Com
absoluta certeza, a sociedade brasileira jamais poderia imaginar o tanto de inacreditáveis
direito a mais que o novo comandante do Senado Federal passará a exercer, em
função do cargo presidencial, a começar pela residência oficial - enorme mansão
com piscina, mordomo e seguranças. Afora veículo especial, com motorista e sem
limite de consumo de gasolina, podendo preencher 24 cargos comissionados
extras, com salários entre R$ 2,042 mil e R$ 19,194 mil. Para ele, não há
limite de passagens e ainda poderá solicitar avião da FAB, para viagens
oficiais. Os demais senadores têm direito a apartamentos funcionais ou a auxílio
moradia de R$ 3,8 mil, além de cinco passagens por mês, de ida e volta para o
seu estado, de 10 litros de gasolina por dia, podendo, segundo o jornal “O
Globo”, contratar até 80 servidores, no valor total de R$ 80 mil. No caso do
presidente do Senado, mantendo os servidores de seu gabinete, mais os novos
cargos, ele poderá indicar até 104 servidores, os quais ficarão à sua
disposição.
A desmoralização é ainda mais acentuada na Câmara dos Deputados, onde o seu
presidente tem competência para indicar até 41 servidores a mais do que o
normal. Não há a menor dúvida de que esse lastimável abuso dos dinheiros
públicos tem o imoral respaldo de normas internas aprovadas pelos congressistas
inescrupulosos, que não têm a sensibilidade para sopesar o custo-benefício dos
dispêndios realizados para a manutenção das suas funções, considerada a mais
cara do mundo, compreendendo seus vencimentos e injustificáveis auxílios,
ajudas, verbas de representação e demais mordomias incompatíveis com a sua
produtividade, que não aparece diante da sociedade. Acontece que o orçamento do
Congresso é aprovado pelos próprios interessados, sem a menor preocupação
quanto à economicidade ou muito menos à existência de programas carentes de
priorização de recursos, que deixam de ser implementados justamente porque a
consciência política dos parlamentares não vai além da consecução dos seus
objetivos pessoais, em termos da satisfação de mordomias e da obtenção de
cargos para apaniguados e de favores inerentes ao exercício de seus cargos. Os
elevadíssimos gastos do Congresso Nacional não se justificariam nem de longe,
mesmo que os congressistas trabalhassem cinco dias, ao invés de apenas três
dias semanais; conseguissem aprovar o Orçamento da União antes da data da sua
vigência; tivessem a decência de evitar que mais de 3.200 vetos presidenciais
abarrotassem as prateleiras do Congresso, sem serem votados; abominassem as
coalizões espúrias e fisiológicas; aprovassem matérias em benefício da
sociedade; e, enfim, tivessem a dignidade de reconhecer que a importância
primordial da sua representação no Congresso cinge-se à defesa dos interesses
da sociedade e do país. Há até quem ouse dizer que todo povo tem o governo que
merece. Isso é um fato, porém o povo tem o dever cívico de dar um basta aos
abusos com recursos públicos, porquanto a sua fonte é a extorsiva tributação
imposta à sociedade, que também elege seus representantes, e por isso não pode
permitir o esbanjamento e a extrapolação dos limites da razoabilidade, em se
tratando do emprego de verbas públicas. Ademais, o administrador público tem a
obrigação de observar fielmente os princípios fundamentais da administração
pública, segundo os dispositivos insculpidos na Constituição Federal,
estabelecendo, entre outros, os parâmetros da legalidade e da economicidade
quanto aos gastos públicos. Em absoluto, as vergonhosas mordomias e imerecidas
vantagens de ajudas, auxílios, verbas de representação etc. dos parlamentares, inclusive
as concedidas aos presidentes das duas Casas do Congresso, são verdadeiro desrespeito
à dignidade do povo. Por dever de conscientização sobre a existência das
mazelas do país, em muitos casos devido à falta de verba, os políticos devem
abdicar do abusivo e indecente desperdício com os privilégios e as mordomias,
sem embargo de que a sociedade tem o dever de exigir que eles sejam obrigados a
economizar recursos públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de fevereiro de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário