quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Carência de autenticidade

Em entrevista ao Jornal Nacional, a candidata petista à reeleição disse que os governos dela e do seu antecessor prepararam o país para novo ciclo de crescimento e consolidação da classe média. O repórter também fez perguntas a ela sobre sucessivos escândalos de corrupção na administração federal e sobre a posição do PT na defesa dos condenados no mensalão. Ela afirmou que "Criamos as condições para o país dar um salto colocando a educação no centro de tudo. E isso significa que nós queremos continuar a ser um país de classe média, cada vez maior a participação da classe média. Mais oportunidades para todos". O jornalista, referindo-se ao julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, que condenou e levou à prisão de dirigentes do partido, perguntou à petista se ela não teria sido "condescendente" com a corrupção, uma vez que o PT é partido com "um grupo de pessoas comprovadamente corruptas, mas que são tratadas como guerreiros, como vítimas". Embora esse mesmo questionamento tenha sido repetido por quatro vezes, a presidente não respondeu, preferindo enveredar sistematicamente pelo caminho da embromação, apenas dizendo que "Eu sou presidente. Eu não faço nenhuma observação sobre julgamentos realizados pelo Supremo Tribunal. A Constituição exige do presidente da República que nós respeitemos e consideremos a autonomia dos outros órgãos. Eu não julgo as ações do  Supremo. Eu tenho opiniões pessoais. Durante o processo inteiro não manifestei nenhuma opinião. Não vou tomar nenhuma posição que me coloque em confronto, em conflito, aceitando ou não. Eu respeito as decisões da Suprema Corte brasileira". A presidente fez questão de ignorar, de forma reiterada, que a indagação sequer tangenciada por ela se dirigia diretamente à pessoa da candidata à reeleição, que se encontrava na bancada do JN, naquele momento, nessa condição e não à pessoa da presidente da República, que são duas figuras distintas e, como tais, deveriam ter sido consideradas para o fim da entrevista, que se insere no contexto da campanha eleitoral. Trata-se de evidente comportamento antagônico ao princípio da transparência que deve ser fielmente observado nas relações entre candidatos e eleitores, sendo que estes certamente gostariam de conhecer a posição de candidato sobre tema que diz respeito aos conceitos de honestidade, ética, decoro e moralidade. A falta de resposta à questão de fundamental importância para o exercício do não menos relevante cargo de presidente da República não contribui para o aperfeiçoamento dos princípios democrático e republicano, podendo, ao contrário, permitir à ilação de que a candidata não pretende opinar sobre a corrupção que se alastrou, à toda evidência, no seio do seu partido, ou de que ela pode entender que os malfeitos são normais e insignificantes na administração pública, já que não teve coragem de exonerar nenhum ministro denunciado por ato de corrupção, porquanto todos se afastaram dos ministérios pelas portas dos fundos, por iniciativa própria, por não terem suportado as pressões da imprensa e da sociedade. Ao se esquivar da pergunta em causa, com insistência e de forma visivelmente injustificável, a candidata petista demonstrou intolerância e prepotência, ao contrariar as saudáveis práticas política e democrática, pela tentativa de transformar, sem pertinência, pergunta sobre questão relacionada à sua candidatura em tema de nível presidencial, ao alegar questão de ética entre as instâncias dos poderes, em clara manobra para fugir do cerne do assunto abordado na entrevista, que se restringia à dignidade e à honorabilidade dos cidadãos, por dizerem respeito à corrupção tão disseminada no âmbito do PT, principalmente pelos mensaleiros, que o partido da candidata os acolheu com exagerado mimo somente deferido aos heróis protagonistas de algo relevante e meritório. Em suma, a candidata se esquivou de responder sobre a falta da ética que foi consolidada por lideranças do seu partido e se espraiou no seu governo, a exemplo dos escândalos da Petrobras que estão sendo investigados por CPIs do Congresso Nacional. Os casos de corrupção se alastraram no governo dela com a mesma voracidade com que o fisiologismo, que é forma de ramificação de corrupção com recursos públicos, expandiu-se e se firmou na esplanada mais famosa do país, por permitir que a ineficiência e a ineficácia predominassem e se enraizassem, de forma deletéria, na administração pública, mantendo-se firme mesmo sob a recriminação da sociedade mais esclarecida, que não comunga com práticas de desgoverno, representadas, notadamente, pela falta de qualidade na prestação dos serviços públicos, evidenciada na degeneração da segurança pública, da saúde pública, dos transportes, da educação e dos demais programas de competência constitucional e legal do Estado. No rol das precariedades devem ser incluídas as políticas econômicas, representadas pela nítida retração das atividades econômicas do país, a exemplo dos desalentadores crescimento do Produto Interno Bruto e indicadores econômicos, que apontam para sérias crises do desempenho da equipe econômica do governo, por terem deixado de adotar as medidas compatíveis com a contextualização da economia mundial. Urge que a população se conscientize sobre a necessidade de transparência, sinceridade e autenticidade dos homens públicos, para a competente administração do país, como forma de contribuir não somente para o aperfeiçoamento e a modernização dos princípios democrático e republicano, mas principalmente para o desenvolvimento do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 20 de agosto de 2014  

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