sábado, 3 de setembro de 2011

Homenagem à indignidade

A abertura do 4º Congresso do Partido dos Trabalhadores - PT foi prestigiada com a presença do ex-ministro da Casa Civil do governo anterior, cassado do cargo de deputado federal, por ter sido acusado de ser o mentor intelectual do famoso mensalão, conhecido como o esquema preparado para destinar dinheiros ilícitos para o pagamento de propina a parlamentares, em troca de apoio político para aprovação de projetos de interesse do governo. O fato marcante desse evento foi o desagravo ao mencionado político, que continua réu no processo do maior escândalo da República, tendo sido ovacionado de forma calorosa pela plateia, que gritava “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro” e recebido o apoio da presidente e do ex-presidente da República. Curioso é que esse cidadão se fortalece dentro do partido à medida que a imprensa mais o malha por seus procedimentos nada transparentes, e nem por isso ele deixa de ser um dos principais interlocutores da cúpula petista com os políticos e empresários mais importantes do país. O encontro teve também a reestreia, comemorada com festejados aplausos, do ex-tesoureiro do PT – reintegrado ao partido há cinco meses -, depois de cumprir afastamento das hostes petistas por gestão financeiro fraudulenta do mensalão. Causa espécie a forma acintosa pela qual foi nominado um réu da Justiça, por acusação de prática de corrupção com dinheiros públicos, em guerreiro do povo brasileiro. Fica bastante difícil compreender a atitude desse partido, porque ela não guarda compatibilidade com a realidade dos fatos, porquanto o resultado das apurações do caso mensalão concluiu pela prática de atos lesivos aos cofres públicos, mediante o superfaturamento de obras e o desvio de recursos públicos para a manutenção financeira da caixa operadora do citado esquema, tendo sido considerados envolvidos no caso, a princípio, os dirigentes e outras pessoas influentes do partido, totalizando trinta e sete companheiros. Enquanto o processo tramita na Justiça, os envolvidos não se dignaram comprovar junto à sociedade a sua inocência e a lisura dos seus atos, quanto aos fatos denunciados e apurados. Não parece lógico que cidadãos, réus no processo do mensalão, sejam ao mesmo tempo aquinhoados com os maiores apoios e aplausos dos caciques e da militância petistas, como se eles fossem verdadeiros heróis e salvadores da pátria, pela prática de algum feito digno de reconhecimento perpétuo e até sobre-humano. Na realidade, esse lamentável e triste episódio pode ser considerado insensato e incompreensível, em especial porque os apupos tiveram o eloquente estímulo da mandatária do país, que tinha a obrigação moral e ética, que exige a liturgia do importante cargo que ocupa, não só de condenar a infeliz manifestação pública, mas de proibir a disseminação de procedimentos indignos e de visível contraposição às edificantes condutas da honradez, da dignidade e da licitude inerentes a todo cidadão. Espera-se que, nos próximos pleitos, a sociedade brasileira tenha a maturidade e o discernimento políticos capazes e inteligentes para recusar apoio aos políticos que têm compromisso apenas com as causas pessoais ou do seu partido, como no caso em referência, em manifesto desprezo aos interesses da nacionalidade. Acorda, Brasil!


ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de setembro de 2011

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