domingo, 20 de novembro de 2011

Fingimento debochado

Nos últimos tempos, tem servido de verdadeiro encorajamento aos corruptos o “memorável” conselho da lavra do ex-presidente da República petista, segundo o qual, quando alguém for acusado de ter praticado atos irregulares contra o patrimônio púbico, não deve ceder facilmente às pressões da mídia nem da opinião pública, mas negar bravamente e se transformar em autêntico “casca grossa”, para mostrar toda “bravura” de pessoa honesta. Essa “lição” desatina e desastrada contaminou tanto os maus elementos como quem tem a obrigação de cortar o mal pela raiz, que, ao invés disso, prefere se acomodar covardemente e nada fazer, demonstrando fraqueza de autoridade e, mais grave, de conivência com as falcatruas denunciadas. Na atualidade, a imoralidade é apontada e até comprovada, porém os caras de pau flagrados, desmascarados, fingem que não é nem com eles e não sentem nem vergonha na “fuça”, como se o desvio de dinheiro público fosse natural e não infringisse regras legais, éticas e morais e não atentasse contra a dignidade do ser humano. No passado, é verdade que já faz bastante tempo, os corruptos demonstravam sentimento de vergonha quando a sua sujeira era revelada e não caçoavam de ninguém, porque temiam punição e a imposição de reparar o dano causado à sociedade. Hoje é diferente e tudo se resolve à base de deboche de péssimo gosto, talvez na intenção de desviar o foco da sua maldade. Nesse contexto, o desprezo à seriedade ultrapassou todos os limites suportáveis pela dignidade humana, quando, de forma incrível, alguém, acusado de ser o mentor-chefe do rumoroso esquema do mensalão, cassado pela Câmara Federal e réu no Supremo Tribunal Federal, vem a público, com o maior descaramento, afirmar que “a onda de denúncias contra a corrupção pode fazer mal para o país”. É lamentável que essa filosofia mesquinha e desrespeitosa às pessoas de bem represente a fiel mentalidade da agremiação partidária que governa a nação, pois prejudicial ao país é permitir que a corrupção alastre-se mais ainda sem ser, pelo menos, denunciada, porque combatê-la que é bom nem pensar, à vista da evidente predominância da incompetência gerencial na administração pública. Na verdade, o que vem prejudicando o país é a contaminação do câncer da corrupção que foi instalada no serviço público brasileiro; é a liberdade de homens públicos sem caráter, que deveriam estar reclusos em razão dos seus crimes contra o Estado; é a roubalheira desenfreada e denunciada a todo instante; e é a impunidade dos corruptos, que agora sequer são exonerados dos cargos que ocupam. A sociedade anseia por que os governantes se conscientizem de que a praga da corrupção vem sacrificando o desenvolvimento econômico e social do país e contribuindo de forma decisiva para contaminar e fragilizar a dignidade, a moralidade e os bons costumes dos brasileiros. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 20 de novembro de 2011

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