quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Tiro de misericórdia

Por unanimidade, a Comissão de Ética Pública da Presidência da República recomendou à presidente da República a exoneração do ministro do Trabalho, além de aplicar-lhe "advertência ética", que representa uma "mancha" no currículo do advertido. Segundo o presidente da citada comissão, as explicações prestadas sobre as denúncias noticiadas pela imprensa foram "insatisfatórias" e que "nenhum fato em especial" motivou a decisão da comissão. Disse ainda que "Ele apresentou a sua defesa e a comissão entendeu que ele não tinha se explicado sobre toda a base das acusações". Por meio de nota, a comissão declarou que "trata-se de suposto desvio ético" e concluiu que essas denúncias "apontam irregularidades em convênio e cobrança de propina no MTE". Não há dúvida de que as denúncias contra o ministro são gravíssimas, consistindo na possível existência de esquema de arrecadação de propinas junto a ONGs que mantêm convênios com a pasta, tendo por objetivo arrecadação de recursos para abastecer o caixa do PDT, além do uso irregular de um avião particular, cujo aluguel teria sido pago por um dirigente de ONG que mantém contrato com o ministério. Até que enfim alguém nesse governo enxerga irregularidades nas suas entranhas e tem a coragem de apontar medidas saneadoras. Até então, não adiantava nem mesmo a sangria das chagas expostas que ninguém seria capaz de perceber a gravidade dos fatos, preferindo negá-los como forma de enganar parte da sociedade que, despreparada e aliciada com subornos, ainda confia nessa gestão da latente corrupção e da espúria composição política, com fins destinados à manutenção no poder. Caso o ministro não seja exonerado agora, diante da contundência das conclusões da Comissão de Ética, será apenas a confirmação da desmoralização do serviço público brasileiro e a reafirmação de que esse ministro pode revelar algo podre que não interessa a ninguém, caso ele não permaneça no cargo, porque as suas declarações de que “não há nenhuma possibilidade de deixar o governo” e “só deixaria o governo abatido por bala" podem ser muito relevadoras. No presente caso, não carece absolutamente mais nada para o desfecho do imbróglio, porque a bala, o tiro de misericórdia, acaba de ser disparada, à queima roupa, faltando apenas alguém ter a dignidade, a decência de mandar o de cujos para onde ele já devia ter ido há bastante tempo. Diante desses fatos, a sociedade vislumbra tão somente a medida apropriada para desvio ético e falta de caráter de servidor público da alta cúpula do governo, qual seja, a exoneração a bem da dignidade da administração pública, sob pena de a presidente da República perder sua autoridade moral e permitir que seja considerada com todo mérito conivente com a corrupção e com a incompetência no seu governo. Acorda, Brasil!
                                                                
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 30 de novembro de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário