Já se tornou regra, no âmbito da política, os
candidatos derrotados nas últimas eleições serem prestigiados com honroso convite,
pelos seus correligionários, para assumirem cargos na administração pública,
como forma “elegante” de levantar o moral político do amigo. Essa atitude é
adotada sem qualquer avaliação quanto à necessidade do seu trabalho e, em
muitos casos, trata-se de político com evidente decadência na vida pública, sendo
derrotado seguidamente nas urnas, mediante ato de chancela adotada pela decisão
soberana do eleitorado, que tem a consciência cívica de saber o que é realmente
melhor para o interesse público. Em mensagem direta, a sociedade diz com
clareza e convicção que a opção ideal para o político em fim de carreira é
tomar o caminho de casa e passar a cuidar em definitivo de seus interesses
particulares, deixando o espaço livre para o ingresso de novos políticos na
vida pública. Noutras situações, o convite para a assunção de cargo público tem
relação com o dever compensatório, em mera repetição de gesto praticado no
passado por colega de partido, que agora demonstra gratidão com o oferecimento
de emprego em ministério, secretaria de estado ou empresa pública, que funciona
como vergonhoso cabide de empregos, custeado com dinheiro dos bestas dos
contribuintes. Essa indecente forma de solidariedade serve como alternativa
para que o cidadão, que já se consolidou como profissional da política, tenha
chance de continuar em evidência na cena política, mesmo após de ter sido
reprovado nas urnas como homem público. Já está mais do que comprovado que a
politica brasileira é verdadeiro maná para quem nela ingressa, haja vista que, depois
disso, ninguém mais sai da vida pública e a tradição se consolida, com a
vocação sendo transmitida de pai para filho. Com certeza, a história seria
contada de forma bem diferente caso o político tivesse a obrigação de exercer
seu mandato eletivo exclusivamente em função do interesse público; trabalhar em
benefício da sociedade; comparecer ao trabalho 40 horas semanais, que é a carga
obrigatória para o servidor público; observar os princípios da administração
pública, em especial a ética, moralidade e legalidade; repudiar o fisiologismo;
respeitar o ideário programático do seu partido; receber somente a remuneração
pertinente ao cargo; jamais receber ajudas, auxílios, verbas de representação e
demais vantagens e mordomias indevidas e injustificáveis; não corromper-se no
cargo; e, enfim, honrar o cargo pela importância que ele realmente representa
diante do que a sociedade espera dele, apenas respeito aos preceitos do decoro
e probidade administrativa. Como nada disso é observado pelo político, não há
fato relevante capaz de suscitar o seu afastamento voluntário da vida pública
ou até mesmo motivar a sua aposentaria, como fazem normalmente os servidores
públicos. Não há dúvida de que, no contexto atual, diante do quadro bastante
favorável aos seus interesses, o político não tem a dignidade de sair da vida
pública senão pela impossibilidade de exercer cargo público, contra a sua
vontade. O eleitor já percebe que o afastamento voluntário dos políticos da
vida pública pode ser benéfico para o país, diante da possiblidade do
surgimento de novas lideranças, e da esperança de que haja mudança de
mentalidade e modificação do atual quadro de promiscuidade reinante na política.
A sociedade anseia por que os homens públicos se conscientizem sobre a
necessidade de ser valorizada a política como instrumento de legitimidade e de responsabilidade,
tendo como foco direcional a consecução de objetivos de interesse público, como
forma de contribuir para a construção do desenvolvimento do país, em
consonância com os princípios democráticos da honestidade, ética e moralidade.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 16 de fevereiro de 2013
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