sábado, 23 de agosto de 2014

As vaias da coerência?

A presidente da República e seu antecessor foram vaiados, por algumas vezes, quando eles acompanhavam juntos a missa de corpo presente do ex-governador de Pernambuco. Com a finalidade de suavizar o desagradável contratempo, assessores procuraram aplaudi-los como forma de abafar os apupos. A situação teria sido ainda mais constrangedora se a coroa de flores enviada pela petista tivesse sido arrancada de perto do caixão, em atendimento a pedidos de pessoas contrariadas com a presença da presidente do país. Os petistas não quiseram comentar as vaias, mas o candidato tucano as criticou, afirmando: "Acho que nenhuma hostilidade nesse momento se justifica. Ele (Campos) era um amigo que conviveu com ela (Dilma) durante o governo Lula". Outros políticos disseram que "Vaiar em velório é ruim. Pelo que ouvi, foi coisa de uma minoria de militantes mais aguerrida. Não vejo maiores consequências políticas." e “As vaias à presidente no velório de Campos refletem a indignação da população. O povo está indignado.". Como não poderia ser diferente, a presidente dos brasileiros permaneceu o tempo todo com semblante de tristeza e de irritação, a ponto de, na saída, negar pedido de selfie de um estudante de 15 anos, sob a alegação de que o momento não permitia fotos. Não há a menor dúvida de as vaias direcionadas à mandatária do país, não importando se em velório, missa, estádios ou nas ruas, podem refletir a indignação do povo e o retrato fiel das precariedades da administração do país, cuja gestão teve o especial cuidado tão somente de priorizar políticas de cunho assistencialista, e mesmo assim merecedoras de críticas dos especialistas, que enxergam graves falhas na condução dos programas pertinentes, em especial no que diz respeito às deficiências no cadastramento dos beneficiários, onde há caso de pagamento para servidores públicos, animais domésticos, comerciantes, familiares de políticos e outras pessoas com renda superior ao mínimo legalmente exigido. Além das falhas no cadastramento, há a terrível falta de acompanhamento, controle e fiscalização sobre a execução dos recursos compromissados com o programa, de modo a agravar e dificultar a certificação sobre a efetividade e a satisfação da finalidade para a qual esse importante programa foi instituído. Nota-se que a precariedade não se verifica apenas quanto ao cadastramento, mas ao controle sobre o cumprimento dos pré-requisitos para o recebimento do benefício, consistentes na obrigatoriedade da frequência escolar das crianças e da necessidade de reciclagem dos pais de família, que teria, neste último caso, a finalidade de especialização e profissionalização dos titilares do benefício, como forma de estimulá-los à procura de emprego e de sua valorização e dignificação, em face da capacitação que os assegura a ter a sua própria renda por meio do seu trabalho e da sua produção. Ao contrário da preocupação com os controles e ao cumprimento das exigências legais pertinentes, o governo simplesmente estimula o progressivo aumento dos beneficiários, possivelmente com a precípua finalidade de mostrar robusta estatística constituída por bolsões de brasileiros que nada fazem nem produzem, mas são capacitados com higidez para votar e eleger os homens públicos que se vangloriam de promover a distribuição de renda às famílias carentes, deixando de se preocupar com outras políticas essenciais ao desenvolvimento do país, principalmente no que pertine aos programas econômicos, cujo desempenho passa há bastante tempo por ciclo periclitante e de declínio, à vista dos resultados apresentados ano a ano, em razão, principalmente, da incapacidade de reformulação das estruturas que são indispensáveis ao fomento do crescimento e do desenvolvimento do país. É inacreditável e até inexplicável que, mesmo tendo desempenho deplorável na administração do país, conforme demonstram notadamente os resultados econômicos, a ponto de ser vaiada até em velório, naturalmente em razão do conjunto da sua obra, a presidente brasileira ainda se mantém na liderança das pesquisas de intenções de voto. Esse fato é muito estranho, por indicar que ela, apesar da evidente rejeição pelo povo, conforme acima relatado, ainda se destaca nas preferências dos eleitores, quando, por coerência, seria normal a sua desaprovação também para a corrida ao Palácio do Planalto, à vista de a sociedade opinar por urgentes mudanças, inclusive na administração do país. Os brasileiros, atentos ao seu dever cívico, precisam perceber que o eficiente gerenciamento do país não se sustenta apenas na distribuição de renda de forma deficiente e sem o devido controle, à vista das potencialidades da nação, que exigem competência e capacidade para a reformulação, o aperfeiçoamento e a modernização dos sistemas capazes de contribuir para o desenvolvimento do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 22 de agosto de 2014

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