sábado, 6 de abril de 2019

Maquiavélica estratégia?


O ex-presidente da República petista compareceu em audiência da Justiça, para prestar depoimento sobre os fatos objeto dos processos que tramitam na Justiça Federal do Paraná.
O ex-presidente deveria ter prestado esclarecimentos, nos aludidos processos, ainda em março, mas a sua defesa recorreu ao Supremo Tribunal Federal, tendo alegado que o petista não teve acesso a uma série de relatórios e laudos, o que representava cerceamento de defesa.
O ministro relator do caso, no Supremo, concordou com os argumentos dos advogados do petista e determinou que eles tivessem, no mínimo, cinco dias para analisar o material.
De acordo com informações do portal G1, os inquéritos envolvem investigação sobre se houve os crimes de lavagem de dinheiro e corrupção, em razão do suposto pagamento de propina pela construtora Odebrecht, no caso de navios-sonda construídos pela empresa Sete Brasil, e se existiu lavagem de dinheiro, corrupção e cartel em relação a atos do petista, na construção da Usina de Belo Monte.
Como se sabe, esse é mais outro processo contra o ex-presidente, que já foi condenado em dois processos da Operação Lava-Jato e está preso desde abril do ano passado, cumprindo pena de 12 anos e um mês de detenção, em regime fechado, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do tríplex no Guarujá (SP).
Parece bastante notória e estranha a falta de coerência dos advogados de defesa do ex-presidente, que obtiveram adiamento da audiência anterior, nesses mesmos autos, sob a alegação de falta de conhecimento do teor da matéria ajuizada, ou mais especificamente que o petista "não teve acesso a uma série de relatórios e laudos, o que representava cerceamento de defesa.".
Até aí tudo bem, pois se imaginava que, com a remarcação da audiência, os advogados teriam condições de acessar a documentação pertinente e se inteirarem sobre o seu conteúdo, fato que possibilitaria a obtenção das informações indispensáveis aos esclarecimentos sobre a ação demandada na Justiça.
Não obstante, ao contrário, o ex-presidente foi indagado, por duas horas, sobre os fatos, mas preferiu ficar calado, ou seja, ele deu como esclarecimento o silêncio, certamente na compreensão de que isso poderá beneficiá-lo por ocasião do julgamento, mesmo sabendo que, quem cala consente, i.e., aceita que a denúncia se transforme em verdade, diante da perda da preciosa oportunidade constitucionalmente concedida para que o acusado preste à Justiça os devidos esclarecimentos sobre os fatos objeto da ação, no âmbito e na conformidade do direito da ampla defesa e do contraditório.
Não há a menor dúvida de que possivelmente o petista deverá alegar, se colocando em situação de vítima, depois do julgamento e, se for o caso, da condenação, que é inocente e que não têm prova, nos autos, contra ele, esquecendo de que ele nem se dignou em responder às questões que foram levantadas pela Justiça, ainda na fase instrutória, quando os fatos poderiam e deveriam ter sido devidamente aclarados e esclarecidos.
Não deixa de ser muito estranho que isso possa ter acontecido, mas até parece que se trata de maquiavélica estratégia de defesa, como forma de se ficar deliberadamente calado para, em momento oportuno, essa situação ser devidamente explorada, em termos políticos, sob a alegação de vitimização ou perseguição ao petista, como infundada justificativa, quando teria sido muito mais proveitoso para a verdade se tivesse havida a prestação dos devidos esclarecimentos sobre os fatos questionados.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 6 de abril de 2019

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