O processo alusivo às apurações de que trata a Operação
Porto Seguro, envolvendo vários servidores públicos de alto escalão da
República, inclusive a ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, está
tramitando muito mais célere do que o normal para casos que tais. Por último, a
Procuradoria Geral da República apresentou denúncia à Justiça sobre a
quadrilha, inclusive a aludida ex-chefe de gabinete, que foi incursa em quatro
crimes. Tudo isso constitui matéria mais do suficiente para que a oposição e os
parlamentares de caráter e comprometidos com a transparência e a legitimidade
dos atos da administração pública se encorajem no sentido da instalação de
Comissão Parlamentar de Inquérito, para investigar as denúncias em comento,
tendo em conta que as narrações mencionam a possível participação nas
falcatruas do ex-presidente da República petista e seu chefe da Casa Civil,
como autoridades de contato, para solucionar as pendências do esquema criminoso.
Na denúncia do órgão ministerial, fica clara a caracterização das práticas
reiteradas dos crimes de tráfico de influência e de corrupção, pela troca de
favores entre a ex-chefe de gabinete e os irmãos diretores de agências de
regulação e fiscalização, que serviam para mediar a prestação de serviços
públicos privatizados, sendo transformadas em balcão de negócios da quadrilha,
que tinha como única finalidade “viabilizar
o atendimento de seus interesses, nitidamente econômicos”, a teor da
denúncia do Ministério Público. A protegida do ex-presidente da República
petista terminou sendo enquadrada duas vezes por falsidade ideológica, tráfico
de influência, corrupção passiva e formação de quadrilha, caracterizando a sua verdadeira
personalidade criminosa. Não deixa de ser impressionante
a forma pela qual a crise deflagrada com a Operação Porto Seguro não consiga
atingir a pouca sensibilidade do mais importante político brasileiro, que, mesmo
diante de inúmeras citações envolvendo a sua pessoa, prefere se passar de mouco
e qualificar o fato como assunto particular, como se toda sujeira não dissesse
respeito à sua reputação como homem público. Aos brasileiros, que o colocaram
na Presidência da República, não foi prestada a devida justificativa, como
forma de corresponder à obrigação natural por parte de quem foi tratado com absoluta
civilidade, embora não tenha a dignidade de esclarecer nem minimamente o seu
envolvimento com o affaire. Com
certeza, ante a gravidade dos fatos cristalinamente respaldados pelo
ex-presidente, seu silêncio proposital o condena perante as pessoas que não têm
vinculação com as falcatruas, inverdades, mentiras e desonestidades. Pobres brasileiros,
que não conseguem perceber a índole má e devastadora dos seus líderes, que,
mesmo malévolos aos interesses do país, são idolatrados e endeusados como se
eles fossem os salvadores da pátria, quando os fatos estão mostrando a perversidade
e promiscuidade com a gestão de recursos públicos, mediante a formação de seguidas
quadrilhas para viabilizar seus interesses econômicos. A sociedade anseia por
que a nação seja administrada por homens de conduta ilibada, com comprovação de
probidade, eficiência e competência, em estrita observância aos princípios
democráticos da ética, legalidade, moralidade e transparência. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de dezembro de 2012
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