Depois da gigantesca repercussão que tiveram as insanas
e trogloditas declarações golpistas, no sentido de que o Congresso Nacional
seria ordenado a fechar o Supremo Tribunal Federal, o cantor sertanejo e
ex-deputado federal, estranhamente, logo percebeu a sua loucura e recuou das
fortes ameaças e disse ter pedido apenas para que fossem “estudados” os
impeachments de ministros daquela Corte.
O homenzarrão, agora, disse, em tom visivelmente
emocionado, com cara de medroso e sem jeito, que “Eu não pedi para que
acabasse com nada. Eu pedi que fizessem, que esses impeachments, fossem
estudados. Vamos fazer. Se o povo não for para as ruas no dia 7 de Setembro,
Brasília não vai fechar. Então não vai adiantar nada. O Exército não pode fazer
nada, o presidente não pode fazer nada e nós não podemos fazer nada. Estamos
fazendo a nossa parte”.
Nada disso é verdade, porque o cantor defendia, em áudio
que viralizou no último domingo, “ordenar” e dar “ultimato” ao
presidente do Senado Federal, com determinação para a derrubada, quase que
imediata, dos 11 magistrados da Corte e, o mais grave, em prazo exíguo de tão
somente três dias para a decisão draconiana.
Naquele momento, ele informou, nas redes sociais, que está sendo organizada
monstruosa manifestação no dia 7 de setembro, em favor do presidente da
República, contando com o apoio de caminhoneiros e agricultores, para a concentração
em Brasília.
O cantor falava, em tom
de convite nacional, o seguinte: “Vocês que estão a fim de salvar o Brasil,
vamos com a gente para Brasília”, porque o movimento tem o objetivo de mudança, em
forma de conscientização da sociedade, que é “para fazer uma coisa séria,
para que o governo tome uma posição, o Exército tome uma posição, mas se o povo
não tomar essa posição, nada vai.”.
O
artista ainda disse que o movimento terá a presença de diversos artistas e
empresários, tendo adiantado que “Estamos
fazendo um movimento clássico, sem agressões, sem nada. Vocês vão se
assustar com o movimento, mas a gente é da paz. Não aceito mais a situação que
está o nosso País”.
Ele
disse ainda, em tom de ameaça, em reunião com representantes do agronegócio,
conforme vídeo que circula nas redes sociais, verbis: “Nós vamos
parar 72 horas. Se não fizer nada, nas próximas 72 horas, ninguém anda no País,
não vai ter nem caminhão para trazer feijão para vocês aqui dentro. Nada
vai ser igual, nunca foi igual ao que vai acontecer em 7, 8, 9 e 10 de
setembro, e se eles não obedecerem a nosso pedido, eles vão ver como a cobra
vai fumar, e ai do caminhoneiro que furar esse bloqueio.”.
A
ameaça foi tão forte e com muita clareza que o cantor afirmou o que seria feito,
ipsis litteris: “Se em 30 dias não tirarem os caras nós vamos invadir,
quebrar tudo e tirar os caras na marra. Pronto. É assim que vai ser. E a coisa
tá séria”
O cantor disse na
conversa com um amigo que foi convidado a almoçar com o próprio presidente da
República, em reunião com militares “do Exército, da Marinha e da
Aeronáutica”, ou seja, com autoridades pensantes do governo, que certamente
acharam que o movimento liderado por ele seria realmente maravilhoso para
apoiar o mandatário do país.
O
ímpeto tresloucado do cantor sertanejo era tanto que ele divulgou, em outro áudio,
que iria entregar, pasmem, “intimação” ao
presidente do Senado, para que “aprove” o
voto impresso e derrube os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, em até 72 horas.
Ele
garantiu que o ultimato será entregue no dia 8 de setembro, por ele, 2 líderes
dos caminhoneiros e 2 líderes dos produtores de soja e que, segundo ele, caso
as reivindicações não sejam atendidas no prazo, “o
país vai parar. Norte
a Sul, Leste a Oeste. Os plantadores de soja vão pôr as colheitadeiras nas
estradas, ninguém pode andar, nem carro particular, nem ônibus. Todos estão
sendo avisados. Ônibus que vier com passageiro vai ter que voltar para
trás. Só vai ter ambulância, polícia, bombeiro, uma emergência. Não é um
pedido, é uma ordem. É assim que eu vou falar com o presidente do Senado.
O documento que entregará será uma intimação. É como um oficial de Justiça”.
Sobre a participação dos caminhoneiros, líderes da
categoria já afirmaram que a classe rejeita a convocação de
manifestações feitas pelo cantor.
Por certo, diante da volta à realidade mental, o
cantor agora reconhece que não teria dito o que disse, mas apenas sugerido
estudos, o que não é verdade, à vista de vastas, fortes, truculentas, incisivas
e cristalinas declarações ameaçadoras à estabilidade democrática dadas à opinião
pública, embora isso só demonstre que a sua iniciativa fazia parte de impulso impensado,
talvez apenas com o intuito de ser agradável à causa que até pode ser desejável,
mas que precisa ser atingível pelos meios normais da inteligência democrática,
que se impõe acima de tudo o diálogo, a tolerância, o respeito aos princípios
jurídicos, constitucionais e, em especial, civilizatórios, posto que costumam
assim procederem as nações sérias e evoluídas, em termos políticos e
democráticos.
O cantor disse, depois do despertar da assombrosa catalepsia
que pode ter sido acometido, que “Isso me entristece muito. Minha vida foi
sempre regida pelo povo. Eu sou o que eu tenho, o povo é que me deu, com
carinho e respeito. Eu procurei devolver isso”, como dando a entender que
ele, agora, passe de vilão à vítima das próprias iniciativas e ideias
estapafúrdias.
Vejam-se, a santa ingenuidade contida na declaração
da mulher do artista, que disse, em tom de tentativa para justificativa dele
nesse lamentável affaire, que “Ele está muito triste e depressivo porque foi
mal interpretado. Ele quer apenas ajudar a população. Está magoado demais. O
Sérgio foi induzido por pessoas que dizem estar em um movimento tranquilo. No
fim, todo mundo vaza (desaparece), e sobra para ele, que é uma
celebridade. Ele é querido e amado pelo Brasil inteiro, de direita, de
esquerda”.
Ela declarou que a péssima repercussão dos áudios
estaria fazendo com que ele “caísse na real” sobre o resultado de
participar diretamente de movimentos, como o do 7 de Setembro, tendo ela afirmado
que “Ele falou no impulso, mas estava conversando com um amigo”.
Depois das iniciativas que agora se mostram que
foram impensadas e completamente indevidas, diante do momento de real gravidade
institucional, as declarações do artista estariam inseridas em contexto que
certamente poderiam contribuir para maior desastre ainda, tendo em vista o anúncio
de medidas capazes de propiciar estrondos revolucionários, a ponto de
comprometerem as estruturas dos alicerces da República, sob ameaças de que “Se em 30 dias não tirarem os caras nós vamos
invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra. Pronto. É assim que vai ser. E
a coisa tá séria”, dando a impressão de que seria decretado o estado de
verdadeira selvageria no reino do monstruoso leão que falava séria, mas que, de
repente, se tornou o gatinho, entristecido por ter sido apenas “mal
interpretado”, dando a entender que muitos brasileiros são ingênuos e
palhaços.
Depois das desastrosas declarações e afirmações protagonizadas
pelo artista, visivelmente fundadas em ímpetos extremamente irracionais, mirabolantes
e fora da realidade, ele vem a público na tentativa de justificar o
injustificável, no sentido de que teria sido, pasmem, apenas mal interpretado.
As declarações do cantor, à toda evidência, dispensam
qualquer esforço de interpretação para se enxergar a intenção absurda das insanidades
nelas contidas, por estarem em total dissonância com os princípios civilizatórios
e democráticos, mas mesmo assim elas foram ouvidas, aplainadas e acolhidas, de bom
grado, evidentemente por satisfazerem os seus propósitos políticos, pelo
presidente do país e por toda a sua corte, achando que se tratava de plano especial
de estratégia nacional, para a salvação da República.
Na realidade, nunca se viu nada mais
despropositado, trágico e preocupante, em forma de ação estratégica para se
tentar recolocar a nave do Estado nos trilhos, depois que a sua condução não
poderia ter sido a mais desastrosa possível, sob o comando de verdadeiros
cabeças de vento, à vista da aceitação de ideias as mais estrambóticas
imagináveis.
É evidente que o ensaio de ideias malucas,
contrárias à razão e aos interesses democráticos, precisam sim ser levadas na
devida conta, mas como verdadeiro alerta, no sentido de as autoridades da República
precisam pensar, com urgência, em iniciativas capazes de contribuir para o
equacionamento dos problemas nacionais, a serem analisados, avaliados, estudados
e solucionados, com pensamento com exclusividade no Brasil, tendo em conta a padronização
dos elevados princípios do diálogo, da tolerância, da sensatez, da conciliação,
da humildade e sobretudo do interesse nacional, com embargo de propostas
oportunistas e dissonantes da realidade brasileira, que não tem mais espaços
para absurdas e malucas aventuras.
Brasília,
em 17 de agosto de 2021
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