sábado, 29 de dezembro de 2012

Desmoralização do Parlamento

Em harmonia com as afamadas ineficiência e inoperância do Poder Legislativo e no embalo de sonoros protestos generalizados e exaltados, a CPI do Cachoeira encerrou seus trabalhos, após oito meses de inúteis e improdutivas investigações e muitas trapalhadas, sem qualquer conclusão e, consequentemente, sem o indiciamento de nenhum dos investigados. Ressalte-se que a única providência concreta do parecer aprovado, com apenas duas páginas, foi no sentido de encaminhar os resultados das apurações para a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, porquanto o relatório do relator petista, contendo absurdamente mais de cinco mil páginas, foi rejeitado, sendo derrubado por 18 votos a 16. No relatório, havia proposta ao Ministério Público para o indiciamento de 29 pessoas e a responsabilização de outras 12, por envolvimento criminoso com a quadrilha do contraventor que deu nome à CPI. Na realidade, a CPI foi instalada com o aval do ex-presidente da República petista, tendo por objetivo básico investigar o governador de Goiás, que o teria lembrado sobre a existência do escândalo do mensalão, cobrando-o a doção de medidas enérgicas, mas nada foi feito à época. Contudo, além da confirmação das irregularidades visadas, as investigações vislumbraram graves falcatruas envolvendo contratações do governo federal e dos governos do Rio de Janeiro e do Distrito Federal, principalmente com a participação de construtora responsável por obras do Programa Acelerado do Crescimento, com recursos da União. Diante da gravidade dos prejuízos constatados, a empresa não foi investigada, exatamente para não expor a fragilidade e incompetência do governo com mais um de tantos vergonhosos escândalos. O resultado dos trabalhos da CPI mostra de forma cristalina a ridícula situação de descrédito e de inutilidade do Congresso Nacional, que não tem a dignidade de cumprir com eficiência a sua competência constitucional, se curvando aos interesses governamentais, em indiscutível prejuízo aos interesses nacionais e evidente desmoralização de uma instituição de quem se espera dignidade, moralidade e produtividade, em virtude de seus membros serem eleitos em exaustivo processo eleitoral, para representar a sociedade, que dela desdenham, apesar dos altíssimos vencimentos, os maiores do mundo, percebidos à custa dos bestas dos contribuintes, que não têm a dignidade de se revoltar contra atos vis, em completo desprezo ao povo brasileiro. Além dos elevados custos inerentes ao tempo desperdiçado por dezenas de parlamentares e servidores, toneladas de papéis, tintas e outros materiais de escritório foram jogados na lata de lixo, diante de tamanha irresponsabilidade com o encerramento dos trabalhos sem qualquer conclusão. Num país civilizado, no mínimo, haveria responsabilização dos parlamentares que deram causa à farsa e à desmoralização do Congresso Nacional. A sociedade tem a obrigação de repudiar mais essa ruína da responsabilidade funcional dos congressistas, protagonizada por políticos inescrupulosos, sem compromisso com a eficiência e moralidade do Poder Legislativo. Acorda, Brasil!  
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 28 de dezembro de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário