Após
a prisão de aliado político, por ordem de ministro do Supremo Tribunal Federal,
o presidente da República voltou a fazer ataques aos ministros dessa Corte, em publicação
em rede social, tendo afirmado que vai apresentar, ao Senado Federal, pedido
para a abertura de processos contra o mencionado magistrado e também o presidente
do Tribunal Superior Eleitoral, este por conta da rixa sobre o voto impresso.
Na
publicação, o presidente do país, como de costume, volta a subir o tom, de
incontida irracionalidade, e fazer ameaças de "ruptura institucional".
O
presidente brasileiro afirmou que "De há muito, os ministros Alexandre
de Moraes e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, extrapolam com
atos os limites constitucionais. Na próxima semana, levarei ao presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco, um pedido para que instaure um processo sobre ambos,
de acordo com o art. 52 da Constituição Federal".
O
aludido dispositivo prevê que cabe ao Senado julgar crimes de responsabilidade
de ministros do Supremo, o que poderia implicar na possível perda dos seus
cargos.
Até
o momento, desde a promulgação da Constituição, o citado dispositivo nunca foi
acionado nem usado pelo Senado.
Em
prosseguimento, o presidente do país disse que "O povo brasileiro não
aceitará passivamente que direitos e garantias fundamentais (art. 5º da CF),
como o da liberdade de expressão, continuem a ser violados e punidos com
prisões arbitrárias, justamente por quem deveria defendê-los".
A
prisão em apreço foi ordenada sob suspeita de dez crimes, após pedido formulado
pela Polícia Federal, que detectou a atuação do ex-deputado em ataques e
ameaças às instituições democráticas.
Já
os atritos do presidente do país com o presidente do TSE se devem à defesa que este
vem fazendo acerca da lisura das urnas eletrônicas e às críticas à votação da
PEC do voto impresso, que terminou sendo rejeitada pela Câmara dos Deputados e
o mandatário teve que engolir a seco a clamorosa derrota.
Desde
logo, é preciso ficar bem cristalino de que a prisão de cidadão da sociedade civil
é questão que se cinge apenas entre a Justiça e a pessoa diretamente envolvida
com os seus atos questionados nas investigações, ou seja, para qualquer entendedor
mediano, trata-se de questão estritamente particular, que devem ser tratadas
exclusivamente entre ambos as partes, sem nenhuma interferência do Estado.
Na
forma da Constituição Federal, o presidente da República tem o dever primacial
de cuidar e defender exclusivamente as questões relacionadas com os interesses
nacionais, ou seja, nos limites das suas funções, ele somente tem competência privativa
para diligenciar em torno dos assuntos afetos à administração do Brasil, não
lhe sendo facultado o direito de tomar as dores de entes particulares, mesmo
que se trate de pessoa da sua afinidade pessoal, que parece ser o caso, mas
isso se encontra completamente fora da sua jurisdição, como homem público que é
e esse princípio precisa ser respeitado, à luz da imperiosidade constitucional.
Por
força desse rudimentar entendimento, fica a evidência lógica de que falece
competência institucional para o presidente da República se imiscuir em assuntos
estranhos aos interesses do Estado, como é o caso de que trata a questão de
contorno muito mais paroquiana, ou seja, entre o cidadão e o Poder Judiciário,
por decorrência de suspeita de crime contra a ordem pública, por conta de ataques
e ameaças às instituições democráticas, à vista do que foi investigado.
Em
termos jurídicos, a atitude do presidente do país, se realmente ele liderar
pedido de sanção a ministros do Supremo, para o fim da perda dos respectivos cargos,
ele poderá incorrer em crime de responsabilidade, caso o Ministério Público
assim entender, eis que ele não tem competência constitucional para se
apresentar como defensor de interesse estranho ao Estado, porque isso pode caracterizar
evidente abuso de autoridade, em defesa de causa estranha ao seu dever de agir.
Por
seu turno, ao demonstrar vivo interesse em defender causa que não diz respeito
ao Estrado, o presidente do país se expõe ao ridículo de ser interpretado muito
mais como vingativo em ato de notória retaliação contra os ministros com quem ele
mantém acirrada disputa de autoridade, à vista de visíveis querelas existentes
entre eles, com o aproveitamento de situação distanciada da sua competência
funcional, talvez com o propósito de também continuar aparecendo, com destaque, na mídia,
que tem sido um de seus fortes hábitos, no cargo.
Além
disso, fica muito evidente que o presidente do país se preocupa bastante com situação
de seu aliado político, mas se deixa permitir que as questões do Estado se
potencializem em fortes crises e continuem a arder em chamas por todos os lados,
enquanto para elas ele não dispõe de necessários disposição e tempo, porquanto
ele nada contribui em interesse na real condução das medidas indispensáveis aos
seus equacionamento e saneamento, em se tratando mais especificamente nos potenciais
e notórios casos realmente da sua competência institucional.
Há a esperança de que a prisão desse político sirva
de lição positiva para que sejam definitivamente desestimulados outros
idealistas com o mesmo sentimento, extremistas como ele, que atacam a
democracia, sem o menor escrúpulo, como ele vinha fazendo livremente e, o pior,
imaginando erroneamente que isso poderia ser realizado sob a guarida da sublime
liberdade de expressão, como ingenuamente assim foi defendido pelo presidente
do país, que deveria ter evitado se associar à aquiescência de atos contrários
à estabilidade das instituições democráticas, como assim foi enquadrado o caso
do cidadão preso.
Por se tratar da autoridade do seu quilate, o
presidente do país não poderia, em hipótese alguma, demonstrar apoio a quem
propaga intransigentemente o fechamento de instituições democráticas, porque
isso caracteriza ato de cumplicidade, tendo em vista que, no regime
democrático, o bom senso e a racionalidade aconselham a via igualmente democrática
para o debate das questões, inclusive, se for o caso, das demandas cabíveis
para a tentativa da tratativa na busca da pacificação dos entendimentos sobre
questões antagônicas, que parecem ser o caso, mas jamais sob uso de ataques e
ameaças de violência contra pessoas e instituições democráticas.
Não se quer dizer com isso que se pretende defender
as decisões do Supremo, que é órgão que precisa sim cumprir o seu papel de
guardião da Constituição, mas é preciso que os cidadãos mais afoitos sejam
devidamente intimidados quanto aos seus ímpetos e vontades de disseminação do
caos contra a democracia, o que vale dizer que as pessoas que tentarem afrontar
as leis do país e incitarem à desordem cívica precisam responder por seus atos,
prestando contas perante a Justiça, como forma de se buscar a paz e a
tranquilidade da nação.
Na verdade, ao defender os atos nada republicanos de aliado, com a adoção
de sanção por meio do impeachment de ministros, o presidente do país se mostra
um tanto quanto incoerente, porque ele pedindo a abertura de processo nesse
sentido, é como ele se sentasse na própria extensão do corpo (para não dizer o
dito popular), quando se sabe que o dispositivo por ele invocado, o artigo 52
da Constituição, prevê a abertura também de impeachment contra o presidente da
República, ex-vi do seu inciso I, à vista da existência de mais de 130 pedidos engavetados
na Câmara dos Deputados, acenando para o afastamento dele do cargo, por motivos
que certamente caracterizam crimes de responsabilidade atribuídos à gestão do
governo dele.
Nesse caso, o presidente do país poderia sim ir ao Senado, para pedir o
afastamento de ministros do Supremo, mas seria de bom alvitre que ele maturasse
esse relevante assunto e, por eficiência da sua iniciativa, aproveitasse o seu
périplo para passar na Câmara Baixa, para aconselhar que seus pedidos de impeachment
também sejam implementados, diante da necessidade de coerência de atitude.
Em demonstração da transparência e da coerência de procedimentos, com os
pedidos de impeachment tanto de ministros do Supremo como o do próprio cargo, o
presidente da República se permite que sejam avaliados se seus atos, no cargo,
estejam absolutamente revestidos da legalidade, evidentemente com vistas a
afastar a ideia de haver, na sua gestão, a prática de crimes de
responsabilidade, posto que os pedidos tratam exatamente no sentido de que as investigações
pertinentes esclareçam esses fatos que inquietam a sociedade.
Enfim, as pessoas, inclusive o presidente do país, precisam
compreender que o radicalismo, o desrespeito e a incitação à desordem pública não
se coadunam com o verdadeiro estado da pureza de que trata a liberdade de
expressão, que tem no seu âmago a singeleza do engrandecimento dos princípios
humanitários, tendo em vista que as agressões verbais diferenciam bastante
disso, porque a sua índole é a de se contrapor aos interesses da normalidade
democrática da expressão livre e construtiva, sem o desejo da retirada dos direitos
fundamentais da população de puder expressar seus sentimentos, podendo fazê-los
sem agressão contra ninguém, porque isso não condiz, em absoluto, com o
verdadeiro sentido de liberdade para se produzir o mal.
Para o bem do Brasil e dos brasileiros, é preciso sim
que seja repudiado qualquer sentimento que contrarie a verdadeira liberdade de
expressão, não se permitindo o compartilhamento de ideias estapafúrdias de
violência e agressão a quem quer que seja, como forma inteligente de se evitar
o tensionamento da ordem pública e do ambiente político-administrativo do país,
porque isso somente contribui para o estímulo de movimentos racistas, homofóbicos,
misóginos, entre outros similares, que são símbolos que precisam ser enfraquecidos
no seio da sociedade, para ao seu próprio bem.
É preciso se compreender que não se pode mais
conceder espaço para grupos de pessoas com ideologia com tendência de incivilidade,
com pensamento enviesado da normalidade democrática, imaginando que podem fazer
bagunça contra as autoridades e as instituições do país, logo sobre sob a proteção
de um dos mais sagrados princípios concedidos ao homem, que é a liberdade de expressão,
que precisa ser respeitada e venerada pela real importância dela para a
garantia dos direitos humanos, no sentido se puder dizer e afirmar tudo sobre verdadeiramente
construtivo para o engrandecimento das relações sociais.
Convém
que o presidente da República se conscientize sobre as reais prioridades de seu
governo, em especial quanto aos cuidados e ao saneamento das crises política,
administrativa, econômica, de saúde pública, democrática, entre outras que
estão a exigir o máximo da sua atenção, à vista de serem assuntos compreendidos
nas suas prioridades privativas de competência e responsabilidade.
Brasília,
em 15 de agosto de 2021
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