terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Pesquisa maculada pela irrealidade

O instituto MDA acaba de divulgar pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), na qual é mostrado que a presidente da República lidera as intenções de voto para as eleições presidenciais do corrente ano. Na pesquisa divulgada em novembro último, ela foi destaque entre os presidenciáveis com 43,5% das intenções de voto, tendo, agora, ampliado um pouco esse percentual para 43,7%. Em segundo lugar aparece o senador tucano, que teve significativa queda de 19,3% para 17%, vindo em seguida o governador de Pernambuco, com o registrou de 9,9%, com leve crescimento em relação à pesquisa anterior de 9,5%. É curioso se saber que a pesquisa revelou que 20,4% das pessoas ouvidas declaram não votar em nenhum dos candidatos ou optar por votar em branco ou nulo. Já aqueles que não souberam responder representam 9% dos entrevistados. O instituto MDA informou que foram ouvidos 2.002 eleitores em 137 municípios de 24 unidades da federação, mas não foram esclarecidos detalhes sobre nível cultural, vínculos empregatícios e demais condições capazes de avaliações sobre possíveis tendências em definitivo. A pesquisa parece tendenciosa, ante a afirmação de que, considerado o cenário atual, o resultado dos levantamentos sugere “que, se a eleição fosse hoje, a presidente Dilma Rousseff poderia ser reeleita no primeiro turno...”, ante a deselegância de que, na atualidade, é totalmente injusto e irreal se fazer qualquer juízo de valor sobre a preferência do eleitor, porquanto se trata de precipitação quanto à conclusão com base em fatos isolados, alheios à realidade da campanha eleitoral, que dependeriam em primeiro plano, no mínimo, da divulgação dos candidatos e dos seus planos e programas de governo. É evidente que não se pode caracterizar a pesquisa de manipulação por parte de seus idealizadores, mas com certeza o momento ideal de pesquisa deve ser exatamente quando forem deflagrados os embates entre os candidatos, mediante os quais eles possam apresentar seus programas de governo, mostrando como pretendem administrar o país e esclarecer e justificar os meios que deverão utilizar para reformular as arcaicas e obsoletas estruturas do Estado, que não consegue se desenvolver nas atuais condições político-socioeconômicas inseridas no contexto administrativo por exclusivas conveniências políticas, com o propósito da perenidade no poder. Não deixa de ser surreal o governo ser massacrado pelas manifestações das ruas, com protestos explícitos sobre a falta de serviços públicos de qualidade somente dispensados às reformas e às obras dos estádios destinados à Copa do Mundo, ainda merecer aprovação dos brasileiros, quando, no interregno de junho de 2013 até agora, nada foi feito de especial para melhorar as condições de vida da população, salvo a implantação do programa Mais Médicos, com a questionável importação de médicos cubanos, sem que fossem implementadas as melhorias das condições da infraestrutura para o atendimento digno do povo. No Estado Democrático de Direito, onde os salutares princípios democráticos e republicanos devam funcionar com ampla transparência, não parece justa a realização e publicação de pesquisa que não reflita a realidade quanto à igualdade de exposição dos candidatos, aonde a presidente da República já vem fazendo campanha eleitoral há bastante tempo, com aparição na mídia, especialmente na televisão, inclusive viajando pelo país para a inauguração de obras públicas e promovendo o seu governo, enquanto os demais candidatos são proibidos de antecipar a sua campanha eleitoral. Deve haver igualdade de condições, como forma de se evitar injustificável benefício ou prejuízo a quer que seja. As pesquisas sobre a intenção de voto, na forma como foram levantadas e divulgadas, são absolutamente enganosas e irreais, principalmente por não ser possível que tão somente 2.002 eleitores entre 140 milhões de eleitores sirvam como parâmetro para se concluir, com segurança, que alguém conte com determinado percentual de preferência de votos, em que pesem as estatísticas se basearem em amostragem, mas, de sã consciência, é bastante improvável que pouco mais de 2.000 eleitores sejam capazes de ditar qualquer tendência do eleitorado, quando se sabe ainda que a pesquisa foi pulverizada em 137 municípios. A sociedade anseia por que as pesquisas eleitorais reflitam a realidade dos fatos, tendo por base exclusivamente informações precisas sobre os candidatos, de modo que eles sejam apresentados aos eleitores em igualdade de condições, com a transparência exigida nos regimes legitimamente democráticos e republicanos, sob pena de questionamentos capazes de macular a seriedade dos levantamentos que poderiam servir como instrumento contrário ao aperfeiçoamento da democracia. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 18 de fevereiro de 2014

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