O partido do governo
não se cansa de alimentar o debate jurídico sobre os meandros do mensalão, a
exemplo da troca de cartas entre um senador petista e um ministro do Supremo
Tribunal Federal, em que o parlamentar insiste em negar a realidade dos fatos
amplamente dissecados nos autos e mostrados com detalhes no julgamento que não
deixou a menor dúvida, para as pessoas honestas e sensatas, sobre a materialidade
dos crimes perpetrados pelos mensaleiros, mas os governistas não aceitam que
seus companheiros tenham culpa pelas falhas apuradas e sejam julgados e
condenados pelos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, peculato,
lavagem de dinheiro e outras infrações igualmente indignas. Não há a menor dúvida
de que os petistas estariam aplaudindo a atuação do Supremo caso o mensalão envolvesse
seus adversários políticos e certamente os fatos criminosos seriam usados com
insistência para menosprezo e desmoralização dos opositores. Embora a estratégia
da liderança petista seja visivelmente a de tentar minimizar o desgaste da
imagem do partido, em especial por 2014 ser ano eleitoral, na tentativa de
contestar politicamente o julgamento correto e soberano da Suprema Corte de
Justiça sobre os tenebrosos fatos do mensalão, percebe-se que o tiro pode sair
pela culatra com o visível desgaste das campanhas pertinentes às “vaquinhas”
para socializar entre os simpatizantes dos atos de corrupção o cumprimento da
multa pecuniária aplicada aos criminosos condenados no processo do mensalão, sem
que os próprios apenados, os criminosos condenados, contribuam com um único
centavo para pagar a sua dívida. Sobreleva salientar o recado mandado ao
senador petista pelo ministro do Supremo de que a pena para os condenados é
impessoal e intransferível. Tanto dinheiro arrecadado em pouco tempo levou à
suspeita de que a “lavanderia” petista poderia ter funcionado nesse processo de
doação, fato que suscitou desconforto e desgaste para os líderes do partido,
com a perda, no ano eleitoral, de credibilidade quanto aos métodos
questionáveis empregados pelos petistas para solucionar suas questões, como nesse
vergonhoso caso da “vaquinha” entre amigos. Na concepção do partido governista, as
irregularidades praticadas pelos filiados do PT não podem ser consideradas
contrárias aos princípios da moralidade, da ética, do decoro ou da
honorabilidade, como tem sido a sua demonstração de aplausos aos “heróis”
envolvidos no mensalão. Trata-se de partido que se julga "imaculado",
mesmo flagrado desviando recursos públicos, como no escandaloso esquema do
mensalão, que consistia em operar, mediante fraude, o uso de dinheiro do Visanet,
de origem particular, mas administrado pelo Banco do Brasil, este com capital
majoritário do governo, para pagamento de parlamentares aprovarem projetos de
interesse do governo, no Congresso Nacional. Não obstante, esse deplorável fato
não é capaz de fazer com os petistas se dobrem à realidade dos fatos e de
aceitar até mesmo que o famigerado mensalão existiu, apesar das robustas
evidências e provas materiais, testemunhais, periciais e tantas outras
legalmente válidas para confirmarem a participação de cada envolvido nas
operações fraudulentas, que foram atestadas pelos corruptos passivos, não
deixando a menor dúvida quanto aos atos criminosos cometidos contra o erário.
Agora essa artimanha de arrecadar dinheiro para pagar multa aplicada pela
Justiça aos mensaleiros constituir mais uma bizarrice surreal de iniciativa dos
petistas, que ainda merece o beneplácito dos correligionários, que, ignorando
completamente a necessidade da moralização nas atividades
político-administrativa, não têm o menor pudor de ajudar com suntuosas
contribuições financeiras, como se estivessem participando de campanha
realmente digna de apoio, embora o cerne da questão cinge-se à punição com
multa decorrente de corrupção com recursos públicos. Caso o mensalão ocorresse num
país sério e com um pouco de desenvolvimento político-social, certamente que os
petistas condenados com multa pecuniária jamais se atreveriam a protagonizar
campanha tão indecente e deprimente como essa de pulverizar o efeito da
penalidade entre pessoas inocentes e ingênuas, porque isso significa o
reconhecimento não somente da cumplicidade com o crime, mas a mediocridade das
pessoas em participarem de ato de indignidade contra os princípios da ética, da
moralidade e da probidade, que devem imperar sobre qualquer pensamento
ideológico partidário, que somente prevalece no país tupiniquim, onde parcela
da sociedade ainda prefere não se conscientizar sobre a necessidade de valorização
dos preceitos da dignidade do ser humano, mediante veemente repúdio aos atos de
corrupção e aos corruptos que deveriam ter a nobreza de assumir seus erros e
pagar pelos crimes cometidos contra a nação. A sociedade honrada precisa
reagir, com urgência, em atenção aos princípios de civilidade e de amor ao
país, para abominar as atitudes contrárias aos princípios da ética, do decoro, da
moralidade, da probidade e principalmente do respeito aos sublimes valores da
dignidade humana. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 16 de fevereiro de 2014
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