terça-feira, 20 de setembro de 2011

Deselegância política

A deputada federal por Pernambuco, candidata ao cargo de ministro do Tribunal de Contas da União, afirmou nesta data que o apoio recebido do seu filho, governador desse Estado, não pode ser considerado de nepotismo, por entender que: "... Se o nepotismo é feito pelo povo, então é o voto do povo... É uma honra criar um filho como Eduardo” e concluiu que na sua casa existe um "sentimento de família". Sobre as frequentes viagens do filho a Brasília para fazer campanha, a ilustre parlamentar rebateu, justificando com uma pérola, dizendo que ele é muito bem avaliado pela população do seu Estado: "Pergunte ao povo de Pernambuco como ele está satisfeito. Ele tem 92,5% de satisfação da população.". O filho dela chegou hoje em Brasília para fazer campanha pela mãe. Estiveram na sabatina o chefe da Casa Civil de Pernambuco, o vice-governador e o presidente do Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco. Eles distribuíram broches e adesivos da candidata. Um dos membros da comitiva disse que "não ver nada demais" em acompanhar a sabatina no horário de trabalho. Os fatos falam por si sós, demonstrando sem meias palavras a forma sebosa da prática política tupiniquim e expõem às claras a falta de caráter dos homens públicos, que agem de forma inescrupulosa para atingir os seus objetivos, atropelando os princípios morais e éticos, como se a sociedade fosse formada por um bando de imbecis e não tivesse senso crítico sobre ilicitude dos atos por eles praticados. O envolvimento do governador do Pernambuco nesse episódio mostra com clareza a forma antiética como ele faz política, pelo menos nesse caso, ao desrespeitar os bons e salutares princípios constitucionais, entre outros, da impessoalidade que tem a obrigação de observar. O simples fato de ser um bom filho e excelente governador não justifica a sua participação na campanha da sua mãe para a indicação de cargo tão importante, cujo procedimento tem o condão de mostrar, não só a sua falta de ética, mas a fragilidade e a incompetência da candidata na concorrência, que se caracteriza bastante desleal e imoral, pelo nítido uso da máquina pública do seu Estado natal, em franca desigualdade de condições com os demais candidatos, ficando transparente a forma deselegante e nada recomendável para o preenchimento de cargo de ministro de quem se exige procedimentos de alto nível e a utilização de meios lícitos, isentos de suspeições e vantagens prejudiciais ao sistema democrático brasileiro. Convém lembrar que a grandeza das pessoas não pode ser mensurada pelo acervo de seus poderes políticos, mas pelas qualidades morais das suas atitudes. Em suma, por mais preciosos que sejam os laços familiares, a democracia apenas se enfraquece e se deslustra diante de procedimentos contrários à dignidade e aos bons costumes, os quais, de igual modo, também não se coadunam com a nobre missão constitucional e legal do Tribunal de Contas da União, que tem a competência de fiscalizar a boa e regular aplicação dos recursos públicos.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 20 de setembro de 2011

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