sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Vítima ou culpado?

Em razão de ter liberado, em 2008, um certificado para a farmacêutica União Química no mesmo dia em que recebeu um depósito em sua conta-corrente, de R$ 5 mil de um lobista, que trabalhava na empresa e alegou que pagou propina pelo documento, o governador do Distrito Federal voltou a dizer que "O que está acontecendo é uma armação. Estou sendo denunciado por uma organização criminosa que dominou Brasília, e que continua espalhando dossiês, pagando testemunhas, e é isso que está acontecendo aqui", disse, referindo-se a um "grupo que quer voltar ao poder". O certificado, assinado em 25 de janeiro do mesmo ano, permitia àquela empresa participar de licitações e registrar novos medicamentos, o qual foi assinado por ele, quando ocupava, na época, o cargo de diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa. O governador justificou o episódio como fruto do pagamento de um empréstimo acordado verbalmente. A citada empresa doou, no ano passado, R$ 200 mil para a campanha do petista ao governo do DF. Perguntado se conhecia o autor do depósito em causa, o petista disse que "era uma pessoa amiga minha, militante há anos”. Da mesma forma, em situação semelhante, quando foi acusado de envolvimento com a corrupção no Ministério do Esporte, governador também disse que era amigo do policial cuja denúncia ajudou a derrubar o ministro desse órgão. O curioso de tudo isso é que esse político é amigo de pessoas insatisfeitas ou vingativas que vêm a público para denunciar suas falcatruas e expor um quadro terrível de suspeitas e de incredulidade sem fim, deixando a sociedade brasiliense mais uma vez morta de vergonha, em sequência de graves corrupções ocorridas no passado recente no governo local, cujas feridas não foram plenamente saradas. O pior dessa triste história é que, na forma espantosa e pouco convincente como o governador tenta se justificar, dada a insipidez da argumentação, percebe-se claramente que nem ele está acreditando no que diz, deixando transparecer muita dúvida no ar, embora a Câmara Legislativa do DF, que teria o dever legal de apurar os fatos, contrariando o sentimento de repúdio da sociedade pelos fatos denunciados, teve a insensatez de arquivar pedidos de impeachment contra o governador, sob o argumento de que "... não tem prova cabal ou materialidade, e faria isso se fosse qualquer um o governador. Temos ainda o início de um inquérito. No futuro, pode haver provas cabais. E não hesitaria abrir um impeachment". O povo de Brasília, em que pese seja responsável pela colocação desse governador no Buriti, tem a obrigação cívica de eleger pessoas com legitimidade ética e moral capaz de governar com dignidade e competência insuspeitas a capital dos brasileiros, cujo pré-requisito deverá ser a aprovação de candidato no teste da ficha limpa, de modo a assegurar certeza e confiança no desempenho translúcido de cargo tão relevante. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 10 de novembro de 2011

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