domingo, 10 de agosto de 2014

Repúdio à desonestidade

Embora o deputado paulista tente negar de mãos juntas e por todos os meios que é inocente nessa história de desvio de recursos dos cofres da Prefeitura de São Paulo, a Justiça da Ilha de Jersey, paraíso fiscal europeu, obrigou a devolução ao erário municipal do valor de US$ 28,3 milhões, o qual já confirmou o recebimento de cerca de um milhão de libras esterlinas, que equivale à primeira parcela do repasse total. Os recursos em questão estavam depositados em nome de empresas ligadas à família do parlamentar do PP-SP, que sempre negou a existência de contas bancárias no exterior, mas a confirmação dos valores não deixa a menor dúvida sobre o seu desvio dos cofres municipais. O recebimento do valor foi confirmado pela Prefeitura de São Paulo, tendo sido transferido para a conta da administração municipal o valor equivale a R$ 3,25 milhões. O ex-prefeito nega ter desviado recursos públicos de obras durante sua gestão, mas, em novembro de 2012, houve a primeira decisão reconhecendo o direito à repatriação e culpa diretamente do ex-prefeito e atual deputado paulista pela fraude em causa. Em janeiro último, a Justiça calculou em US$ 28,3 milhões (mais de R$ 55,8 milhões, na cotação atualizada) o total a ser devolvido aos cofres do município que teria origem em desvios na construção da Avenida Água Espraiada, há 15 anos, na época em que o deputado era prefeito da capital paulista. Causa perplexidade se saber que o valor recuperado tenha sido identificado, tendo por origem o desvio dos cofres da prefeitura de São Paulo e depositado na conta bancária de empresa ligada à família do então prefeito, mas ele nega o fato que parece ser incontestável, porque a titularidade da fortuna tem o seu nome registrado na conta, que não deixa dúvida sobre a quem pertence o valor, que retorna para onde jamais deveria ter saído, ou seja, o Tesouro municipal, para ser aplicado em benefício da sociedade. Trata-se de importante acontecimento na administração pública, que deve ser comemorado, por ser a primeira vez que há retorno ao país de recursos desviados pela família do parlamentar, em virtude de decisão judicial, fato que constitui evidente vitória para o governo municipal, com a recuperação de parte do prejuízo causado pelo criminoso deputado, que, infelizmente, continua em pleno exercício desse cargo, em lastimável contradição, por ter sido eleito pelo povo roubado por ele. É bastante importante que a Justiça internacional tenha provado e comprovado que o ilustre ex-prefeito e atual deputado por São Paulo tenha desviado milhões de reais dos cofres municipais, mas a sua reputação, como se vê, continua intacta, inabalável e impoluta como líder partidário e parlamentar, podendo representar normalmente o povo paulistano e ainda se constituir como político ambicionado por diversos partidos, inclusive pelo poderoso PT, que tudo fez para pousar em fotografia com ele, no momento do recebimento do apoio dele. O curioso é que somente o povo esclarecido, sem paixão político-partidária, se envergonha com situação tão degradante, deprimente e indigna para as atividades políticas desempenhadas por integrante do Congresso Nacional brasileiro, que não demonstra qualquer sentimento de repulsa nem indignação por alguém que feriu fragorosamente o decoro parlamentar e continua impune exercendo o cargo de deputado, como se desviar dinheiro público para contas bancárias suas e de familiares fizesse parte regular dos rituais parlamentar e legislativo. A extrema pobreza intelectual e moral do Parlamento deixa evidente a urgente necessidade da reforma dos conceitos obsoletos e retrógrados das atividades político-partidárias exercidas pelos homens públicos que se profissionalizaram na política, professando ainda os hábitos condenáveis e recrimináveis que não se coadunam com a modernidade democrática, onde a corrupção é sempre condenável e punível, como forma de moralização da administração pública. Compete à sociedade eliminar da vida pública os maus políticos que aproveitam os exercícios dos cargos de representatividade eletiva para se beneficiar e satisfazer seus objetivos espúrios e inescrupulosos, a exemplo desse deputado paulista, que não consegue comprovar a sua inocência, porque os fatos são robustamente consistentes e inexoráveis, principalmente por terem sido constatados pela Justiça internacional, que merece completa credibilidade. Acorda, Brasil!  
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 09 de agosto de 2014

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