quinta-feira, 28 de agosto de 2014

As responsabilidades são inconfundíveis

Em entrevista coletiva concedida no Palácio da Alvorada, presidente da República disse que a Petrobras está acima de qualquer crime ou malfeito e que dirigentes ou responsáveis por denúncias de corrupção devem ser punidos. Ela afirmou que “O Brasil e nós todos temos que aprender que se pessoas cometeram erros, malfeitos, crimes, atos de corrupção, isso não significa que as instituições tenham feito isso. Não se pode confundir as pessoas com as instituições. A Petrobras é muito maior do que qualquer agente dela, diretor ou não, que cometam crimes, equívocos e que sejam condenados. Isso não significa condenação da empresa. Homens e mulheres falham, não as instituições. A Petrobras está acima disso”. A presidente do país tem absoluta razão, ao afirmar que a maior empresa brasileira está acima de crimes ou malfeitos – mas o seu governo, que tinha a incumbência de evitá-los, não conseguiu - e que os envolvidos nas corrupções devem ser punidos, na forma da lei. Não obstante isso seja pura verdade, a petista se faz de mal-entendida ao tentar desviar o foco dos escândalos ocorridos na Petrobras para meras responsabilidades dos dirigentes protagonistas de improbidades administrativas, como se elas tivessem acontecido bem longe da estatal, quando as irregularidades se originaram justamente na má gestão do patrimônio da aludida empresa, no que concerne à desastrada e deletéria compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, possivelmente por preços superfaturados e absurdamente injustificáveis, em evidente demonstração de incompetência atribuível aos servidores que participaram dessa famigerada aquisição, por serem certamente pessoas da confiança do governo, que foram colocadas nos importantes cargos de direção sob o seu beneplácito, o qual não tem como negar que a estatal vem servindo como verdadeiro cabide de empregos de seus aliados, notadamente em atendimento às espúrias coalizões de governabilidade, que têm como essencial fundamento a marca do arraigado e indecente fisiologismo, que envolve o loteamento de cargos dos ministérios e das empresas estatais, como no caso da Petrobras, que foi aparelhada por afilhados e apaniguados pelo preferencial partido aliado ao governo, i.e., o PMDB, que preenche, por seus filiados, cargos de direção na estatal. No caso específico, a presidente do país não contribui para a melhor maneira de condução das medidas capazes de facilitar as investigações alusivas às irregularidades envolvendo a estatal, principalmente compreendendo a compra de Pasadena e a operação Lava Jato, que estão sendo conduzidas, respectivamente, pelo Congresso Nacional e pela Polícia Federal. Ao contrário, a imprensa noticia com frequência as manobras governistas para blindar e dificultar a elucidação dos fatos denunciados, sabidamente envoltos de enormes gravidades e muito mistério, ante a tentativa de abafamento dos expressivos prejuízos causados ao patrimônio da Petrobras, que tem como envolvidos nos “malfeitos” - forma suavizada como são denominadas as irregularidades pela presidente -, certamente por entender que aquele termo está imune à recriminação. O certo é que, quer queira ou não a presidente, não se pode simplesmente falar nas irregularidades com origem na Petrobras sem relacioná-las à responsabilidade que cabe ao governo, por ser estatal que deveria ser administrada na gestão do governo sob o prisma da estrita observância aos sagrados princípios da competência, eficiência e, sobretudo, responsabilidade, jamais permitindo que o seu patrimônio fosse dilapidado em quase a metade do seu valor, em razão da má gestão dessa que já foi a empresa orgulho dos brasileiros, por ter sido, anterior a esse governo, gerenciada com bastante competência e eficiência, imune à ingerência palaciana, cuja medida vem sendo praticada, na atualidade, mediante o indevido represamento de preços dos combustíveis, para evitar reflexo na inflação, e o aparelhamento de seus principais cargos, por meio do escrachado e vergonhoso fisiologismo ideológico imperante na classe política, que não demonstra o menor pudor quanto à necessidade da fiel observância aos princípios republicano e da administração pública, notadamente acerca da ética, legalidade, moralidade e dignidade. Compete à sociedade, principalmente à vista da sua responsabilidade cívica e patriótica, zelar pelo patrimônio nacional, principalmente da Petrobras, e exigir dos governantes competência, eficiência e responsabilidade sobre a administração do país, inclusive quanto à gestão dos recursos públicos integrantes das empresas estatais, que não podem servir de cabide de empregos, em cumprimento de alianças inescrupulosas, nem de imprudência acerca do gerenciamento operacional, sob pena de responsabilização dos envolvidos com irregularidades. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 27 de agosto de 2014

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