segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Retrocesso à liberdade de imprensa

A presidente da República, que não se cansava de defender a imprensa livre, mas, de repente e de forma surpreendente, ela, enfim, foi convencida pela cúpula do seu partido sobre a necessidade de promover a regulamentação da mídia, cuja medida será inserida no plano de governo a ser apresentado à sociedade até outubro vindouro, à vista do possível segundo mandato. Embora a falta de coerência seja inerente aos petistas, a atitude da presidente causa enorme perplexidade, porque desde a sua posse no Palácio do Planalto, a presidente nunca se manifestou favorável à colocação na pauta das suas prioridades a regulação da mídia. Essa decisão se torna preocupante por contrariar o pensamento da presidente, que sempre demonstrou publicamente reação negativa acerca dessa matéria, que refutava a ideia de controlar os meios de comunicação, por entender que isso não era atitude democrática nem benquista para qualquer presidente. Não obstante, as terríveis pressões promovidas pelos movimentos sociais e militantes de partidos políticos atingiram o clímax, porque eles discordam completamente do que consideram o monopólio da informação instituído no país, nas últimas décadas. Na opinião dos radicais governistas, os meios de comunicação interferem intensamente nos interesses petistas, principalmente por veicularem noticias que deturpam os fatos e prejudicam as atividades governamentais, permitindo que a sociedade faça juízo errado sobre os atos da administração do país, quando, na realidade, eles refletem apenas a verdade sobre os acontecimentos. Não há a menor dúvida de que esse tema de regulação da mídia somente se tornou prioritário, agora, para o Palácio do Planalto porque já está mais do que evidenciado que a imprensa livre tem o poder de incomodar e mexer com a “dignidade” dos homens públicos, que não estão imunizados contra as lentes e os teclados da imprensa, que ainda é livre para noticiar os fatos, fazendo públicas as falcatruas, as irregularidades, as corrupções e os malfeitos e isso tem o condão de contrariar os interesses deles. Eles ignoram que, no Estado Democrático de Direito, a contribuição da mídia livre é imprescindível para mostrar o verdadeiro valor e a honorabilidade dos políticos, quando existentes, os quais fazem questão da transparência sobre seus atos, como forma de justificar seu desempenho como lídimos representantes do povo, em harmonia com os ditames constitucionais. É importante se descobrir o que realmente existe por traz dessa tão “relevante” decisão presidencial, quando existem tantas prioridades relegadas nos porões do Palácio do Planalto, a exemplo das reformas estruturais do Estado, cuja omissão vem contribuindo para a estagnação da economia e o consequente subdesenvolvimento do país. Por seu turno, se a medida agora aventada é imprescindível, não ficou claro o motivo pelo qual somente agora ela é pautada, dando a entender que se trata tão somente de mais uma manobra para possibilitar a introdução da censura, como forma de controlar os meios de comunicação e a liberdade de expressão, ou seja, essa história de regulamentação da mídia não convence, diante da modernidade e da evolução da humanidade, absolutamente ninguém que tenha o mínimo de racionalidade e de civilidade, por constituir medida visivelmente de retrocesso e de incompetência administrativa. Como se trata de partido que tem como espinha dorsal o controle do estado sob os meios de produção, a distribuição e o financiamento, não há como não acreditar que essa história de pauta não passa de forte indicativo a caminho da censura e do sigilo das comunicações, infelizmente chancelada pelos beneficiários do programa Bolsa Família, que certamente há de concordar, por votar maciçamente no governo, com esse projeto absurdo e mirabolante agora encampado pela presidente do país. À toda evidência, a regulação da mídia não combina com democracia, que é sinônimo de liberdade de expressão e de pensamento, mas sim com retrocesso, por reprimir os meios de informação. Essa ideia de controlar as atividades de comunicação somente se respalda na falta de criatividade e na inexistência de prioridades do governo para a implementação das políticas públicas, a exemplo da má qualidade da prestação dos serviços públicos. É bem possível que somente aqueles que são desfavoráveis aos conceitos de aperfeiçoamento e de modernidade que levaram às conquistas e os avanços social, político, econômico, democrático e dos meios de comunicação, devam comungar com ideias tão absurdas e contrárias ao desenvolvimento da humanidade e do país. É difícil se acreditar que ainda existam pessoas que estejam de acordo com o cerceamento da expansão das comunicações e com o seu controle, a exemplo do que foi feito na Venezuela, no Equador, na Argentina e nos demais países que são contrários à plena liberdade da imprensa e das comunicações. Não há a menor dúvida de que a regulação da mídia tem por exclusiva finalidade se evitar que os fatos possam ser divulgados livremente, principalmente aqueles que dizem respeito à atuação ou à omissão da administração pública, que não tolera tanta acusação sobre as precariedades que grassam no país. É evidente que, sob o regime da mordaça, as denúncias sobre corrupção, irregularidades e outras informações similares deverão ser tratadas com severo sigilo, para que a sociedade não possa conhecê-las nem se manifestar sobre elas. A sociedade, como importante guardiã da democracia, tem o dever de se despertar e de ficar atenta para o fato de que, de regulação aqui e ali, logo, logo, o país deixará de respirar os salutares ares da plena liberdade, quando então vai perceber o tamanho do estrago causado aos princípios democrático e de liberdade, conquistados a duras penas e sob o maior sacrifício, ao longo de muito tempo. O povo tem o dever cívico e patriótico de se antecipar a acontecimentos perniciosos aos direitos humanos, especificamente acerca da restrição da liberdade de imprensa, e de exigir que os idealizadores de projetos malévolos e prejudiciais ao interesse público, como essa de regulação da mídia, sejam eliminados da vida pública, tendo em vista que os reais objetivos deles é apenas servir à satisfação de interesses pessoais e partidários, em notório detrimento dos princípios democrático e da plena liberdade da imprensa. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de agosto de 2014

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