quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Graças aos deuses da diplomacia


Não passa de piada de mau gosto o deputado filho do presidente da República vir a público para afirmar que estaria abrindo mão da embaixada brasileira nos Estados Unidos da América, como se ele já a tivesse conquistado, sob a alegação de que ele teria assumido a liderança do seu partido, o PSL, depois de acirrada disputa nos bastidores, onde rolou de tudo de ruim, inclusive até promessa de cargos.
Essa desculpa mais do que esfarrapada não convence nem mesmo ao principal envolvido, em se considerando que sequer havia sido indicado o nome dele para a aludida embaixada, que estava muito distante dos planos dos senadores em acolhê-lo, diante da explícita falta de apoio a essa imoralidade, representada por absurda indicação, com visível viés de claro nepotismo próprio das piores republiquetas, onde os ditadores indicam seus parentes próximos para ocuparem os principais cargos da República, em cristalino desprezo aos princípios do mérito e da competência para o exercício de cargos públicos relevantes.
No Senado Federal, já era consenso entre a maioria dos senadores de que, dificilmente, o filho do presidente conseguiria votos suficientes para se tornar embaixador e que não passava de bravata a afirmação de que ele estaria abrindo mão da indicação do seu nome, diante da total impossibilidade de ele ser aprovado, ou seja, "Ninguém abre mão daquilo que não tem", segundo afirmação de um senador aliado do governo, que reconhecia a inviabilidade sobre a aprovação da nome dele.
O certo é que, nessas condições nada afirmativas, o filho do presidente cuidou de arranjar saída mais do que “honrosa”, na tentativa de justificar o seu visível fracasso, para que outra situação pudesse compensar ou minimizar aquela que seria a maior derrota pessoal da família do presidente brasileiro, diante da escassez de votos no Senado para a aprovação do nome dele para ocupar o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, que teria sido cogitado mesmo a despeito da indiscutível falta de condições e requisitos para o exercício da nobre função pública de embaixador, que exige conhecimentos e preparos de alto padrão, como condição ideal e essencial para bem representar o Brasil no exterior, à vista das suas especificidades e responsabilidades.
Em consonância com o bom senso e a razoabilidade, o filho do presidente, enfim, depois de ter ouvido tantas e justas críticas, anunciou, em discurso no plenário da Câmara, que tinha desistido da indicação para ocupar o posto de embaixador.
Por seu turno, o pai, presidente brasileiro, fez o máximo ao seu alcance para que o filho se tornasse embaixador em Washington, tendo deixado vago, por meses, o posto mais importante da nossa diplomacia até que o filho, prestes a ser “nepotizado”, completasse a maioridade para embaixador, que é a idade mínima de 35 anos, para se habilitar legalmente ao nobre cargo.
A indicação do nome dele foi aventada em julho último, mas, diante da certeza sobre a falta de votos no Senado, ela nunca foi formalizada oficialmente, talvez porque o indicado seria reprovado, diante baixo quórum senatorial.
Não há a menor dúvida de que muitos senadores insatisfeitos com o tratamento dispensado a eles pelo Palácio do Planalto esperavam, com enorme ansiedade, o oportuno momento para dar a sua resposta ou o seu troco ao governo, por meio de votos contrários ao filho do presidente, que teria sido expressiva decepção para os brasileiros honrados.
À toda evidência, se já era terrivelmente improvável o ambiente no Senado para a aprovação da indicação do nome do filho do presidente, para embaixador em Washington, não resta a menor dúvida de que o imbróglio gerado com a crise no PSL, partido de ambos, apenas se consolidou em complicação definitiva, com a explícita rejeição a quem teria sido um dos piores e absurdos atos desse governo, diante de todos os malefícios que poderiam ter resultado para o Brasil, à vista da notória falta da comprovação dos requisitos essenciais, em termos de qualificação, preparação, experiência na diplomacia, que jamais poderiam ter sido preenchidas por notório inexperiente amador.
Ainda bem que os deuses da diplomacia encontraram nova missão mais consentânea com as habilidades do filho do presidente da República, que deverá ter condições de comandar a bancada de partido na Câmara dos Deputados, a despeito do racha de interesses internos, porque essa nova missão faz parte do seu ofício de parlamentar, evitando assim verdadeiros vexame e desastre para os interesses do Brasil, na pessoa de aprendiz de embaixador, que, mesmo assim, teria a obrigação de comandar, sabe-se lá com que condições, a principal e certamente a mais complexa embaixada brasileira.
Os brasileiros honrados e conscientes sobre as responsabilidades das atribuições de embaixada séria e digna, quanto ao cumprimento da sua fiel missão institucional, só podem agradecer aos aludidos deuses essa feliz e oportuna mudança de rumos de desastre anunciado, com o anuncia da desistência de algo que somente seria objeto de eternos questionamentos, além dos indiscutíveis malefícios para os interesses do Brasil.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 6 de novembro de 2019 

Nenhum comentário:

Postar um comentário