sábado, 2 de fevereiro de 2013

Fidelidade sem-vergonha

O país assistiu atônito, pela televisão, mais uma cena grotesca protagonizada por políticos, em descarada reverência e manifestação de regozijo de extremada satisfação, para comemorar a gloriosa volta do senador alagoano ao mais elevado cargo do Senado Federal. Para que isso fosse possível, ele contou com o beneplácito e as bênçãos do todo-poderoso Palácio do Planalto, resultante das abomináveis costuras políticas, com o condimento do costumeiro e arraigado fisiologismo que atrai o PMDB e a base de sustentação política do governo no Congresso Nacional. Embora reconhecido como espúria aliança política existente com o PMDB, que é o partido majoritário no Congresso, esse acordo é respaldado de forma solene pelo PT, como meio de evitar contestação à polêmica candidatura do senador alagoano, por não ter tido a dignidade explicar condignamente os fatos que motivaram a sua renúncia, em 2007, ao cargo ora investido, justamente em garantia do seu mandato de senador, que corria o risco de ser cassado em virtude da acusação de um lobista de grande empreiteira pagar suas despesas inerentes à pensão da filha que teve num relacionamento extraconjugal. Um senador petista teve o descaramento de justificar o vergonhoso e indecente apoio do governo ao alagoano, afirmando que "Ele tem se mostrado comprometido com os interesses do governo. O que passou, passou e a população teve tempo de fazer sua própria avaliação". Em absoluto, a reação veemente da sociedade contrária à candidatura do peemedebista é demonstração mais do que cristalina de que a avaliação da opinião pública é completamente divergente da vontade interesseira do governo, que está muito mais preocupado com a manutenção da sua base de sustentação no Congresso e indiferente ao que a população venha a pensar sobre a decência ou a moralidade na administração pública, ou seja, o governo quer mesmo é que o povo “exploda”, no dizer do jargão de famoso humorista. Agora, não deixa de ser estranho que alguns senadores que votariam pela cassação do senador alagoano, deem apoio à sua volta, numa espécie de confirmação da infeliz frase do petista, de que o passado teria sido apagado e não tem influência no presente, à vista da fidelidade aos propósitos mútuos pela manutenção do poder político, em que pesem as práticas indecorosas e ainda não justificadas, cujas sujeiras foram apenas jogadas sob os enormes tapetes persas do Congresso, que são capacitados, embora a duras penas, a suportar tanta podridão ocultada por inescrupulosos e indignos políticos, muitos dos quais ainda têm a indelicadeza de dizer que sacrificou sua vida a serviço dessa Casa Legislativa, quando a nação está ressabiada de tanto ser usada pelos falsos homens públicos, que sabiamente satisfazem seus interesses à custa de recursos dos contribuintes. O certo é que, no caso do novo presidente do senado, o passado condena, máxime pela ausência de comprovação da sua inocência quanto às irregularidades cuja autoria lhe é atribuída. Por certo, a volta do polêmico alagoano ao comando do Senado tem o condão de potencializar a sua falta de pudor e de decoro já consolidada, quanto a esse fato, no seio da sociedade, que entende que o homem público tem o dever cívico de ser probo, honesto e fiel aos princípios éticos e morais, no passado, no presente e sempre. Urge que o governante do país tenha a dignidade de renunciar aos conchavos espúrios e às alianças abjetas chancelados com exclusiva finalidade da manutenção da base de sustentação do poder, em manifesta contraposição aos interesses nacionais. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 02 de fevereiro de 2013

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