terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Diálogo da futilidade

Em razão da enorme repercussão causada nacional e internacionalmente causada pela morte do cinegrafista, o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República declarou que o governo deverá enviar representantes para as cidades-sedes da Copa do Mundo, tendo por finalidade tentar antecipar o diálogo com os movimentos sociais e minimizar os riscos dos protestos em potencial, durante a realização do mundial da Fifa. Segundo o ministro, a missão dos servidores terá, por essência, a análise de eventuais problemas que possam ser questionados nas ruas durante a realização do evento esportivo. Ele também disse que espera que o diálogo com a sociedade deva se basear em "fatos", e não em "meias verdades”. A estratégia anunciada pelo Palácio do Planalto é no sentido buscar maior aproximação com os movimentos sociais, principalmente após perceber que o estopim começa a ser apontado para ser aceso por ocasião da Copa do Mundo.  O ministro assegurou que: “Faremos um diálogo exaustivo para que a gente possa, de fato, ter um debate em cima da verdade, de fatos, e não de meias verdades, e não de propaganda disso ou daquilo. As manifestações evidentemente vão ocorrer, mas elas não podem, de jeito nenhum, (acontecer) com essa marca da tragédia que nós estamos acabando de ver agora. Só a paz, só o diálogo, só a manifestação pacífica, sem violência nem do lado policial e nem do lado dos manifestantes, vai nos levar aonde nós queremos". O governo está coberto de razão em querer dialogar, agora, com os movimentos contra a realização da copa, porque se esqueceu de conversar com eles antes de insistir e implorar para realizar o evento no país, sem antes ter combinado com eles que os suntuosos dispêndios com o evento teria o condão de satisfazer o tresloucado ego do ex-presidente da República petista, que fez o maior sacrifício para convencer a cúpula do futebol mundial, mesmo sabendo que o povo continuaria sendo massacrado com a falta de obras públicas para o atendimento das suas necessidades básicas, porque os investimentos prioritários seriam feitos tão somente para a copa. Talvez o governo queira evitar que os protestos prejudiquem ainda mais a já chamuscada imagem do país, que não teve a competência para fazer a lição de casa antes de assumir com os compromissos pertinentes à realização da Copa, que, apesar de gastar além do horizonte, não consegue satisfazer os poderosos da Fifa, que não cansam de demonstrar irritação quanto aos atrasos, inclusive sob ameaça de cancelamento de jogos em algumas cidades-sedes. Acontece que não são somente os atrasos dos estádios que estão desgostando os caciques da Fifa, porque o governo também não consegue realizar as obras pertinentes à mobilidade urbana, que estão ano-luz da conclusão pretendida, a exemplo dos aeroportos, que não ficam prontos antes do início do evento, a demonstrar plena incompetência da administração do país, que não teve capacidade para cumprir os cadernos de obras exigidos pela Fifa. É risível que o governo pretenda dialogar com a sociedade com base nos "fatos" e não em "meias verdades”, mesmo sabendo que os fatos falam por si sós e estão escancarados e expostos às claras, evidenciando toda falta do compromisso com a sociedade e a Fifa. O governo tem inteira razão quando se antecipa para discutir sobre os fatos verdadeiros, ocasião que ele deve aproveitar para justificar suas falhas, omissões e deficiências representadas pela falta de obras, principalmente sociais. Certamente ele vai justificar os estapafúrdios gastos com as reformas e as construções dos estádios padrão Fifa, que deverão servir para evento de poucos dias, em alguns locais, com apenas três ou quatro jogos, sem o menor benefício para a população, enquanto as obras prioritárias, aquelas que poderiam amenizar as precariedades e as mazelas sociais que grassam pelo país continuam sem a menor atenção, a exemplo dos hospitais, das estradas, das escolas, dos portos etc. Urge que os governantes se conscientizem sobre o fiel e prioritário cumprimento das incumbências constitucionais e legais, que não dizem respeito à realização de eventos absurdos e megalomaníacos, absolutamente fora do contexto e da realidade do povo brasileiro, em total dissonância com os anseios da sociedade. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 10 de fevereiro de 2014

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