segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O milagre patrimonial

Segundo a revista Época desta semana, o governador do Distrito Federal pode enfrentar novo sufoco de credibilidade, ante a revelação de que o seu patrimônio aumentou 413% entre os anos de 2006 e 2010, conforme dados extraídos de suas declarações de imposto de renda desse período. Em 2006, ele declarou possuir bens no total de R$ 224 mil, enquanto, em 2010, esse valor apenas quintuplicou para R$ 1,15 milhão, compreendendo somente os seus rendimentos, haja vista que os seus bens estão registrados no nome de sua mulher. Na avaliação dos especialistas, essa rápida e súbita evolução patrimonial contrasta com as informações prestadas por ele à Receita Federal, no aludido período. Em 2006, quando da sua candidatura ao Senado Federal, seu patrimônio era constituído de três automóveis e um apartamento e um total de remuneração anual de R$ 189 mil, mas havia declarado doação, de forma generosa, de R$ 42 mil, ou seja, 22,7% da sua renda bruta, ao seu partido na época. Em 2007, segundo a reportagem, a renda declarada do governador não foi além de R$ 57 mil e, por oito meses do ano, antes da sua convocação para exercer cargo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), teria recebido apenas um salário mensal de R$ 3 mil, como médico da rede pública. Num país com o mínimo de seriedade e o pingo de respeito aos princípios democráticos, não havia dúvida de que esse tipo de denúncia certamente seria objeto de apuração competente, com o escopo de mostrar à sociedade a isenção ou não da culpabilidade pelos fatos graves, que não combinam nem um pouco com tão importante cargo de governador, cuja relevância exige a comprovação, pelo seu ocupante, de probidade administrativa e de ficha corrida limpa em todos os sentidos. Todavia, a blindagem do seu partido demonstra ojeriza à apuração de irregularidades, porque, desde o péssimo exemplo do mensalão, já se habituou a conviver com a imundice da corrupção nos seus calcanhares e dela não tenciona desvencilhar-se, como bem mostram os acontecimentos ocorridos, nos últimos dias, onde, mediante proteção bem organizada pela base política, a Câmara Distrital do DF decidiu pelo arquivamento, in limine, de cinco pedidos de impeachment contra o governador do DF, que saiu fortalecido de episódio que, em atenção e respeito à vontade da sociedade brasiliense, recomendava, no mínimo, apuração profunda dos fatos denunciados. Possivelmente, o questionado crescimento patrimonial deve provir de empréstimo entre amigos, cujo argumento serviu de justificativa fajuta para a suspeita origem de R$ 5 mil depositados na conta do mandatário distrital. Não obstante, desta feita, a população brasiliense pode confiar na tranquila e costumeira providência da Câmara Legislativa do Distrito Federal, que, com seu famoso esforço em defesa da moralidade e da transparência no serviço público, adotará as melhores técnicas periciais da sua alçada, no sentido de averiguar a verdadeira fonte que deu origem ao estranho crescimento patrimonial do governador local, mostrando, enfim, de forma clara, a lisura do seu enriquecimento. Acorda, Brasília!
           
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 13 de novembro de 2011

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