domingo, 16 de dezembro de 2012

Basta de idolatria à hipocrisia

O processo alusivo às apurações de que trata a Operação Porto Seguro, envolvendo vários servidores públicos de alto escalão da República, inclusive a ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, está tramitando muito mais célere do que o normal para casos que tais. Por último, a Procuradoria Geral da República apresentou denúncia à Justiça sobre a quadrilha, inclusive a aludida ex-chefe de gabinete, que foi incursa em quatro crimes. Tudo isso constitui matéria mais do suficiente para que a oposição e os parlamentares de caráter e comprometidos com a transparência e a legitimidade dos atos da administração pública se encorajem no sentido da instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito, para investigar as denúncias em comento, tendo em conta que as narrações mencionam a possível participação nas falcatruas do ex-presidente da República petista e seu chefe da Casa Civil, como autoridades de contato, para solucionar as pendências do esquema criminoso. Na denúncia do órgão ministerial, fica clara a caracterização das práticas reiteradas dos crimes de tráfico de influência e de corrupção, pela troca de favores entre a ex-chefe de gabinete e os irmãos diretores de agências de regulação e fiscalização, que serviam para mediar a prestação de serviços públicos privatizados, sendo transformadas em balcão de negócios da quadrilha, que tinha como única finalidade “viabilizar o atendimento de seus interesses, nitidamente econômicos”, a teor da denúncia do Ministério Público. A protegida do ex-presidente da República petista terminou sendo enquadrada duas vezes por falsidade ideológica, tráfico de influência, corrupção passiva e formação de quadrilha, caracterizando a sua verdadeira personalidade criminosa. Não deixa de ser impressionante a forma pela qual a crise deflagrada com a Operação Porto Seguro não consiga atingir a pouca sensibilidade do mais importante político brasileiro, que, mesmo diante de inúmeras citações envolvendo a sua pessoa, prefere se passar de mouco e qualificar o fato como assunto particular, como se toda sujeira não dissesse respeito à sua reputação como homem público. Aos brasileiros, que o colocaram na Presidência da República, não foi prestada a devida justificativa, como forma de corresponder à obrigação natural por parte de quem foi tratado com absoluta civilidade, embora não tenha a dignidade de esclarecer nem minimamente o seu envolvimento com o affaire. Com certeza, ante a gravidade dos fatos cristalinamente respaldados pelo ex-presidente, seu silêncio proposital o condena perante as pessoas que não têm vinculação com as falcatruas, inverdades, mentiras e desonestidades. Pobres brasileiros, que não conseguem perceber a índole má e devastadora dos seus líderes, que, mesmo malévolos aos interesses do país, são idolatrados e endeusados como se eles fossem os salvadores da pátria, quando os fatos estão mostrando a perversidade e promiscuidade com a gestão de recursos públicos, mediante a formação de seguidas quadrilhas para viabilizar seus interesses econômicos. A sociedade anseia por que a nação seja administrada por homens de conduta ilibada, com comprovação de probidade, eficiência e competência, em estrita observância aos princípios democráticos da ética, legalidade, moralidade e transparência. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 15 de dezembro de 2012

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