Um bispo da Igreja Católica fez verdadeiro pregação, em forma de comício político, na sua igreja, para enaltecer o momento de real gravidade por que atravessa o Brasil, tendo ele se expressado com as muitas verdades dele, mas ficou a desejar quanto à precisa avaliação sobre os fatos causadores do que ele classifica de perseguição à liberdade de expressão.
É
preciso que se diga que nem se discorda de tudo nem se concorda com tudo que o
religioso afirma, porque ele foi bem incisivo e genérico naquilo que acha ser
mais justo e humano, mas parece que ele também poderia ter analisado um pouco
sobre o que as pessoas consideradas perseguidas disseram, de maneira ofensiva,
contra instituições e autoridades da República.
Não
se pretende justificar ou condenar quem quer que seja, mas parece muito injusto
somente se tomar posição de um lado, por terminar condenando o outro lado, como
se realmente houvesse os santinhos e o diabo, que este estivesse soltou de vez
e o bispo precisasse interferir para se apaziguar os ânimos e pôr paz no reino
terrestre.
O
bispo pediu a atenção das suas ovelhas para demonstrar as suas preocupação e
insatisfação quanto aos fatos que ele julga que são de muitas dificuldades, em
escalada de autoritarismo a comprometer a segurança jurídica, a suprirem os
direitos e as liberdades individuais, a submeter a perseguição e opressão às
pessoas, à imprensa e aos meios de comunicação, com o propósito do impedimento
de manifestação e da liberdade de opiniões, a calarem as nossas vozes, entre
outros cerceamentos às atividades democráticas.
Senhor
respeitável bispo, até pode ser possível que toda a sua preocupação seja
verdadeira, mas também é muito provável que nada do que foi disseminado no seu
discurso-pregação tenha alguma validade, a depender da melhor avaliação sobre
os fatos circunstanciados ao caso suscitado, tendo em conta completa análise sobre
eles, conforme a amostragem a seguir.
Um
cantor sertanejo recém disse em vídeo, em tom ameaçador para o presidente do
Senado Federal, que “Nós vamos parar 72 horas. Se não fizer nada, nas
próximas 72 horas, ninguém andar no País, não vai ter nem caminhão para trazer
feijão para vocês aqui dentro. Nada vai ser igual, nunca foi igual ao
que vai acontecer em 7, 8, 9 e 10 de setembro, e se eles não obedecerem a nosso
pedido, eles vão ver como a cobra vai fumar, e ai do caminhoneiro que furar
esse bloqueio.”.
A
ameaça foi tão forte e com muita clareza que o cantor afirmou o que seria
feito, ipsis litteris: “Se em 30 dias não tirarem os caras nós vamos invadir,
quebrar tudo e tirar os caras na marra (os ministros do Supremo).
Pronto. É assim que vai ser. E a coisa tá séria”.
Ele
garantiu que o ultimato será entregue (ao presidente do Senado) no dia 8 de
setembro e, segundo ele, caso as reivindicações não sejam atendidas no prazo, “o país vai parar. Norte a Sul, Leste a Oeste. Os
plantadores de soja vão pôr as colheitadeiras nas estradas, ninguém pode andar,
nem carro particular, nem ônibus. Todos estão sendo avisados. Ônibus que
vier com passageiro vai ter que voltar para trás. Só vai ter ambulância,
polícia, bombeiro, uma emergência. Não é um pedido, é uma ordem. É assim que eu
vou falar com o presidente do Senado. O documento que entregará
será uma intimação. É como um oficial de Justiça”.
À
toda evidência, essa não é maneira civilizada e democrática cabível em liberdade
expressão decente de país respeitável e sério, por mais boa vontade que se tenha,
por não de admitir, no Estado Democrático de Direito, que alguém diga que “...nós vamos
invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra (os ministros do
Supremo). Pronto. É assim que vai ser. E a coisa tá séria”. “...
e se eles não obedecerem a nosso pedido, eles vão ver como a cobra vai fumar...”. “Não é um pedido, é uma ordem. É assim
que eu vou falar com o presidente do Senado. O documento que
entregará será uma intimação. É como um oficial de Justiça”.
Nunca
se viu tamanha loucura, truculência e irracionalidade em nome, pasmem, da liberdade
de expressão, e ainda tem um bando de brasileiros imbecis e ignorantes que ainda
fica aplaudindo essa insanidade, em clara demonstração de apoio à vontade do
presidente do país, que, se tivesse um pingo de sensatez, teria imediatamente
repudiado tal atitude, em nome da integridade nacional.
Em
lugar nenhum do mundo, esses termos rudes, grosseiros e desrespeitosos podem se
enquadrar no sentido clássico de liberdade de expressão, porque há nisso
ameaças e promessas de violência às autoridades e instituições da República ou
será que as pessoas que fazem impensadas críticas entendem diferentemente, como
sendo normal, em regime democrático se promover movimento de protesto, como o
prometido para o próximo dia 7 de setembro, com o propósito programado e anunciado
para a destruição, a invasão e a barbárie, em nome de apoio ao presidente da
República, que concorda com a mais vil forma de esculhambação das instituições democráticas?
Já outro militante apoiador
ultraextremista do presidente do país, que se encontra preso, tem tido
comportamento nada exemplar, ao fazer apologia ao crime ou ao criminoso, à
associação criminosa e à denunciação caluniosa.
No ato da prisão dele, consta que o ministro disse que ela é
necessária para garantir a ordem pública e o adequado andamento da investigação
devido aos "fortes indícios de materialidade e autoria" de
crimes previstos no Código Penal, como calúnia, difamação, injúria, incitação
ao crime, apologia ao crime ou criminoso, associação criminosa e denunciação
caluniosa.
O ministro cita ainda possíveis delitos previstos na Lei de
Segurança Nacional, como "tentar mudar, com emprego de violência ou
grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito", e também
o potencial desrespeito à lei que prevê crimes de preconceito e racismo, como o
ato de "praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional".
Um advogado criminalista declarou que "As afirmações do
Roberto Jefferson são horríveis, repugnantes, irresponsáveis e inadmissíveis,
mas o devido processo legal tem que valer para todos, culpados ou inocentes,
amigos ou inimigos. Senão, será a força bruta".
Um professor de direito penal da FGV considera que, ainda que a
fundamentação da prisão preventiva tenha sido limitada, há elementos
suficientes na decisão para justificar a detenção.
Ele disse que "Fundamento (para prendê-lo) há sim. Os
fatos mostram indícios mais do que suficientes de crimes graves. Penso que o
porquê de prender preventivamente deveria ter sido mais explicitado:
concretamente, qual o risco de mantê-lo em liberdade? Mas, como um todo, a
decisão para em pé".
O mesmo professor considera legal a prisão em tela, por entender
que a sua causa foi a prática de condutas contra o STF.
Esse é outro gravíssimo incidente que foge da intimidade do
princípio insculpido na liberdade de expressão, já passando para as raias da
criminalidade, mas os eternos apoiadores do mandatário brasileiro entendem que
o Supremo foi muito além do razoável, posto que o militante preso somente teria
dito o que todos gostariam de expressar com relação à corte, que até pode ser
sentimento de muitos, em termos de vontade de agredir à corte, mas é preciso
respeitar a dignidade das autoridades e das instituições.
Enquanto alguns criticam as decisões do Supremo, outros entendem
que elas estão dentro da normalidade, tendo em vista o ferimento da legislação penal,
que a sociedade condena, em muitos casos, possivelmente por desconhecimento dos
meandros dos fatos existentes.
Embora muitos critiquem a atuação do Supremo, inclusive em
especial o presidente da República, a avaliação do próprio Supremo é que ele
pode abrir inquérito quando ataques criminosos são cometidos contra a própria
Corte e seus membros, representando ameaças contra os poderes instituídos, o
Estado de Direito e a democracia.
Agora, as situações bem mais graves ficam por conta o presidente da
República, que a todo instante fica atacando ministros do Supremo e a própria
corte, em claro desrespeito à instituição da República e isso precisaria ser
evitado, diante da desmoralização do próprio mandatário, que poderia se
preservar como a principal autoridade do país.
Não obstante, o presidente do país, sentindo-se cercado pelas ações do
Supremo, tenta reagir com ameaça de fazer uso de medidas fora dos limites da
Constituição, em especial após se tornar alvo de inquérito na corte, que
investiga seus ataques ao sistema eleitoral.
Dessa forma, depois de tanto depreciar e agredir a imagem de ministros e
do próprio Supremo, o presidente da corte se manifestou, recentemente, dizendo
que “O Supremo Tribunal Federal ressalta que a liberdade de expressão,
assegurada pela Constituição a qualquer brasileiro, deve conviver com o
respeito às instituições e à honra de seus integrantes, como decorrência
imediata da harmonia e da independência entre os Poderes. O STF rejeita
posicionamentos que extrapolam a crítica construtiva e questionam indevidamente
a idoneidade das juízas e dos juízes da Corte”.
Ou seja, o salutar princípio da liberdade de expressão precisa ser
valorizado, não sendo permitido nem possível que alguém imagina escudado nele
para detonar a imagem de pessoas, autoridades e instituições, exatamente porque
a sua finalidade não tem nada a ver com prática de crime contra ninguém, mas
sim para resguardar o verdadeiro direito de se expressar por boas e saudáveis causas,
sem nada com achar que dizer além da verdade pode ficar a salvo, sem ser punido,
porque isso não existe em lugar do mundo, nem mesmo nas melhores democracias,
porque lá também é imperioso o respeito à imagem das pessoas e das instituições.
Enfim, no Estado Democrático de Direito, prevalente no Brasil, quem entender
que algum ato ou decisão tenha ferido seus direitos de cidadão, pode e deve
perfeitamente impetrar o devido recurso, onde for cabível, podendo ser no
Supremo, caso a decisão a ser impugnada tenha sido deliberada por ele.
No documento, devem constar a motivação e a fundamentação do pleito,
observada a regra fundamental da liberdade de expressão, o que vale dizer em
termos exprimindo apenas o objeto da insatisfação e da vontade da mudança do
ato feridor de direitos, evidentemente sem ofensas ou agressão, porque isso faz
parte do respeito e da responsabilidade que precisam imperar no seio da
sociedade séria, evoluída e civilizada.
Quando as pessoas ou a sociedade
demonstram seus sentimentos ou anseios por meio de agressividade, em
afastamento do diálogo e o entendimento, fica muito claro que não se tem
conversa para a resolução dos problemas, como é o caso do atual governo, que procurou
dificultar ao máximo a aproximação com o Supremo.
Esse clima de animosidade somente contribui para dificultar e até
impedir a compreensão e a solução das questões nacionais, como se os poderes
fossem de países diferentes, que tivessem a obrigação de cuidar cada qual de interesses
distintos.
Com essa mesma mentalidade, parece ser a de muitos brasileiros que
apenas tomam partido por umas das partes, sem ao menos sopesarem os fatos no
seu verdadeiro contexto, como parece que é o caso de muita gente que prefere descer
o malho no Supremo, sem também sequer tentar imaginar que quem critica com
agressão tem o direito de recorrer dos atos praticados por ele, de modo a puder
mostrar que a corte ofende os interesses da sociedade, mas em exposição civilizada,
em nível de respeito como manda o figurino elogiável pelo manual da liberdade
de expressão.
Acredita-se que, se o presidente do país tivesse recorrido religiosamente
das decisões do Supremo, nas quais ele ou o Executivo tenham se sentidos
prejudicados ou com interesses contrariados, fazendo o uso do salutar caminho
da velha diplomacia da administração pública, certamente que o caos criado por
ele jamais teria se estabelecido na República.
Com o detalhe de que, se assim tivesse sido, não seria possível a realização
do plano estrategicamente delineado para que se chegasse a essa lamentável situação
de calamidade pública que se encontra o país, no presente momento, onde há
fortes sinais de ruptura institucional, justamente em razão da falta de diálogo
entre os poderes da República.
Penso que a própria liberdade de expressão que o bispo fez uso dela
serviu para ele criticar “um certo tribunal”, sem ser importunado, mostrando
claramente que a crise motivo da preocupação dele somente existe para aqueles
que extrapolam os limites do figurino da liberdade de expressão, a exemplo dos
casos supracitados, porque essa liberdade também tem regra de mútuo respeito e
tolerância, que precisa ser observada para o bem dos brasileiros.
A propósito, não se tem conhecimento de
nenhum caso em que as preocupações do bispo tenham sido postas em prática, como
a escalada
de autoritarismo a comprometer a segurança jurídica, a suprirem os direitos e
as liberdades individuais, a submeter a perseguição e opressão às pessoas, à
imprensa e aos meios de comunicação, com o propósito do impedimento de manifestação
e da liberdade de opiniões, contra os cidadãos respeitadores da dignidade da
cidadania da imagem das instituições da República.
Ou
seja, não há qualquer ameaça, a quem quer que seja, que respeito rigorosamente os
limites da liberdade de expressão, de fazer o que bem entender, o que vale
dizer que as pessoas que acompanham a mentalidade do bispo precisam ter a
humildade de enxergar os fatos exatamente como eles são, tendo em conta todos
os componentes, inclusive o que os trogloditas fazem, indevidamente em nome
daquele valioso princípio, para a precisa avaliação sobre a crise do momento,
que teria sido criada, em obediente estratégia, precisamente para satisfazer
interesses pessoais, em claro detrimento das causas nacionais.
Sim,
é preciso que sejam condenados os abusos, tanto do Supremo como de quem tenta corrigi-lo,
só que por meios não muito adequados, à luz dos princípios civilizatórios,
quando as agressões com palavras duras e depreciativas também são formas antidemocráticas
e contrárias ao entendimento, à normalização e à conciliação, que se imagina
que seria o ideal para que a sociedade vida em paz.
Como
entender que a maldade somente vem do Supremo, se muitos casos, como aqueles
elencados acima e tantos outros destoam do alinhamento desejável de boa conduta
e respeito às autoridades e instituições da República?
Não
estariam faltando o bom senso, a sensibilidade e o sentimento humano, no
sentido de se entender que os maus-tratos vindos de quem agride com palavras grosseiras
poderiam ser transformados em discursos de alto nível e muito mais concernentes
com os fins de reprovação e contestação dos abusos, mas com viés inteligente e
pedagógico, mostrando, de forma respeitosa, o inconformismo de decisões e posições
do Supremo com os princípios humanitários e, enfim, qual a dificuldade para se
compreender que hábitos civilizatórios de cidadania são muito mais produtivos à
sociedade e aos costumes do que a agressão vazia com o cunho somente pejorativo
e desrespeitoso, que normalmente contribuem para potencializar a crise?
Com
isso, se pode afirmar que nada impede que se reclame do que está errado, inclusive
das absurdas e até inconstitucionais decisões, muitas das quais monocráticas, proferidas
pela Suprema Corte, desde que formuladas nos limites e na forma do respeito à
dignidade da sua autoridade como poder da República que representa e precisa assim
ser acatado, não se permitindo que seja ultrajada a sua dignidade, à vista da
reciprocidade defluída do sagrado e verdadeiro princípio da liberdade de
expressão, que não pode dar guarida a abusos do comportamento humano.
Urge
que os brasileiros se conscientizem de que quem está em crise é o Brasil, que
precisa ser cuidado com muito carinho por casa um nós, com o melhor de nossas atenções,
independentemente de ideologias, não esquecendo de que a luta por nossos direitos
se impõe com o fervor de brasilidade e de respeito aos princípios da verdade e da
liberdade de expressão como tal esta precisa existir, sem conotação com sentimentos
de agressividade nem violência.
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