto escalão, pela prática de irregularidades graves, que já eram praticadas no passado recente, aquela autoridade ainda é saudada com honroso título de doutor “honoris causa” e aproveita o ensejo para incitar os políticos a se mostrarem durões quando forem acusados da prática de corrupção. A insatisfação demonstrada pelo ex-presidente da República, por não ter concordado com a falta de combate até a morte por parte dos servidores corruptos, funciona como contribuição negativa ao aperfeiçoamento da democracia e serve de estímulo e de péssimo exemplo para o culto da desonestidade tão combatida atualmente pela sociedade, que tem o dever moral de rechaçar da vida pública as pessoas indignas de representá-la, ainda mais quando envolve a condução dos altos interesses do país. Acorda, Brasil!          



ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 21 de setembro de 2011

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