domingo, 17 de fevereiro de 2013

Promiscuidade política

Já se tornou regra, no âmbito da política, os candidatos derrotados nas últimas eleições serem prestigiados com honroso convite, pelos seus correligionários, para assumirem cargos na administração pública, como forma “elegante” de levantar o moral político do amigo. Essa atitude é adotada sem qualquer avaliação quanto à necessidade do seu trabalho e, em muitos casos, trata-se de político com evidente decadência na vida pública, sendo derrotado seguidamente nas urnas, mediante ato de chancela adotada pela decisão soberana do eleitorado, que tem a consciência cívica de saber o que é realmente melhor para o interesse público. Em mensagem direta, a sociedade diz com clareza e convicção que a opção ideal para o político em fim de carreira é tomar o caminho de casa e passar a cuidar em definitivo de seus interesses particulares, deixando o espaço livre para o ingresso de novos políticos na vida pública. Noutras situações, o convite para a assunção de cargo público tem relação com o dever compensatório, em mera repetição de gesto praticado no passado por colega de partido, que agora demonstra gratidão com o oferecimento de emprego em ministério, secretaria de estado ou empresa pública, que funciona como vergonhoso cabide de empregos, custeado com dinheiro dos bestas dos contribuintes. Essa indecente forma de solidariedade serve como alternativa para que o cidadão, que já se consolidou como profissional da política, tenha chance de continuar em evidência na cena política, mesmo após de ter sido reprovado nas urnas como homem público. Já está mais do que comprovado que a politica brasileira é verdadeiro maná para quem nela ingressa, haja vista que, depois disso, ninguém mais sai da vida pública e a tradição se consolida, com a vocação sendo transmitida de pai para filho. Com certeza, a história seria contada de forma bem diferente caso o político tivesse a obrigação de exercer seu mandato eletivo exclusivamente em função do interesse público; trabalhar em benefício da sociedade; comparecer ao trabalho 40 horas semanais, que é a carga obrigatória para o servidor público; observar os princípios da administração pública, em especial a ética, moralidade e legalidade; repudiar o fisiologismo; respeitar o ideário programático do seu partido; receber somente a remuneração pertinente ao cargo; jamais receber ajudas, auxílios, verbas de representação e demais vantagens e mordomias indevidas e injustificáveis; não corromper-se no cargo; e, enfim, honrar o cargo pela importância que ele realmente representa diante do que a sociedade espera dele, apenas respeito aos preceitos do decoro e probidade administrativa. Como nada disso é observado pelo político, não há fato relevante capaz de suscitar o seu afastamento voluntário da vida pública ou até mesmo motivar a sua aposentaria, como fazem normalmente os servidores públicos. Não há dúvida de que, no contexto atual, diante do quadro bastante favorável aos seus interesses, o político não tem a dignidade de sair da vida pública senão pela impossibilidade de exercer cargo público, contra a sua vontade. O eleitor já percebe que o afastamento voluntário dos políticos da vida pública pode ser benéfico para o país, diante da possiblidade do surgimento de novas lideranças, e da esperança de que haja mudança de mentalidade e modificação do atual quadro de promiscuidade reinante na política. A sociedade anseia por que os homens públicos se conscientizem sobre a necessidade de ser valorizada a política como instrumento de legitimidade e de responsabilidade, tendo como foco direcional a consecução de objetivos de interesse público, como forma de contribuir para a construção do desenvolvimento do país, em consonância com os princípios democráticos da honestidade, ética e moralidade. Acorda, Brasil!  
 
 ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 16 de fevereiro de 2013

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