sábado, 13 de abril de 2019

Símbolo de postura republicana?


O presidente da Câmara dos Deputados passou a ideia de que o pacote anticrime do ministro da Justiça e Segurança Pública está realmente fora de cogitação, por ter concluído que ele não vai entrar na agenda e não deve ser objeto de discussão naquela Casa.
No torvelinho dos conflitos entre ele e o presidente da República, o deputado carioca teria afirmado que "A minha agenda é a reforma da Previdência", na presença do governador tucano de São Paulo.
O pacote anticrime foi enviado pelo governo ao Congresso Nacional, em fevereiro último, antes do projeto de reforma da Previdência, mas ainda não mereceu a devida atenção à altura da sua importância contra a criminalidade, em especial os atos de corrupção.
O presidente da Câmara disse que “Depois da Previdência, a nossa agenda é a reforma tributária e a repactuação do Estado brasileiro. É isso que queremos fazer. De que forma o governo vai ou não participar não é um problema meu, é um problema do Executivo. Esse é o grande objetivo de todos no Brasil, organizar as contas do Estado brasileiro.".
Ato contínuo, na mesma linha de entendimento do dirigente da Câmara, o presidente do Senado Federal também se mostrou disposto a "colocar pedras no caminho do projeto anticrime", segundo foi destacado pela coluna Painel da Folha de S. Paulo.
Com esse uniforme entendimento de ambas as casas do Congresso, fica selada a cristalina decisão segundo a qual o governo deve enfrentar instransponíveis barreiras contra a aprovação do seu projeto anticrime, diante da dificuldade encontrada desde a sua tramitação na Câmara, à vista da explícita má vontade política demonstrada também pelos senadores.
Segundo especialistas, as ideias contrárias ao crime de colarinho branco somente teriam alguma chance de apreciação caso o governo apoiasse a aprovação do projeto de abuso de autoridade, que tem por finalidade o enquadramento de policiais, procuradores e magistrados, que praticamente inibe a atuação eficiente, independente e autônoma desses servidores, que estariam enfraquecidos, diante das ameaças de penalidades sobre as suas atuações de investigação, com severas possibilidades de penalidades a depender do seu desempenho contra os criminosos de colarinho branco.
As medidas contidas no projeto de abuso de autoridade têm manifesto sentido de verdadeiro retrocesso à atuação investigativa, em termos de combate à corrupção, porque as normas contidas nele têm por exclusiva finalidade estabelecer autêntica blindagem em favor dos bandidos, sendo que muitos dos quais se encontram encrustados no Parlamento e não pretendem facilitar a luta destinada ao combate à corrupção e à criminalidade.
As dificuldades são cada vez mais visíveis quando há pretensão com vistas à moralização da administração do Brasil, na forma como reconhecido por um destacado senador governista por São Paulo, que afirmou o seguinte: “Quando se faz política de uma nova forma, a dinâmica muda. Nem todos podem ser convencidos por ideias e conhecimento”.
É risível a maneira como o Parlamento procura atuar, em que, a princípio, criasse a maior expectativa, em termos de receptividade, prometendo apoio e outras formas de empenho na aprovação do projeto anticrime apresentado pelo governo, mas como se trata de matéria que objetiva apertar o cerco, em termos de moralização da coisa pública, de repente e sem surpresa, criam-se fatos novos com caracteres de relevância política, com elevado grau de incriminação e suspeitas sobre traições e acusações de toda ordem, justamente para tentar inviabilizar propositadamente a aprovação de regras que ferem, no âmago, os interesses de muitos congressistas que estão encalacrados e implicados na Justiça.
Parece mais do que evidente, por ser situação de bastante notoriedade, que ninguém, nem mesmo o congressista, é obrigado, por força de princípio constitucional, a contribuir para facilitar a própria incriminação ou condenação, que parece ser o caso que pode resultar com a aprovação do pacote anticrime, que tem por objetivo justamente dificultar bastante a vida de criminosos de colarinho branco, inclusive de muitos que povoam o Parlamento tupiniquim.
Verifica-se que, absolutamente do nada, um simples apelo, por parte do governo, para a celeridade à tramitação, na Câmara dos Deputados, do pacote anticrime, se transforme em algo intransponível, sob a alegações de agressão às vaidades de autoridades da República, que exigem respeito à sua dignidade “divinal”, tendo implicação, no mérito, do importante projeto de regras jurídicas destinadas ao combate à corrupção e à criminalidade.
Nesse caso, o Congresso mostra a sua cara completamente deslavada, com armas pesadas em punho, como sempre age, em poderosa trincheira em defesa da sua autonomia nada republicana, com a disposição de nada aprovar senão em manutenção do status quo, diante da demonstração de intransigente defesa do corporativismo político contra qualquer tentativa de moralização da administração pública.
O sentimento de pesar e de indignidade que se tem é o de que os próprios brasileiros são os responsáveis por esse estado de indignidade e calamidade de decadência moral prevalente no Parlamento, exatamente porque são eles que elegem seus representantes afeitos precisamente com a índole de defesa dos interesses pessoais de indecência moral, cultores que são da esculhambação e do indecoroso comportamento como homem público, em detrimento das causas públicas, que estariam mais voltadas, em princípio, pela moralização das atividades políticas.
Não obstante, o que vê é exatamente o contrário e não adianta mostrar essa realidade nua e crua para os eleitores, porque eles hão de repetir seus votos tantas vezes quanto houver eleições, votando em homens públicos que simplesmente desprezam os princípios da decência e da idoneidade quanto ao exercício de cargos públicos, sendo explicitamente alheios às importantes medidas ensejadoras de moralização da coisa pública, porque isso não faz parte da sua índole e muito menos de seus planos políticos, conforme fica patente nas atitudes unânimes dos presidentes das Casas do Congresso Nacional, representadas pelas Câmara Baixa e Câmara Alta, que deveriam ser apenas símbolos de postura representativa da dignidade e dos princípios democrático e republicano.
Brasil: apenas o ame!      
Brasília, em 12 de abril de 2019

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