Estranhamente, a
presidente da República, em entrevista a jornalistas neste domingo, defendeu a
Petrobras, alegando que a empresa precisa ser preservada dos embates eleitorais.
Ela também foi enfática em dizer que a estatal e a sua direção não podem ser
comprometidas por “qualquer factoide
político.”. Ela afirmou que: “Eu acho
que se tem uma coisa que a gente tem que preservar, porque tem sentido de
estado e país, é não misturar eleição com a maior empresa de petróleo do país (Petrobras). Isso não é correto, não mostra nenhuma
maturidade. Eu acho fundamental que
na eleição e nesse processo nosso haja maior e mais livre discussão. Agora,
utilizar qualquer factoide político para comprometer uma grande empresa e sua
direção é muito perigoso”. Ainda na entrevista, a petista criticou a
atitude dos principiais adversários à corrida presidencial acerca da promessa
deles de reduzir drasticamente o número de ministérios, sob a alegação de que a
criação de ministérios no seu governo teve substancial importância, tendo
acenado, em contraposição aos seus críticos, sem antecipar detalhes, que “obviamente, outros ministérios poderão
aparecer”. Ela foi bastante ingênua e deselegante ao sugerir aos
jornalistas que “Perguntem (aos
adversários) qual ministério vão reduzir.
Quero ver um exemplo”. Segundo a presidente, a Secretaria da Micro e
Pequena Empresa foi fundamental para que o Congresso Nacional aprovasse a nova
Lei do Supersimples, enquanto a de Política para as Mulheres permitiu a
aplicação da Lei Maria da Penha, como se fosse necessária a estrutura de órgão ministerial
para a aprovação de leis. Não há dúvida de que a petista demonstra que se
encontra bastante incomodada com a terrível crise instalada no seu governo, a
partir dos escândalos com origem na principal empresa nacional. A Petrobras se
encontra há algum tempo no centro das atenções não somente da mídia, mas em especial
da oposição, em face da crise resultante das irregularidades pertinentes à operação
Lava-Jato, sob apuração pela Polícia Federal, e à compra da refinaria de
Pasadena, nos Estados Unidos da América, cujo negócio é objeto de investigação
por duas CPIs, pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e Tribunal de
Contas da União, que concluiu que a aquisição dela teria provocado prejuízo à
estatal da ordem de US$ 792,3 milhões. Esse último affaire ganhou maior
destaque porque a petista presidia o Conselho de Administração da Petrobras na
época em que foi aprovada a compra da aludida refinaria, mas ela disse que o relatório
pertinente à aquisição em causa continha imprecisão quanto à omissão de duas
cláusulas, as quais causaram a obrigatoriedade de mais desembolso pela estatal.
Causa espécie que a presidente apele para que os graves escândalos da estatal
fiquem fora das discussões inerentes aos embates eleitorais, quando ela, na
qualidade de presidente da nação, tem a primordial obrigação de esclarecer e
justificar as graves falcatruas que causaram enormes prejuízos ao patrimônio da
empresa, com a diminuição, pela metade, do seu capital, justamente em razão do
direto envolvimento do Palácio do Planalto nesse desastre gerencial, mediante o
aparelhamento da estatal, com a distribuição de cargos a políticos integrantes
das espúrias alianças partidárias, em troca de apoio político, e a ingerência palaciana
nas atividades operacionais, em especial quanto ao controle de preços dos
combustíveis, com vistas a evitar seus reflexos na inflação, entre outras
interferências indevidas e prejudiciais ao desempenho econômico-financeiro da
estatal. No Estado Democrático de Direito, os atos e fatos da administração
pública são obrigatoriamente submetidos aos princípios, entre outros, da
transparência e legalidade, os quais jamais podem ser substituídos pelo
recriminável e repudiável sigilo, quanto mais em se tratando de acontecimentos
de extrema gravidade, por envolver o patrimônio da sociedade, que foi
notoriamente dilapidado. Com relação aos escândalos da Petrobras, a presidente
vem prestando enorme desserviço à sociedade e ao país, por demonstrar, de forma
explícita e injustificável, resistência à apuração dos fatos, à luz das
blindagens que estão sendo promovidas nas CPIs em curso, o que enseja o enquadramento
dos envolvidos no crime de responsabilidade, pela clara inobservância dos
salutares princípios constitucionais da transparência e legalidade. À toda
evidência, não pode haver legitimidade na defesa de algo absolutamente
irregular que diz respeito ao interesse público e muito menos serem
classificados como meros “factoides políticos” fatos tão abusivos e prejudicais
ao patrimônio da sociedade e do país, por não condizerem com os princípios
acima aludidos. No que tange ao inchamento da máquina pública, com a
incompreensível manutenção de quase quarenta ministérios, na sua maioria
visivelmente inútil e dispensável, cuja instituição teve por finalidade apenas
atender aos abomináveis acordos resultantes no loteamento de cargos públicos, e
ainda o anúncio da intenção da criação de outros ministérios, é induvidoso que
a petista confessa à nação sua dificuldade na gestão dos recursos públicos, por
evidenciar falta de racionalidade administrativa - que se processaria mediante
o enxugamento da máquina pública - cuja situação vem causando enorme
desperdício de dinheiros dos brasileiros. Por sua vez, a aprovação das leis por
ela referidas poderia ser obtida por meio de ministério competente que poderia
absorver o trabalho de outros ministérios e de muitas secretarias que efetivamente
pouco ou nada fazem, não havendo, em princípio, justificativa plausível para a existência
deles. Certamente que nem nas republiquetas existam tantos ministérios na sua
estrutura administrativa, por não contribuírem para o aperfeiçoamento da
racionalidade administrativa, ante a conscientização de que o funcionamento
racional da máquina pública condiz com a eficiência da gestão dos recursos públicos.
Urge que o povo brasileiro se conscientize sobre a necessidade de se exigir
racionalidade e transparência no gerenciamento dos recursos públicos, de modo a
serem observados, com rigor, os princípios fundamentais da administração
pública, em consonância com os preceitos de modernidade e de civilidade
gerencial. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de agosto de 2014
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