Na atualidade, os gastos com publicidade nos governos já se tornaram
práticas incontroláveis e injustificáveis, por constituírem completo desvirtuamento
das finalidades públicas e evidenciarem insensibilidade e falta de
responsabilidade dos administradores públicos. O maior absurdo vem ocorrendo
com gastos nessa rubrica por parte das empresas estatais, que normalmente
esbanjam em publicidade muito mais do que os governos federal, estadual e
municipal, com o intuito de fazer propaganda de suas atividades, com o indevido
comprometimento de bilhões de reais, que são jogados pelos ralos, em razão de
não haver, em absoluto, nada que justifique a obrigação de serem divulgados
seus atos meramente institucionais, que são, normalmente, dissociados de
concorrência. Esses gastos demonstram, à toda evidência, a incompetência da
administração pública, pela falta de priorização de suas políticas de governo,
que devem ter prioridade as metas de satisfação do interesse da sociedade, com
vistas, em especial, aos investimentos na construção de escolas, hospitais,
creches, estradas, portos e na melhoria dos serviços públicos, como o ensino de
qualidade, a ampliação de hospitais e unidades de saúde, o combate à
criminalidade, o saneamento básico, entre tantas atividades e projetos carentes
de fomento, mas que ainda são desprezados ante a especial atenção para a
injustificável visualização promocional dos agentes públicos, que, de firma
inescrupulosa e espúria, preferem empenhar montanhas de verbas com publicidade
e propaganda, permitindo se inferir que se trata como forma de recompensa com
as empresas de comunicação pelas contribuições de companhas, ante a falta de
motivação para justificar tamanha liberalidade com dinheiros dos bestas dos
contribuintes. Na atualidade, graças à Lei de Acesso à Informação, tem sido
possível o conhecimento do enorme rombo provocado nos orçamentos públicos com os
gastos com publicidade dos governos, nas diversas esferas da federação, que são
destinados para reportagens variadas cidades e queimados nas ruidosas e
vistosas peças publicitárias que inundam o rádio e a televisão, sem a menor
necessidade, por não resultarem em benefício para o interesse público. Como
esses dispêndios não são fiscalizados pelos órgãos de controle e fiscalização,
quanto à sua finalidade e legitimidade sobre os verdadeiros objetivos a serem
alcançados, os governos são incentivados a mantê-los em disparada ascensão ano
após ano, sempre em escala progressiva, como forma de divulgar simplesmente os
atos que são da competência administrativa, totalmente dispensável de
publicidade. Há verdadeiro agigantamento e vertiginoso dos gastos com
publicidade, ultrapassando facilmente aos bilhões, que, à luz do bom senso,
deveriam ser evitados, notadamente por não haver a mínima contribuição desses
dispêndios para o interesse público. A rubrica referente à publicidade se
tornou verdadeira deformação orçamentária, tendo se generalizado, sem exceção,
no país, mas há governos que se destacam entre seus pares, a exemplo do mandatário
da capital do país, porque o Distrito Federal é a unidade que mais gastou nos
últimos oito anos, cujas despesas atingiram a cifra de R$ 1,34 bilhão, o
equivalente a 1,75% de seu orçamento. Pesquisa realizada em 2013 constatou que
"Entre 2004 e 2011, os 26 Estados e
o Distrito Federal desembolsaram R$ 10,5 bilhões com propaganda, em valores
corrigidos pela inflação". Estranhamente, nos estados menores, os
gastos com publicidade oficial são proporcionalmente maiores, sem que exista
qualquer justificativa nem beneficio público para a festança bilionária que vem
estatizando fatias cada vez mais expressivas do mercado publicitário no país.
Trata-se de evidente liberalidade com recursos públicos, uma vez que, à toda
evidência, a publicidade oficial, salvo um ou outro caso excepcional ou
emergencial, não tem a menor serventia, constituindo política absolutamente
dispensável e injustificável como necessidade pública, por servir, em essência,
à promoção de campanha eleitoreira, com evidente o abusivo uso de recursos
públicos e, o que é pior, em afronta à legislação eleitoral, por ser
extemporânea e permanente. Não resta a menor dúvida de que a quase totalidade
da publicidade governamental tem a finalidade de conquistar corações e mentes
de eleitores, caracterizando-se prática indevida, distorcida, da aplicação o
dinheiro dos brasileiros, em benefício circunscrito ao governo e ao seu partido,
num círculo bastante restrito, em cristalina afronta aos princípios republicano
e democrático. Ainda há agente público que tenta justificar as despesas com
publicidade sob o escorregadio argumento do fiel cumprimento da obrigação
constitucional de dar visibilidade aos atos da administração, com caráter
educativo, informativo e de orientação social, sem indicar o dispositivo que
impõe tal "visibilidade". Ao contrário disso, a Carta Magna diz, no seu
artigo 37 (inciso XXII, § 1.º), ipsis
litteris: "A publicidade dos
atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo
constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de
autoridades ou servidores públicos". Em geral, percebe-se, com
facilidade, que nem mesmo a impessoalidade é respeitada, uma vez os logotipos
simbolizam a gestão, a exemplo do slogan "Brasil, um País de Todos", que indicava o governo do ex-presidente
petista, cuja propaganda oficial corria solta, contrariando o princípio
constitucional, como fazem os governos país afora, mediante propaganda e
promoção pessoal da autoridade pública no poder. Convém que a forma espúria e
inescrupulosa da publicidade oficial seja extirpada, com urgência, dos
orçamentos públicos, ressalvados os casos excepcionais e emergenciais, como
instrumento de moralização das despesas com recursos dos brasileiros, devendo
haver rigorosa fiscalização pelos órgãos de controle, em cumprimento à sua
competência institucional, de modo que a substancial soma de verbas públicas seja
aplicada prioritária e adequadamente nas políticas públicas, em exclusivo benefício
da sociedade e do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 14 de agosto de 2014
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