quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Demonstração de imaturidade e insensibilidade

Líderes de sete partidos da base aliada – com 240 deputados federais -, mais o Solidariedade, que é de oposição, resolveram criar bloco "informal" que terá a finalidade de pôr pressão entre as relações de suas agremiações com o governo federal, na tentativa de aumentar o poder de negociação acerca das questões de seus interesses. De início, o “blocão”, como passou a ser denominado, já resolveu, como primeira medida, apoiar requerimento formulado por líderes da oposição, propondo que o Legislativo investigue suspeitas de pagamento de propina a funcionários da Petrobras. O gesto dos parlamentares apenas expõe sentida insatisfação com o governo, que teria deixado de cumprir o acordo de liberação de emendas parlamentares de 2013 e ainda com o fato de o Palácio do Planalto ter trancado a pauta da Câmara dos Deputados, com a classificação dos projetos de seu interesse com o regime de urgência constitucional. O líder do PMDB ponderou que o bloco, que tem o seu partido no comando, objetiva propiciar maior "poder" ao Congresso Nacional, tendo declarado que “Não quero discutir se isso é retaliação ou consequência [das ações do governo]. Estamos fazendo isso com o objetivo de nos fortalecer no Parlamento. O que fazemos ou fizemos é uma aliança informal para procedimentos comuns”. O grupo considera importante a investigação das denúncias segundo as quais funcionários da Petrobras teriam recebido propina da empresa holandesa SBM Offshore, que aluga plataformas flutuantes a companhias petrolíferas, conforme reportagem publicada pelo jornal “Valor Econômico”, na qual consta que o suposto suborno consiste no pagamento de propina a autoridades de governo e de estatais de diversos países, inclusive do Brasil. No período de 2005 a 2011, teriam sido pagos mais de US$ 250 milhões em propinas.  O porta-voz do dos parlamentares afirmou que “A oposição apresentou requerimento para apurar essa questão envolvendo propina na estatal e vamos todos apoiar a aprovação desse texto essa semana”. Causa enorme estranheza o fato de os parlamentares se dignarem a apoiar a apuração da denúncia sobre possíveis irregularidades na Petrobras apenas em represália ao governo, com o que se pode inferir que não haveria investigação caso o Palácio do Planalto tivesse repassado os valores das emendas parlamentares e evitado o trancamento da pauta da Câmara. Isso demonstra o nível do Parlamento brasileiro, que funciona ao sabor das conveniências e dos interesses pessoais, em total prejuízo às causas nacionais, que seriam a essencialidade objetivada pelas atividades políticas. Esse "blocão", que foi criado sob a pompa e o entusiasmo de várias lideranças partidárias, tem tudo para, logo, virar "bloquinho", a depender de simples canetada da presidente da República autorizando a liberação das emendas parlamentares e o atendimento das reivindicações dos deputados. É visível a forma escandalosa como os parlamentares se articulam para resolver as questões inerentes a seus interesses. Enquanto não houver reforma política, com profundidade e abrangência, deixando claro e expresso que o fisiologismo ideológico é condenável, em especial nas atividades políticas, as tristes formas de pressão vão permear as práticas políticas sempre niveladas por baixo, em evidente detrimento do interesse público. A criação do "blocão" tem muito a ver com o que se pode chamar fogo amigo, que tem por finalidade o funcionamento de aliados, na maioria absoluta, em contraponto aos interesses do governo no Congresso. É óbvio que tudo isso teria sido evitado se a presidente da República tivesse liberado os valores pertinentes às emendas dos parlamentares, em concomitância com a não interferência nos trabalhos legislativos da Câmara. É tudo tão claro que se trata de vergonhosa e inescrupulosa chantagem política, justamente em decorrência da falta de atendimento satisfatório dos abomináveis acordos do toma lá, dá cá, por serem imorais e contrários aos princípios democráticos. Esse episódio ridiculariza a atuação parlamentar, que se aproveita da situação para pressionar o governo sobre questões de interesse estritamente pessoal, quando a modernidade sinaliza para a necessidade de pureza nas atividades político-partidárias. A sociedade anseia por que os homens públicos tenham suficientes maturidade e sensibilidade políticas, capazes de entender que o exercício dos cargos públicos eletivos consiste essencialmente na satisfação do interesse público. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 26 de fevereiro de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário