Embora
o deputado paulista tente negar de mãos juntas e por todos os meios que é
inocente nessa história de desvio de recursos dos cofres da Prefeitura de São
Paulo, a Justiça da Ilha de Jersey, paraíso fiscal europeu, obrigou a devolução
ao erário municipal do valor de US$ 28,3 milhões, o qual já confirmou o recebimento
de cerca de um milhão de libras esterlinas, que equivale à primeira parcela do
repasse total. Os recursos em questão estavam depositados em nome de empresas ligadas
à família do parlamentar do PP-SP, que sempre negou a existência de contas
bancárias no exterior, mas a confirmação dos valores não deixa a menor dúvida
sobre o seu desvio dos cofres municipais. O recebimento do valor foi confirmado
pela Prefeitura de São Paulo, tendo sido transferido para a conta da
administração municipal o valor equivale a R$ 3,25 milhões. O ex-prefeito nega
ter desviado recursos públicos de obras durante sua gestão, mas, em
novembro de 2012, houve a primeira decisão reconhecendo o direito à repatriação
e culpa diretamente do ex-prefeito e atual deputado paulista pela fraude em
causa. Em janeiro último, a Justiça calculou em US$ 28,3 milhões (mais de R$
55,8 milhões, na cotação atualizada) o total a ser devolvido aos cofres do
município que teria origem em desvios na construção da Avenida Água Espraiada,
há 15 anos, na época em que o deputado era prefeito da capital paulista. Causa
perplexidade se saber que o valor recuperado tenha sido identificado, tendo por
origem o desvio dos cofres da prefeitura de São Paulo e depositado na conta
bancária de empresa ligada à família do então prefeito, mas ele nega o fato que
parece ser incontestável, porque a titularidade da fortuna tem o seu nome registrado
na conta, que não deixa dúvida sobre a quem pertence o valor, que retorna para
onde jamais deveria ter saído, ou seja, o Tesouro municipal, para ser aplicado
em benefício da sociedade. Trata-se de importante acontecimento na
administração pública, que deve ser comemorado, por ser a primeira vez que
há retorno ao país de recursos desviados pela família do parlamentar, em
virtude de decisão judicial, fato que constitui evidente vitória para o governo
municipal, com a recuperação de parte do prejuízo causado pelo criminoso
deputado, que, infelizmente, continua em pleno exercício desse cargo, em
lastimável contradição, por ter sido eleito pelo povo roubado por ele. É bastante importante que a Justiça internacional
tenha provado e comprovado que o ilustre ex-prefeito e atual deputado por São
Paulo tenha desviado milhões de reais dos cofres municipais, mas a sua
reputação, como se vê, continua intacta, inabalável e impoluta como líder
partidário e parlamentar, podendo representar normalmente o povo paulistano e
ainda se constituir como político ambicionado por diversos partidos, inclusive pelo
poderoso PT, que tudo fez para pousar em fotografia com ele, no momento do recebimento
do apoio dele. O curioso é que somente o povo esclarecido, sem paixão
político-partidária, se envergonha com situação tão degradante, deprimente e
indigna para as atividades políticas desempenhadas por integrante do Congresso
Nacional brasileiro, que não demonstra qualquer sentimento de repulsa nem
indignação por alguém que feriu fragorosamente o decoro parlamentar e continua
impune exercendo o cargo de deputado, como se desviar dinheiro público para
contas bancárias suas e de familiares fizesse parte regular dos rituais
parlamentar e legislativo. A extrema pobreza intelectual e moral do Parlamento
deixa evidente a urgente necessidade da reforma dos conceitos obsoletos e
retrógrados das atividades político-partidárias exercidas pelos homens públicos
que se profissionalizaram na política, professando ainda os hábitos condenáveis
e recrimináveis que não se coadunam com a modernidade democrática, onde a
corrupção é sempre condenável e punível, como forma de moralização da
administração pública. Compete à sociedade eliminar da vida pública os maus
políticos que aproveitam os exercícios dos cargos de representatividade eletiva
para se beneficiar e satisfazer seus objetivos espúrios e inescrupulosos, a
exemplo desse deputado paulista, que não consegue comprovar a sua inocência,
porque os fatos são robustamente consistentes e inexoráveis, principalmente por
terem sido constatados pela Justiça internacional, que merece completa
credibilidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 09 de agosto de 2014
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