sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A Rocinha

A pacificação da favela da Rocinha teve, como de hábito, comemoração festiva e entusiástica pelas autoridades governamentais, pelos policiais militares e civis e pela comunidade em geral, como se aquela sofrida gente não mantivesse contato com a civilidade há bastante tempo e, na realidade, era exatamente isso o que vinha acontecendo, porque os moradores daquela localidade eram subjugados às regras estabelecidas com plena soberania pelos narcotraficantes, que dominavam o território com seu invejável poder de quem possui enorme arsenal bélico, com absurdo consentimento e tolerância do poder público. Os marginais mantinham sob seu controle não somente a comunidade, mas todas as atividades funcionais e orgânicas da Rocinha, com a complacência das autoridades constituídas, que nada faziam para combater a criminalidade. Enquanto isso, várias gerações foram destruídas pelo descaminho do crime e pela convivência com a brutalidade da violência, sem saberem o que seria assistência da competência do Estado, como ensino, saúde, segurança, saneamento básico, limpeza pública e tantas outras atividades que foram negligenciadas nesse tenebroso período da indevida ocupação. Não há dúvida de que essa clara omissão do Estado constitui grave e irreparável crime cometido contra uma comunidade indefesa e completamente dominada, que somente foi socorrida agora graças à proximidade da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, a serem realizadas na Cidade Maravilhosa, que não poderia continuar com essa evidente falta de caráter, de humanidade, de decência e de respeito à dignidade do ser humano, com a conivência oficial do Estado. Esse fato mostra o descaso das autoridades, que estão preocupadas apenas com a imagem do Rio de Janeiro, que seria totalmente negativa se continuasse sob o jugo dos traficantes. Como os bandidos estão sendo presos, para posterior julgamento, pela mesma razão devem ser igualmente julgados os governantes pelo seu crime de omissão e conivência com as barbáries praticadas contra a comunidade. O descaso e a leniência diante da dominação territorial e degradação de gerações da Rocinha não podem passar impunes, porquanto as autoridades devem ser responsabilizadas, para que isso sirva de lição, de forma pedagógica e disciplinar, para os governantes, com vistas a evitar a reincidência desse tipo maléfico de incompetência estatal, pela sua condescendência com o aviltamento das condições de vida de comunidades.  Acorda, Brasil!     

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de novembro de 2011

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