domingo, 24 de agosto de 2014

Incoerência e demagogia?

Conforme reportagem publicada no site Folha.com, uma moradora do sertão da Bahia recebeu dentes novos um dia antes de gravar imagens com a candidata petista, para ser usada na propaganda de sua campanha à reeleição. Ela, que é trabalhadora rural de Paulo Afonso e beneficiária do programa Água para Todos, disse à Folha que a prótese, com dois dentes da frente, fora dada pela presidente e que “Tudo que tenho aqui foi Dilma que me deu”. Ela garantiu que a prótese dentária também estava entre os benefícios. Não obstante, momentos seguintes à sua entrevista, após a gravação com a candidata e o ex-presidente da República petista, e depois de a Folha questionar a campanha do PT a respeito desse assunto, a sertaneja mudou a versão, dizendo que teria sido chamada por um dentista que atende num centro odontológico da prefeitura (a nova versão não muda o fato). Segundo ela, o dentista afirmou que ela iria pôr os dentes “para receber a presidente Dilma”. A entrevista da dona de casa foi uma bênção divina para ela, que ganhou, a um só tempo, a prótese dentária e o fogão à lenha ampliado, tudo na semana da chegada da presidente. Um muro foi construído ao lado do fogão, para protegê-lo contra o vento. A felizarda ruralista, como assim se pode dizer, é a única moradora do povoado de Batatinha que ganhou fogão à lenha. Ela já havia ganhado, tempos atrás, duas cisternas instaladas em sua casa, proveniente de convênio firmado pelo governo federal e pelo governo petista da Bahia. Os vizinhos da entrevistada disseram que receberam promessas, mas ainda não têm os fogões. Emocionada, a sertaneja disse que, para ela, a presidente é uma “mãe” e ex-presidente, um “pai”, aos quais ela serviu carne de bode. Sobre a prótese, o secretário de Saúde da Bahia disse não ter informações sobre o fato, mas afirmou que a unidade de saúde local “certamente seguiu o fluxo normal de atendimentos”. Como não seria diferente, a assessoria da campanha da presidente negou ter solicitado a prótese e o fogão para a gravação do programa eleitoral. Já o governador baiano, que é do PT, disse que “todo mundo bota roupa bonita para receber a presidenta”. Como é fácil se concluir, trata-se, sem a menor dúvida, de suposições fora do contexto, porque os fatos narrados na reportagem, como suspeita de serem arranjos politiqueiros, falam por si sós, cabendo apenas à interpretação sobre a sua análise, por se perceber que os benefícios caíram, por mera coincidência, do céu momentos antes da visita da mandatária do país ao casebre da pobre mulher que nunca seria notada, quanto mais atendida, com tamanha urgência, por dentista, para melhorar seu sorriso e sua aparência, e contemplada com fogão à lenha ampliado, o único da localidade, que veio protegido por um muro, e paços artesianos, caso ela não fosse usada para servir de rica peça publicitária da campanha eleitoral na televisão, como forma de demonstrar os avanços da pobreza do país, como se naquela localidade todos os eleitores tivessem sorrisos perfeitos, fossem beneficiados com fogões à lenha e poços artesianos. Conviria que, nas campanhas eleitorais e na administração do país, não mais existissem artimanhas, artifícios, enganações nem superficialidades, como forma de se evitar a falta de credibilidade quanto às medidas econômicas adotadas pelo governo, nesse particular, se elas são ou não efetivamente eficientes, à vista da séria crise por que passa a economia nacional, onde o seu desempenho é desalentador, ante a suspeição sobre a aplicação de métodos ultrapassados e obsoletos nas políticas fiscais e estruturais, que seriam incompatíveis ao soerguimento dos mecanismos responsáveis pelo desenvolvimento da nação. Os fatos políticos deploráveis demonstram, à toda evidência, que o país não tem mais a mínima condição de continuar suportando a baixa qualidade das campanhas eleitorais, que se nivelam por baixo, tendo por fundamento situações irreais e inverossímeis, como o caso em comento, que foi bisonhamente arquitetado de forma maquiavélica, com possível finalidade de mostrar a farsa do desenvolvimento social operado pelo governo, o qual deve ser fruto de maquiagem publicitária, que não representa absolutamente a verdade dos fatos, porque os pobres continuam na miséria, passando por terríveis agruras, principalmente pela carência dos serviços essenciais de competência do Estado, que demonstra completa falta de prioridade para solucionar as mazelas, que infelizmente não são mostradas nas campanhas eleitorais. O povo precisa se conscientizar sobre a forma indecente como alguns programas de televisão são projetados, na fase eleitoral, para mostrar senão a incoerência e a demagogia protagonizadas dos homens públicos, na anseia de mostrar o outro Brasil, aquele diferente do real, contrário à realidade brasileira, cujo povo merece, há bastante tempo, ser tratado com respeito e sinceridade, como forma de se prestigiar os conceitos de dignidade e honestidade na política e na administração do país. Não há dúvida de que os procedimentos mostrados na reportagem em apreço, se verdadeiros, merecem veemente repúdio da sociedade, que deve avaliar quanto à credibilidade e à confiança aos homens públicos envolvidos em tramoias engendradas para iludir a boa vontade e a ingenuidade dos brasileiros, com a finalidade de tirar proveito político. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 23 de agosto de 2014

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