Não tem sido novidade para
ninguém que o Brasil atravessa intensa crise institucional entre os poderes da
República que, ao contrário do que se pretende, ela somente se recrudesce à
medida em que se coloca mais lenha na fogueira, com os ânimos das autoridades
envolvidas cada ver vez mais atiçados pelas próprias vaidades, alimentadas pela
força de seus pseudopoderes, em clara demonstração do verdadeiro egoísmo que
sobrepõe aos interesses nacionais.
Ao que tudo indica, acaba de
aparecer alguém com a predisposição de salvar o Brasil, ao mostrar plano de
cunho extremamente mirabolante, mas que ele entende que vai, finalmente, contribuir
para a pacificação e a solução das ingentes questões que assolam o Brasil e
estão afligindo a vida dos brasileiros, conforme a descrição apresentada a
seguir, que tem por objetivo o lançamento de ideias para o fim da reflexão pelos
brasileiros, que estão realmente ávidos por que a paz e a ordem republicana
voltem a reinar no país.
Pois bem, um cantor sertanejo informou, nas redes sociais, que está sendo organizada
monstruosa manifestação no dia 7 de setembro, em favor do presidente da
República, contando com o apoio de caminhoneiros e agricultores, para a concentração
em Brasília.
Ele disse, em tom de
convite nacional: “Vocês que estão a fim de salvar o Brasil, vamos com a
gente para Brasília”.
O
cantor disse que o objetivo do movimento de mudança, em forma de conscientização
da sociedade, é “para fazer uma coisa séria, para que o governo tome uma
posição, o Exército tome uma posição, mas se o povo não tomar essa posição,
nada vai.”.
O
cantor ainda disse que o movimento terá a presença de diversos artistas e
empresários, tendo adiantada que “Estamos
fazendo um movimento clássico, sem agressões, sem nada. Vocês vão se
assustar com o movimento, mas a gente é da paz. Não aceito mais a situação que
está o nosso País”.
O
cantor disse, em tom de ameaça, em Brasília, em reunião com representantes do
agronegócio, conforme vídeo que circula nas redes sociais, que “Nós vamos
parar 72 horas. Se não fizer nada, nas próximas 72 horas, ninguém anda no País,
não vai ter nem caminhão para trazer feijão para vocês aqui dentro. Nada
vai ser igual, nunca foi igual ao que vai acontecer em 7, 8, 9 e 10 de
setembro, e se eles não obedecerem a nosso pedido, eles vão ver como a cobra
vai fumar, e ai do caminhoneiro que furar esse bloqueio”.
O
ímpeto do cantor sertanejo é tanto que ele divulgou, em outro áudio, afirmando que
vai entregar, pasmem, “intimação” ao
presidente do Senado, para que “aprove” o
voto impresso e derrube os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, em até 72 horas.
Ele
garantiu que o ultimato será entregue no dia 8 de setembro, por ele, 2 líderes
dos caminhoneiros e 2 líderes dos produtores de soja e que, segundo ele, caso
as reivindicações não sejam atendidas no prazo, “o
país vai parar. Norte
a Sul, Leste a Oeste. Os plantadores de soja vão pôr as colheitadeiras nas
estradas, ninguém pode andar, nem carro particular, nem ônibus. Todos estão
sendo avisados. Ônibus que vier com passageiro vai ter que voltar para
trás. Só vai ter ambulância, polícia, bombeiro, uma emergência. Não é um
pedido, é uma ordem. É assim que eu vou falar com o presidente do Senado.
O documento que entregará será uma intimação. É como um oficial de Justiça”.
Os
caminhoneiros já se anteciparam e disseram que não reconhecem a liderança, para
eles, do cantor sertanejo, o que vale dizer que pode ter começado a entrar água
na canoa e isso indica sinal de que esse movimento precisa ser mais bem pensado,
para que a sua implementação não seja ainda mais prejudicial à vida dos
brasileiros.
Sabe-se,
por alto, que o movimento tenta levantar a força do povo, tendo por base o
disposto no parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal, que estabelece,
ipsis litteris: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”.
É
bem de se ver que o texto deixa bastante claro que o povo, nesse caso, tem
poder sim, mas exclusivamente para eleger seus representantes, podendo ainda
opinar nos casos de plesbicito e consultas, na forma prevista na Constituição,
e mais absolutamente nada, muito menos esse verdadeiro disparate de se amparar
que o presidente do Congresso possa cometer ato golpista contra outro poder da
República, porque isso, à luz do bom senso e racionalidade, não tem o menor
cabimento, em termos jurídicos, em pleno século XXI, onde a modernidade acena
para o diálogo construtivo, em sintonia com os princípios da tolerância, da convergência,
republicano e democrático.
Tudo
indica que o movimento pretende usar o povo para fazer pressão sobre o
presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, a quem será entregue
documento, no primeiro dia após o 7 de Setembro próximo, tendo por cerne, em
especial, ultimato para que ele, pasmem, decida sobre dissolução do Supremo Tribunal
Federal, além da realização de Constituinte e da aprovação do voto impresso.
Nunca
se viu tamanha loucura e desespero, envolvendo sentimentos, a só tempo, de
incompetência, insensatez e irresponsabilidade, em termos político-administrativos,
com a marca da truculência contra os princípios republicano e democrático,
precisamente em circunstância completamente sem o devido amparo constitucional,
evidentemente se toda essa barbaridade for levada a efeito, precisamente na
forma como aduzida acima.
Fala-se
em mobilização dos caminhoneiros, que trancariam as principais vias de tráfego
do país, caso o presidente do Congresso nada decida, nos termos do ultimatum
entregue a ele, cuja paralisação seria ad aeternum, nos moldes do que já
aconteceu com o último movimento organizado por eles, em que os danos
resultantes dos desastres havidos foram levados à conta da população, em que
pese o seu sofrimento diante da situação simplesmente caótica.
Presume-se que o malsinado movimento resultará
em nada, como é que haverá de acontecer, porque o Senado Federal certamente não
irá deliberar pelo impeachment dos ministros do Supremo Tribunal Federal e
muito menos pela adoção da outras medidas, em apenas três dias, ante à normal
conclusão da inexistência de fatos geradores em sustentação às medidas de
natureza extremada, salvo pela imposição de verdadeiro golpe de origem civil,
infelizmente em nome do povo, com a indevida invocação de dispositivo que não
dá esse poder, ou seja, o que se pretende é absolutamente inconstitucional, o
que se exige que as mentes inteligentes e com o juízo no lugar, imbuídas da
sensibilidade cívica e patriótica, possam intervir nesse processo de extrema
exceção constitucional.
Em
princípio, é possível que esse movimento estapafúrdio, porque absolutamente
inconstitucional, até possa ter algum propósito bom, no plano da imaginação, que
resultaria em algo benéfico para a sociedade, caso tudo transcorresse como as
lideranças estão delineando, no sentido de que os senadores vão atender, pasmem,
em três dias, todas as exigências, que têm por prioridade o fechamento do Supremo,
como se isso fosse tão fácil assim, diante dos contornos próprios das normas
constitucionais.
Não
obstante, é de se prevê também que nada se decida, precisamente diante da inocorrência
de crimes de responsabilidade bastantes para ensejarem o impeachment
generalizado de ocupantes de cargos logo de importante poder da República,
porque sem os quais o Senado Federal não tem como justificar os respectivos
atos, em termos jurídicos, à vista de exigências com base na Constituição, para
a caracterização, em última análise, de graves contra o Estado, salvo se
realmente se tratar de golpe e logo sob a liderança do presidente da República,
que deveria demonstrar coerência e também propor o fechamento do Executivo,
porque, somente nesse caso, haveria o tratamento isonômico, de que trata a
Constituição.
Então,
como afastar dos cargos, de uma tacada só, todos os ministros do Supremo,
somente com base no aludido parágrafo único, que não tem absolutamente qualquer
liame com essa situação absurda e extrema, porque lá diz que o povo tem força apenas
para eleger e legitimar o exercício dos mandatos eletivos, para o exercício do
poder, quando ali estabelece apenas que “todo poder emana do povo”, ou
seja, somente pode exercer o poder se for votado pelo povo e mais nada, não
podendo, em hipótese alguma ir além disso, como pretendem os doutos juristas de
revolução natimorta e de cunho visivelmente golpista, nada admissível em pleno
século XXI, quando os homens precisam se conscientizar sobre a valorização dos
salutares princípios democrático e republicano, que somente devem ser
empregados em benefício da grandeza das instituições públicas?
Vejam-se
que, depois de eleito, o povo não pode fazer mais nada, porque o ideal era que,
se o eleito não prestasse, não defendesse e as causas e os interesses do povo,
deveria existir dispositivo permitindo o recall, ou seja, o afastamento do
representante, diante da sua inutilidade para o fim decidido por meio da votação.
Outra
situação que pode ser considerada estranha e até risível é a que diz que o
movimento se destina a apoiar o presidente da República, quando deveria existir
para apoiar os interesses do Brasil, no sentido de convocar o povo para o apoio
da proposição de medidas em defesa e benefício de causas de importância para os
brasileiros e o Brasil e jamais para apoiar o presidente, mesmo porque até
agora ele não tem a mínimo noção do que sejam as suas reais funções como
presidente da nação com a grandeza do Brasil, porque, desde que tomou posse,
ele vive metido em encrencas e confusões uma atrás das seguintes, enquanto as
questões e as crises brasileiras somente se avolumam em dimensão cada vez mais
intensa, mas ele sempre encontra fôlego para arranjar novas polêmicas e atritos
para se manter na mídia.
Esse
movimento, se realmente acontecer, tem tudo para virar angu encaroçado, porque os
caminhoneiros prometem travar as estradas do país, de modo que todo trânsito de
veículos será impedido em todas as estradas, com consequente desastre em todos
os segmentos, com pior e mais terrível para a economia, que é exatamente a
parte diretamente atingida com as greves.
Embora
o brasileiro tenha memória curta, mas ainda ressoa em muitas mentes o desastroso
resultado da última paralisação dos caminhoneiros, que só causou transtornos os
mais complicados, embora as suas consequências danosas foram arcadas pelo povo,
que foi obrigado a parar por falta de combustível e ressentiram pela escassez
de alimentos e gêneros de primeira necessidade.
Certamente
que nova paralisação será o surgimento de novos desastres, com reflexos extremamente
prejudicais contra o povo, que, apesar de dá apoio ao movimento, sempre termina
assumindo o ônus da incompetência e das mazelas da gestão pública.
Como
a pretensão do movimento diz que tem por finalidade apoiar o presidente do país,
ele simplesmente finge-se de morto, sabendo de tudo, mas prefere ficar em silêncio,
quando, se ele tivesse o mínimo de sensibilidade administrativa e responsabilidade
pública, teria o dever de convocar o governo para estudar, nos mínimos detalhes,
o que realmente os líderes da mobilização estão pretendendo, justamente para
que tudo seja devidamente estudado e avaliado por parte do Executivo.
Certamente
que o resultado de toda tragédia será integralmente debitado à conta da gestão pública,
inclusive os faraônicos prejuízos econômicos, visto que qualquer paralisação há
enormes e vultosos danos tanto para a sociedade como à economia, em especial,
que ela já se encontra completamente debilitada, por força da pandemia do
coronavírus.
Por
fim, é extremamente preocupante e estarrecedora a mentalidade das pessoas que
tiveram essa estrambótica e complexa ideia de arranjar e construir motivo sem
qualquer conexão com fatos factíveis e plausíveis, como essa engenhosa monstruosidade
de fechamento de poder da República, somente porque integrantes dele mantém notórias
disputas de poderes com o chefe do Executivo, a qual somente se sustentaria nas
piores e medíocres republiquetas, onde a inteligência democrática é absolutamente
volátil, quase inexistente, que se sustenta na mente poluída e desprovida do
mínimo de racionalidade.
Não
poderia haver ideia mais chocante, derrotista, antidemocrática e desumana do
que essa de se vincular a falta de atendimento da reivindicação em tela à consequente
paralisação das atividades econômicas e sociais, que em nada vai atingir aquelas
autoridades para quem o pedido foi formulado, ou seja, com greve ou sem ela, para
as autoridades que teriam, em princípio, o dever de atender ao pleito, em nada
vai prejudicar os interesses delas, que não serão afetadas em nada, o que vale
dizer que a efetividade do protesto referente aos bloqueios do tráfego em todo
país é absolutamente inócua, como forma de represália contra a classe política?
A
bem da verdade, é preciso se alertar, em forma de apelo, para a insensibilidade
desses antibrasileiros que propugnam por absurda e inadmissível paralisação que
somente tem efeito, com muita gravidade, contra a população, que será atingida
diretamente pela falta de liberdade de ir e vir nas estradas, além do mais
preocupante que é a falta ou a escassez de alimentos e gêneros de primeira
necessidade, e outras impossibilidade decorrentes dos bloqueios.
Há
de se ver que o movimento de paralisação, na visão de suas lideranças, será
contra os políticos, que em nada seriam atingidos por seus efeitos, quando, na verdade,
ele será contra os interesses diretos do Brasil, cujos rombos decorrentes hão de
ser assumidos pelo povo, exatamente a quem está sendo instigado a apoiar essa
visível insanidade.
Isso
só demonstra o altíssimo nível da incompetência do governo, que precisa se
despertar, com urgência, da dominância da catalepsia que o impede de enxergar a
desgraça que se planeja para o Brasil, com o prenúncio de se colocá-lo em
trágico abismo político-institucional, tendo em vista que as medidas anunciadas
são completamente destituídas de fundamento constitucional, se realmente elas tiveram
pela indicação de respaldo o disposto no parágrafo único do art. 1º da Constituição,
porque a sua finalidade não condiz, em absoluto, com o apoio de medidas de
caráter golpista, a exemplo dessa pretendida.
A
voz da inteligência, da sensatez e seriedade diz que o fazimento de justiça, no
caso, aponta para o levantamento dos crimes praticados pelos verdadeiros envolvidos,
que até pode ser medida que alcance a todos os ministros, conforme for o caso especificamente
justificável, por causa de delito praticado contra o Estado, não importando,
diante das circunstâncias, qual dos poderes eles pertençam, para o fim do
devido enquadramento penal, na estrita forma prevista na Constituição, e da consequente
proposição da ação judicial que se fizer necessária, à vista das sanções
pertinentes, que até pode implicar com o impeachment, se essa for o veredicto
do julgamento.
Agora,
não passa de estapafúrdia presepada tirânica e golpista o simples entendimento sobre
o fechamento do Supremo, em apenas três dias, porque esse fato somente tem
cabimento em mentes doentias e desfocadas da realidade da vida moderna, de
respeito aos princípios republicano, democrático e de civilidade.
O
governo federal, incluídas aí as Forças Armadas, precisa se antecipar aos fatos
desastrosos, no sentido de perceber o verdadeiro perigo que se transformará para
os interesses do Brasil, com preocupantes e gravíssimas repercussões mundiais, sobretudo
por afetar diretamente a economia e a população, a eclosão de movimento que
leve à total paralisação das estradas, fato este a se lamentar, inclusive, que
parece contar com a aquiescência do presidente da República, que poderá ser
responsabilizado, se assim houver investigação, por sua conivência com os atos desastrosos
e perniciosos aos interesses nacionais.
À
toda evidência, o mínimo de sensatez, bom senso, racionalidade, competência e responsabilidade
mostra que esse movimento precisa ser estudado, analisado e avaliado com as
devidas urgência e profundidade pelo governo, neste caso contando com preciosa experiência
das Forças Armadas, especialistas em estratégias nacionais, cientistas políticos
e entidades da sociedade civil, de modo que as suas conclusões possam realmente
servir de norte seguro para a orientação sobre as melhores e acertadas medidas
necessárias ao saneamento das questões envolvendo a grave crise entre os poderes
da República, uma vez que a ideia tresloucado do cantor poderá resultar em
verdadeira tragédia nacional, cujas consequências certamente serão amargas para
os brasileiros.
Brasília,
em 16 de agosto de 2021
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