A
audiência com o ministro da Economia, na
Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, terminou em
confusão e tumulto, pouca defesa da reforma da Previdência por parte dos
deputados e reclamação de líderes do centrão, que se autodenomina a tropa de
choque da oposição ao governo.
O
estopim da tumultuada sessão, com empurra-empurra entre parlamentares do PT e
PSL, foi a insensata provocação de um deputado federal pelo PT do Paraná, que,
ao questionar o ministro sobre a proposta de reforma, ele afirmou, de forma
grosseira e desrespeitosa, que o ministro é tigrão com uns e tchutchuca com
outros, sugerindo que o ministro privilegia banqueiros e rentistas e prejudica
o povo em geral.
O
deputado disse exatamente o seguinte: "Eu
estou vendo que o senhor é tigrão quando é com os aposentados, com os idosos,
com os portadores de necessidade. É tigrão quando é com agricultores, com
professores. Mas é tchutchuca quando mexe com a turma mais privilegiada do
nosso país. O cargo público que você ocupa exige uma outra postura".
O
ministro reagiu imediatamente diante da indevida ofensa e revidou, afirmando
que "Tchutchuca é a mãe, tchutchuca
é a avó!", tendo pedido respeito ao deputado, nestes termos: "Eu te respeito. Você me respeita!" (Tchutuca
e tigrão são referências a um funk dos anos 2000, da banda Bonde do Tigrão.).
Em
clara demonstração de descontentamento com o ocorrido, o ministro pegou o
celular e já ameaçava ir embora, abandonando o debate tumultuado pelo atrevimento
do petista, mas o presidente da CCJ decidiu encerrar a sessão, compreendendo o
momento de confusão.
Diante
da instauração do caos generalizado no plenário da comissão, a sessão de
audiência foi encerrada, de forma antecipada e bastante melancólica, em razão
da insensibilidade do petista, cuja atitude provocativa somente sinaliza para a
forma agressiva de se discutir e debater matéria, no âmbito do Parlamento.
Como
não poderia ser diferente, o bate-boca continuou normalmente, em clima pesado,
tendo um deputado dito que iria embora, porque eu "Não vou ficar com bandido aqui".
O
ministro, já mais calmou, terminou pedindo desculpas, dizendo que "Aconselharam-me a não reagir, mas tentei ser
atencioso. Sou muito respeitoso. Cometi o erro de interagir. Assim que eu
interagi, vocês transformaram em outra coisa. Meu papel é relativamente
simples, quem vai julgar são os senhores. Com a maior franqueza, não cabe a mim
entrar no debate político. Tenho que dar explicações e não preciso me exaltar,
me desculpe".
Deputados
favoráveis à reforma cobraram respostas objetivas sobre o impacto de cada
medida prevista na reforma da Previdência, tendo a equipe econômica se
comprometido à revelação, o mais breve possível, desses números.
À
toda evidência, nesse clima de verdadeira animosidade política, criado pela
oposição, certamente que não terá a menor serventia a participação, em
audiência, de autoridade do governo, que termina sendo objeto de acusação
leviana e responsabilização pelo que a oposição entende que deva merecer menosprezado
no projeto em discussão, que tem sido apenas malhado, dando a entender que ele
é inútil e prejudicial, quando seria muito inteligente se, concomitantemente às
críticas, houvesse alguma proposta objetivando o seu aprimoramento, como forma de contribuição
construtiva.
Em
princípio, ao invés dessa forma de audiência, é mais proveitosa e objetiva a formulação
de indagações necessárias à elucidação das principais questões, de modo que a
autoridade possa dirimi-las, em pequeno prazo, como forma de enriquecimento à
melhor compreensão acerca do projeto, o que é bastante natural, diante da imperiosa
necessidade de abrangentes esclarecimentos sobre cada tópico integrante da
reforma.
Conforme
ficou demonstrado, com a materialização de atos hostis, muito mais voltados
para a depreciação e o desrespeito de autoridade, absolutamente desagradável,
em cristalina evidência de menosprezo à sua dignidade, torna-se aconselhável,
diante de maias eficácia e efetividade, que as dúvidas/questões sobre a reforma
em causa sejam coletadas dos parlamentares e enviadas à equipe do governo, para
serem respondidas, sem necessidade alguma que o ministro da Economia volte ao
campo de batalha da CCJ, porque certamente as baterias dos interlocutores estarão
muito carregadas e a guerra poderá se transformar em vias de fato, o que seria
drástico, diante da relevância para o país da matéria em discussão.
É
evidente que o clima de animosidade não será nada construtivo para o aprimoramento
da reforma em apreço, porque as discussões acirradas tendem a contribuir para piorarem
ainda mais as relações políticas entre o Executivo e o Legislativo, quando o
momento convida apenas para a junção de esforços e empenhos para a aprovação da
reforma em cogitação, com vistas ao necessário equilíbrio das contas públicas.
A
única alternativa para o arrefecimento dos ânimos entre parlamentares e
autoridades do Executivo é se eleger o caminho do diálogo, por meio do qual os interessados
em realmente contribuírem para o aperfeiçoamento da reforma possam formular
perguntas capitais sobre ela, que serão respondidas, o mais rapidamente
possível, de modo que sejam esclarecidas as dúvidas impactantes, as que ainda persistem nas respetivas justificativas,
notadamente com relação aos impactos das novas regras para a população,
deixando muito transparente a finalidade de cada ponto do projeto, de forma
muito precisa e que não reste a menor dúvida sobre a sua execução, para que os
parlamentares e a sociedade sejam devidamente convencidos sobre a
imprescindibilidade da aprovação da reforma em apreço, que tem como principal escopo
o corte de privilégios e o equilíbrio dos orçamentos públicos.
É preciso
que haja a firme conscientização sobre a responsabilidade constitucional que
cabe individualmente aos Poderes da República, de modo que as suas funções, muito
bem definidas, sejam desempenhadas com competência, eficiência e efetividade,
sem necessidade de haver crítica ou menosprezo a nenhum deles, quando todos se
preocuparem apenas com seu trabalhar em defesa do bem comum e do interesse
público.
O que significa
dizer que cada qual executa a sua missão institucional, da melhor maneira
possível, ficando claro que cada poder precisa assumir seus acertos e erros,
sempre tendo por mira tão somente a satisfação da população, que não deveria
ser prejudicada em razão da irracionalidade ou a insensibilidade por parte de
quem é apenas contrários aos interesses nacionais, por exclusiva questão de
ideologia, ficando prejudicadas as causas da sociedade, de forma absolutamente
injustificável.
No caso
da mudança da Previdência, convém que o governo demonstre competência e sabedoria
para prestar circunstanciados esclarecimentos sobre a imperiosa necessidade da
sua aprovação, cumprindo fielmente a parte que lhe cabe, nos termos da Carta Magna,
nesse árduo processo de convencimento dos congressistas de boa vontade e da
população, ficando assente que o Parlamento deva se pronunciar afirmativamente à
aceitação da proposta governamental, de modo que fique patente a sua
responsabilidade quanto ao resultado das medidas sob a sua alçada institucional,
evidentemente assumindo sozinho as consequências, caso o governo tenha prestado
cabais esclarecimentos e informações sobre a notória precariedade acerca da
situação falimentar da Previdência.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 4 de abril de 2019
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