Conforme resultado de
investigação realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
mais de cem famílias só do município de Itapemirim/Espírito Santo tiveram seus
benefícios do Bolsa Família suspensos, em face da constatação de irregularidades
nos respectivos cadastramentos. Entre elas constava a esposa de um vereador,
que recebe cerca de R$ 6 mil mensais de salário e, mesmo assim, ela continuava
sendo beneficiada com o valor de R$ 182,00 do programa social do governo
federal. Na oportunidade, houve a exclusão dos casos irregulares do programa e
apenas a promessa sobre a apuração dos fatos pertinentes. Somente a partir da constatação
é que a Prefeitura de Itapemirim resolveu ampliar a fiscalização, para
verificar a existências de casos semelhantes. Trata-se de episódio isolado que
foi detectado pelo órgão responsável pela execução do programa, que tomou a
iniciativa da suspensão do pagamento da família do vereador, conquanto tal medida
nem precisava ter sido adotada por ele, porque isso é da competência da própria
prefeitura, que incumbe cadastrar e controlar a relação dos beneficiários,
tendo a obrigação de já ter constatado o fato bem antes. O mais grave dessa
constatação é que tem pessoa que recebe sem precisar, em prejuízo de famílias
carentes que sequer são cadastradas, embora elas preencham os perfis que atendem
aos requisitos legalmente exigidos. Conforme a regulamentação do Bolsa Família,
o programa se destina à transferência direta de renda para beneficiar famílias
de extrema pobreza, com renda mensal de até R$ 70,00 por pessoa, ou pobres
com renda mensal de R$ 70,00 a R$ 140,00 por pessoa. O valor do benefício
depende do tamanho da família, da idade dos seus membros e da sua renda e ainda
há benefícios específicos para famílias com crianças, jovens, gestantes e mães
que amamentam. Como o único programa
que o governo garante que executa é exatamente o Bolsa Família, que já existe
há mais de dez anos, conforme as reiteradas propagandas e publicidades no rádio
e na televisão, obviamente pagas com recursos dos bestas dos contribuintes,
para o governo mostrar o que ele chama de milagre da distribuição de renda e de
contribuição para o desenvolvimento social, seria de bom alvitre que, pelo
menos, houvesse eficiência e eficácia na administração dessa importante política
de governo, de modo que os recursos públicos nela envolvidos sejam gastos
efetivamente nas finalidades do interesse público e que não fossem suscetíveis de
reiteradas e graves irregularidades. O programa Bolsa Família revela tamanha
falta de controle e de eficiência que prevê pena exemplar para quem se
beneficia dele sem preencher os principais requisitos de reconhecida situação
de miséria, sem previsão de punição para os casos como o do vereador, que
recebia mesmo de maneira irregular e abusiva. No momento que for estabelecido que
os aproveitadores, pegos com a boca da botija, serão punidos exemplarmente, com
a devolução, devidamente corrigidos, dos valores recebidos irregularmente, e
com penas cabíveis, na forma da lei, tudo como mecanismo para desestimular os
espertinhos a se aproveitarem da evidente falta de controle existente na execução
desse programa, que não pode funcionar com eficiência para não prejudicar os
importantes dividendos eleitoreiros ao governo, na forma como ele vem sendo
executado. Enquanto os casos irregulares se multiplicam a todo instante nesse
decantado programa, além de não adotar efetivas medidas moralizadoras de
controle, que seriam razoáveis notadamente com o recadastramento geral dos
beneficiários, com vistas ao seu enxugamento para menos da metade, o governo
ainda incentiva o seu inchamento sob o argumento de maior e ampla distribuição
de renda, alegando que outros governos não tiveram capacidade para fazê-la. Não
há dúvida de que esse programa é importantíssimo para amenizar o sofrimento de
parcela significativa do povão, mas não faz o menor sentido que ele seja
executado ao deus-dará, sem o indispensável controle. É estranho que o mundo
inteiro sabe, exceto o governo federal, que o programa Bolsa Família beneficia
infinidade de pessoas que não se enquadram nos requisitos por ele instituídos,
conforme a constatação em apreço, mas quase nada faz para tornar eficiente a
sua execução, somente atuando em casos isolados e inevitáveis. O caso aqui
comentado representa pequenina amostra do quanto o governo não tem capacidade nem
condição para controlar quem efetivamente deve se beneficiar do
assistencialismo que sustenta suas principais atividades e mesmo de forma
deficiente e completamente contrária aos interesses da sociedade, por evidente
desperdício de recursos públicos. Mesmo com total descontrole, o governo não se
cansa de elogiar o seu principal programa de assistencialismo, como se não
tivessem outras prioridades para serem cuidadas na sua gestão, a exemplo da
economia, que apresenta crise crônica, conforme demonstram os indicadores
econômicos. Urge que os contribuintes exijam que os recursos do programa em
apreço sejam administrados com a necessária competência e responsabilidade
gerencial, de modo a justificar os dispêndios de parcelas expressivas do
Orçamento da União, que devem, para tanto, se submeter à rigorosa observância aos
princípios da administração pública, em especial da legitimidade, moralidade e economicidade,
compreendendo a eficiência e a eficácia na sua aplicação. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 25 de agosto de 2014
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