segunda-feira, 8 de abril de 2019

Por que não a oxigenação?


Embora exatamente depois de um ano encarcerado em uma cela especial, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR), em cumprimento à condenação de doze anos e um mês de prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o ex-presidente da República petista não só comanda como dá as cartas no PT.
A sua soberania plena e irrefutável tem sido implementada por meio de ordens escritas em bilhetes, cartas ou indicação direta de porta-vozes, como se fosse o próprio, que tem sido seguida rigorosamente pelos súditos, que acatam e obedecem à risca as suas orientações.
Exemplo clássico e seguro desse incontestável comando aconteceu recentemente, quando da atuação da bancada petista na audiência com o ministro da Economia, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, que fora comparada pelo presidente da República como “pelotão de fuzilamento”, depois que o ex-presidente entendeu que é preciso jogar duro contra a reforma da Previdência.
Na realidade, a preocupação do petista é tão somente se acentuar a verdadeira impopularidade da reforma da Previdência, de modo a se enfatizar, com veemência, essa situação, diante do seu potencial para provocar o descolamento de parte do eleitorado do presidente do país, que se encontra na camada evangélica e é considerado de baixa renda, sob o argumento de que ele será certamente prejudicado com a perda de direitos e ainda ficariam sob suspense as dúvidas quanto à aposentadoria.
Pois bem, mesmo enclausurado na sela, o ex-presidente detonou a poderosa e irrefutável ordem aos seus fiéis comandados, verbis: “O PT deve deixar para o segundo semestre as discussões sobre a escolha da próxima direção partidária, marcada para novembro, e concentrar na reforma da Previdência sua atuação como oposição a Bolsonaro. Este vai ser o foco do partido nos próximos meses.”.
O petista também concluiu que “A postura subalterna de Bolsonaro diante do presidente dos EUA, Donald Trump, poderia servir de vetor para o descontentamento de uma parcela nacionalista do eleitorado.”.
O ex-presidente, percebendo a motivação de caciques em torno da renovação da direção do partido, procurou intervir de forma cirúrgica, ao convocar o deputado que se tornou “famoso” por ter transportado dólares na cueca, que objetiva montar a sua candidatura à presidência do partido, para eles terem importante conversa ao pé-de-ouvido, tendo sido, conforme foi revelado pelo deputado cearense, alertado, como cuidado prioritário do cacique-mor, sobre as questões centrais para o PT, em 2019, a saber: “o foco agora são a reforma da Previdência e a soberania. O debate sobre a renovação do partido fica para o segundo semestre”.
Fala-se, nos bastidores, que, graças à intervenção do ex-presidente, agindo como bombeiro nos fortes atritos entre o ex-prefeito de São Paulo e a presidente do PT, estes estariam seguindo as orientações do mestre, no sentido de que a lavagem da roupa suja seja feita dentro de casa.
Em síntese, percebe-se, de forma patente, notadamente nesse caso da reforma da Previdência, que o PT estaria funcionando como verdadeiro PT, ao mostrar a sua real identidade como partido que procura, sem o menor escrúpulo, se beneficiar da situação, como indiscutível oportunista, quando faz miséria e procura tumultuar o ambiente político, com o objetivo de angariar a simpatia do eleitorado, diante da insatisfação com o governo dos eleitores evangélicos e de outros segmentos sociais, pouco importando para ele que a sua posição possa contrariar a mudança cogitada pelo governo e que isso seja extremamente prejudicial aos interesses nacionais, diante do entendimento de especialistas que defendem a premência na aprovação da reforma em apreço.
De um modo geral, fica clara a certeza de que há gigantesca dificuldade ou até mesmo enorme incapacidade de o PT decidir seu destino, como partido político, que não consegue atuar sem a orientação de seu cacique-mor que, mesmo estando preso, demonstra imensurável insensibilidade para compreender que a agremiação precisa não somente respirar sem os seus cuidados e ainda andar com as próprias pernas, notadamente após a sua prisão, em razão das restrições de atuação e comunicação.
Isso suscita o entendimento segundo o qual, sem ele, o PT é um partido acéfalo, como se fosse uma ilha rodeada de muitos caciques, mas todos incompetentes de liderança política, que esperam por orientações partindo de dentro da cadeia, como fazem normalmente os comandos das organizações criminosas, justamente por não confiarem nem acreditarem que alguém tenha capacidade para tomar decisão acertada, em benefício da agremiação e de seus filiados.
O caso mais visível e absurdo referente ao controle das atividades partidárias ocorreu por ocasião das eleições presidenciais, em que o candidato à Presidência da República, o principal cargo do país, não se cansou de visitar o todo-poderoso, na cadeia, no primeiro turno, para buscar orientação sobre o que fazer na sua campanha, dando a entender que o postulante a cargo tão importante do país não tinha condições de agir e decidir por conta própria.  
Não há a menor dúvida de que essa situação esdrúxula não condiz com a modernidade das atividades políticas, que precisam de constantes renovações no âmbito das suas lideranças, como forma de oxigenação, purificação e aperfeiçoamento, em termos de orientação quanto aos objetivos partidários e políticos, em harmonia com os saudáveis princípios próprios da alternância do poder.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 8 de abril de 2019

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