quinta-feira, 16 de maio de 2024

O discurso

              Conforme vídeo que circula nas redes sociais, o líder-mor dos advogados brasileiros reclama, em discurso inflamado, que os integrantes da classe comandada por ele vêm sendo prejudicados no exercício de defesa de seus clientes, tendo reclamado que isso contraria os princípios inerentes ao Estado Democrático de Direito.

O aludido discurso revela atitude extremamente corajosa e coerente com o momento em que a nobre e poderosa classe de advogados brasileiros reconhece o desvio do padrão concernente aos procedimentos aplicáveis à prática jurídica.

Também fica muito claro nele que os fatos que estão acontecendo são completamente inadmissíveis em país sob a égide do Estado Democrático de Direito, que se tem a plena ideia do pleno usufruto do direito de exercer, de forma ampla e irrestrita, as atividades profissionais.

Na verdade, a essência das práticas abusivas prejudiciais ao exercício da advocacia foi externada nesse discurso histórico, como, aliás, convém para a autoridade que lidera tão importante e conceituada classe de juristas.

Pois bem, o texto do discurso foi aplaudido pela plateia, em quantidade expressiva, obviamente em respaldo ao conteúdo dele, como era de se esperar de classe que precisa reagir ao autoritarismo imposto de goela abaixo aos arautos do bom direito.

Sim, o discurso é bastante claro em dizer, em reconhecimento público, que único magistrado impõe as regras básicas do jogo e ainda obriga que todos, no caso da classe dos advogados, as cumpra, ainda mais, sem direito à reclamação, como assim foi dito, com muita clareza, por seu líder, que termina expondo as suas insatisfação e indignação, a par de também protestar contra os abusos e as arbitrariedades praticados contra a classe de advogados.

Ao término e ao cabo, o discurso tem o condão de mostrar que a ilustrada classe de causídicos não passa de um bando de juristas frouxos, incompetentes e ineficientes, exatamente por ter clara consciência sobre os gravíssimos problemas que imperam em prejuízo do trabalho dos advogados, com seríssimas implicações no eficiente exercício da profissão, em especial no pleno direito de atuação nos processos, à vista do tolhimento de medidas próprias das defesas processuais.

Não obstante, ao que tudo indica, tentam-se combater os males apenas com o uso de eloquente discurso, mas estritamente inócuo e inconsequente, como medida de reação a tão impactante questão no seio da ordem dos advogados, que apenas e tão somente acusa uma realidade nua e crua e fica tudo como antes no quartel de Abrantes.

Na realidade, essa autoridade poderia ter sido o mais objetivo e producente possíveis, ao discursar mostrando não somente as causas das questões prejudiciais ao exercício da profissão, mas, em especial, as medidas efetivamente adotadas por conta da sua competência legal, na tentativa da eliminação das arbitrariedades e dos abusos apontados por ele, porque era exatamente desse modo que devem agir todos os advogados que têm conhecimento de gravíssimos problemas, tais e quais como aqueles identificados e apontados no seu discurso.

Como corolário, a falta de medidas capazes de combater as maldades reclamadas por aquela autoridade tem o condão de mostrar que o seu brilhante discurso e nada têm a mesma significância, ou seja, absolutamente nada.

Convém que essa importante autoridade mude o discurso, para ser inserido nele algo de efetividade, em estrita sintonia com a obrigação de defender as boas causas, em especial, fazendo uso não somente dos recursos orais, mas também escritos, porque estes têm o poder de materializar a força do verdadeiro pensamento dos advogados e podem levar à efetividade das mudanças pretendidas, enquanto os discursos não passam de palavras jogadas ao vento, que podem dizer muito, mas não resolvem absolutamente nada.

            Brasília, em 16 de maio de 2024

Nenhum comentário:

Postar um comentário