Ao articular e defender a realização da Copa do
Mundo de 2014 no Brasil, o então presidente da República, que, até a
proclamação do resultado favorável às suas pretensões, não teve capacidade para
administrar com eficiência o país, imaginava que o evento jamais poderia
suscitar questionamentos, principalmente quanto à completa falta de
infraestrutura compatível com a sua grandiosidade. A “ingenuidade” do governo
era tanta que talvez imaginasse que tudo deveria se realizar num passe de
mágica, sem o menor sacrifício para a sociedade, que foi traída e enganada com
as suntuosas obras das reformas e construções dos estádios padrão Fifa, da
melhor qualidade e com desmedidos gastos públicos que jamais foram destinados
às obras prioritárias, indispensáveis à melhoria das condições de vida da
população, a exemplo de escolas, hospitais, unidades de saúde, estradas,
delegacias, presídios, moradias, creches, portos, aeroportos etc., tudo da
melhor qualidade, nos moldes do cuidado dispensado às arenas, com seu
esplendoroso e requintado acabamento incompatíveis com a realidade do povo
brasileiro, que ficaria contente se as obras para a Copa pudessem se
transformar em seu beneficio. Não teria problema algum que o governo realizasse
a Copa no país, mas com a obrigatoriedade de as obras dos estádios ficando sob
a responsabilidade da inciativa privado e somente as obras de mobilidade
poderiam contar com a participação de verbas públicas. Não há a menor dúvida de
que esse evento de importância mundial vai se realizar no Brasil com o único
propósito de satisfazer o enorme ego de ostentação e de extrema vaidade de
poder que existem nas pessoas, mas, por cautelar prudência, antes que isso fosse
imaginado, seria indispensável que o governo tivesse a capacidade de atender,
com a devida prioridade, as carências básicas da sociedade, que se sente,
agora, com total justiça, penalizada diante dos estádios comparáveis às arenas
da Europa, cujos países que já sediaram evento semelhante não padeciam da
mediocridade e da incapacidade dos governantes tupiniquins, que são
extremamente capazes de vislumbrar apenas os louros em seu favor e brilhantes
horizontes das suas carreiras políticas, notadamente se eles fizerem parte das
suas realizações pessoais de perenidade no poder. O certo é que os sonhados
bônus não serão conseguidos facilmente, porque somente os estádios estão sendo
reformados e construídos segundo os padrões de qualidade exigidos pela arrogante
Fifa, ou até mesmo em condições superiores a eles, e o mais grave com recursos
públicos, sob preços superfaturados e, como sempre, recheados de
irregularidades, em consonância com o já conhecido jeitinho brasileiro, segundo
no qual prevalece a intempestividade em tudo que se pretende implementar, para
que as obras sejam supervalorizadas, normalmente com o inevitável concurso das
costumeiras maracutaias e irregularidades, como forma de preservar a cultura da
incompetência e do desperdício. O outro fato de gravidade igual ou pior diz
respeito à falta das famosas obras de mobilidade urbana, que ainda se encontram
na promessa e algumas já começadas estão bastante atrasadas e quiçá sejam
concluídas até o começo da Copa. A propósito, o governo pretende promover
intensa campanha publicitária para ressaltar a importância dessas obras de
mobilidade, que deverão ser feitas em virtude do aludido evento, como se os
governos não tivessem a obrigação de fazê-las independentemente da Copa ou de
qualquer evento, haja vista que o país precisa se modernizar, em consonância
com o crescimento urbano e populacional, a par de haver a obrigação natural do
acompanhamento da evolução da humanidade, que exige não somente modernização dos
projetos urbanísticos e geográficos, mas especialmente competência dos
administradores públicos, que não devem vincular as políticas e as ações em
benefícios da sociedade à realização de determinados eventos ou participações
esportivas, como se não fosse da sua atribuição constitucional gerenciar o
Estado com eficiência, racionalidade e responsabilidade, em estrita harmonia
com os princípios da administração pública e com a necessidade de aplicar os
recursos públicos nas melhorias e no bem-estar da sociedade. Faz sentido o povo
se rebelar contra as iniciativas de pouca ou nenhuma criatividade,
produtividade e eficácia em beneficio da sociedade, motivando as justas
manifestações de protestos contra os absurdos protagonizados pelos governantes,
que se fazem de moucos, cegos, alheios e tontos, ante aos reclamos da sociedade
exigindo o indispensável cumprimento do seu dever constitucional e legal,
quanto à obrigação de empregar os recursos públicos com legalidade, eficiência,
economicidade, transparência e probidade, com embargos da execução, com verbas
públicas, de empreendimentos estapafúrdios e inconvenientes como a realização
da Copa do Mundo no Brasil, porquanto as condições de vida de significativa
parcela da sociedade são de extrema penúria e de lamúria, em virtude da
ausência do Estado. Diante dessa dicotomia, entre patrocinar a Copa, com requintes
e esbanjamento de recursos públicos, e a omissão das políticas públicas
constitucionalmente obrigadas, fica patente caracterizado o crime de
responsabilidade das autoridades que deram causa a essa terrível situação,
cabendo aos órgãos de controle e fiscalização promoverem as devidas ações, como
forma de dá fiel cumprimento à sua missão institucional. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 05 de fevereiro
de 2014
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