quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Barbaridade

Depois de passados dez anos da sua renúncia ao Senado Federal, um cidadão paraense acaba de tomar posse no cargo de senador, mas foi preciso que a Mesa Diretora da Casa convocasse sessão extraordinária durante o recesso para que isso pudesse acontecer. Poucos deputados e senadores acompanharam, como o líder do governo no Senado, que declarou que "O novo senador é um aliado importante, que vai nos ajudar em matérias importantes. Se fez justiça". O senador achou normal a sua posse em pleno recesso parlamentar e faltando apenas quatro dias para o término de 2011, o que lhe garante o recebimento de R$ 3.448,14, referente à proporcionalidade dos vencimentos do mês em curso. O salário integral de janeiro, no valor de R$ 26,7 mil, também será pago integralmente. Tudo isso sem sequer ter a obrigação de passar perto das circunscrições distritais, onde se localiza o Congresso. Durante entrevista, o novo senador declarou apenas que "Chego com humildade, como um recruta se apresentando.". A população brasileira não tenha a menor dúvida de que o novo senador já chega ao Congresso mostrando que é realmente um verdadeiro “recruta”, ante ao apetite por ele demonstrado quanto ao embolso de pouco mais de R$ 30 mil, sem a obrigação de trabalhar um dia ao menor. Caso este país fosse possuidor do mínimo de seriedade e de políticos honestos, o próprio recruta de araque seria a primeiro a recusar tamanha excrescência, desonestidade e falta de caráter. O bom senso recomendaria que a sua posse, até mesmo para suavizar um pouco a sua fama negativa de aproveitador dos recursos públicos, tão propalada no passado, deveria se dar concomitante à abertura dos trabalhos legislativos de 2012. Não menos honesto é o Senado Federal, que aquiesce com a prática de ato indigno, contrário aos princípios da administração pública, por não se coadunar com as regras de decência que se exige de um parlamento que poderia ser respeitado, dignificado e merecedor do referendo da população brasileira. O que se esperar de um recruta de mentirinha, que “humildemente” se apresenta apenas com tamanha disposição para levar vantagem, bem antes de a batalha começar? Por essa e outras demonstrações de falta de sensatez, não deixa de ser desolador o quadro dos políticos brasileiros, uma vez que os cidadãos que ingressam no serviço público, pela via eleitoral, já vêm à luta imbuídos do propósito de defender seus interesses, sem o mínimo escrúpulo ou vergonha na cara que o homem é obrigado a ter. Urge que a sociedade incuta na sua consciência cívica a necessidade de que os representantes do povo têm a obrigação de primar pela observância dos princípios da decência, honestidade, ética e moralidade, como uma das condições indispensáveis para representar com dignidade o povo brasileiro. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 28 de dezembro de 2011

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