domingo, 3 de fevereiro de 2013

Miopia democrática

Já não bastasse a demonstração de incompetência do gerenciamento da administração pública, com o descontrolado e progressivo crescimento da violência e da criminalidade; a disseminação do fisiologismo escrachado e indecente, com a composição dos aliados da atualidade, considerados "ladrões" e "bandidos" do passado, contra os quais se prometia combate feroz quando estivesse no poder; a falta de reformas estruturais, como instrumento indispensável ao progresso do país; a deficiência da saúde pública, da educação etc., o presidente nacional do PT, com o peculiar autoritarismo de quem está acima do bem do mal, afirmou que parte da imprensa funciona como “oposição extrapartidária” e combatê-la é “um dos objetivos do PT”. A sua indelicadeza foi a tanto, ao classificar como demente e inoperante a oposição parlamentar, mas enalteceu a atuação ativa e forte da imprensa, que, na sua visão, ela não mostra a cara, como deveria, tendo afirmado: “É o que eu chamo de oposição extrapartidária. E ela se materializa numa declaração que a imprensa veiculou...: ‘Como a oposição não cumpre o seu papel, nós temos que fazê-lo’”. Para ele, a oposição extrapartidária compreende setores da mídia monopolizada, tendo a participação de altos funcionários do Estado, infiltrados em seus órgãos, que se conluiam com o objetivo de fortalecer essa oposição, que, pasmem, “não se conforma em ter um presidente operário, em ter uma presidente que foi guerrilheira, que não se conforma, sobretudo, com a perda dos privilégios”. Ele teve a indignidade de dizer que setores da imprensa “desqualificam” a política, fato que pode levar a “aventuras golpistas” no país, possibilitando o surgimento do nazismo, fascismo, objeto de contestação pela PT, que defende seu definitivo afastamento do país. Ele disse que não há pretensão de censura, mas apenas de promover a “desconcentração do mercado”, uma vez que o interesse do PT em regular a mídia prende-se ao fato de os meios de comunicação serem “vitais para o desenvolvimento do país”, possibilitando a ampliação da liberdade de expressão e a quebra do monopólio, com o aparecimento de novos agentes produzindo informação livre. O certo é que a intervenção precipitada, despropositada e alarmista do petista ocorreu em defesa de um antigo desejo do seu partido de regulação da mídia, no sentido de estabelecer absurdos limites e inadmissíveis proibições ao consagrado direito da liberdade de expressão, extrapolando os princípios ínsitos do Estado Democrático de Direito, garantidos e consolidados na Carta fundamental do país. No dia que houver a proibição de a imprensa atuar democraticamente, nada de bom restará para ser veiculado. Os meios de comunicação não poderão mais denunciar o mar de lama da corrupção da administração pública nem a sua incompetência. O vazio e a inapetência gerencial do país se alastrarão e as mazelas progredirão de forma descontrolada e assustadora. Enfim, o país terá a infelicidade de ser comparado às republiquetas que não respeitam os direitos humanos e que impõem o subdesenvolvimento ao seu povo, mediante a abominável censura da mídia, da livre liberdade de pensamento e de expressão. Será verdadeiro regresso à incivilidade e à obscuridade democrática. Urge que a sociedade se conscientize sobre a necessidade de banir da política os homens públicos com mentalidade retrógrada e sintonizada com o subdesenvolvimento da repressão e do controle inadmissível da imprensa, que tem o direito constitucional de funcionar com pleno poder de autonomia, como instrumento importante para assegurar o progresso social, mediante a liberdade de expressão e de comunicação, inclusive denunciando as incompetências gerenciais, as coalizões fisiológicas, os esquemas de corrupção e as deficiências e mazelas prejudiciais ao interesse nacional. Acorda, Brasil!  
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 03 de fevereiro de 2013

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