terça-feira, 1 de novembro de 2011

A UTI da saúde pública

A doença do ex-presidente da República traz à baila uma onda de ressentimentos e rancores jamais vista na história deste país, evidenciando desejos de insucesso no tratamento e outras indelicadezas que contradizem a condição de ser humano que deveria, no mínimo, respeitar o seu semelhante, independentemente do que ele tenha praticado na vida, porque isso não é a melhor forma de satisfazer capricho pessoal e egoístico, mesmo porque, normalmente quem critica, gostaria de merecer tratamento digno. Muitas pessoas têm sugerido que, como homem do povo, ele deveria ser cuidado pelos hospitais do SUS, onde a população que ele diz "amar de paixão" é atendida e passa as piores e horríveis agruras, dificuldades e sofrimentos, sem algum direito de reclamação, mesmo porque nada adiantaria. Contrariamente desse entendimento, como forma de reafirmar a igualdade de tratamento, os brasileiros deveriam obrigatoriamente ser atendidos pela rede pública de saúde, desde que ela tivesse condição decente e pudesse prestar assistência médico-hospitalar de primeira qualidade como deve e tem direito todo cidadão, porque todos são iguais perante a lei. O fato de o ex-presidente ser atendido em hospital de referência pode contribuir para que os hospitais públicos possam, no futuro, merecer melhor atenção por parte dos governantes. A menos que o ex-presidente seja tão insensível que não perceba que o sistema de saúde pública está sucateado e inoperante há bastante tempo, em razão do descaso desse governo, que não prioriza a saúde da população. Pode até ser que essa doença tenha o propósito de despertá-lo para a prática de atitude mais humanitária, principalmente pelo fato de que, depois da tempestade, sempre vem a bonança e este estado de graça pode nascer no seu coração nova realidade do mundo que o cerca, tendo a visão de que, nesta vida, não há nada mais importante do que a saúde. Possa ser também que após a superação dessa doença ele caia na real, deixe de ser menos prepotente e egocêntrico e entenda que o homo sapiens é igual em tudo, inclusive na condição de contrair doenças jamais imaginadas, não estando imunes a elas nem mesmo aqueles que se julgam acima de tudo e de todos, por ter chegado ao píncaro da glória, como homem público. Não obstante, os tratamentos que o ex-presidente será submetido de quimioterapia e radioterapia costumam exterminar a cadeia do tumor maligno existente no corpo, porém ainda não há comprovação científica se as doses medicamentosas pertinentes são capazes de destruir também o mais recente e perverso câncer entranhado no DNA humano, que é o da corrupção. Caso isso seja possível, parte dos R$ 80 bilhões desviados anualmente dos cofres públicos poderia passar para o lado do bem, com a sua aplicação nos programas governamentais de saúde, entre eles o SUS, que enfim teria condições de oferecer tratamento satisfatório, digno e de qualidade não somente para o ex-presidente, mas indistintamente para a população brasileira.

                       
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 1º de outubro de 2011

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